quarta-feira, 14 de novembro de 2018

A Berroa da Torre Dona Chama

Um pouso digno e seguro para a berroa da Torre Dona Chama, Mirandela

Há monumentos por apresentarem alguma fragilidade e para se destacarem têm de ser expostos em segurança. Por exemplo, uma escultura frágil tem de ser protegida. Uma escultura em bronze assente no chão não choca. Se for em gesso, calcário, madeira e até granito tem de ser rodeada de cautelas. 
Há pouco mais de um ano, publiquei o livro, Mirandela Outros Falares, que teve como preocupação promover e divulgar a vila da Torre Dona Chama. Para tal, em texto e imagens foi dada muita atenção a esta vila, ao ponto de poder ser útil a trabalhos monográficos que venham a fazer-se na Torre. Mas, na contracapa do livro servi-me da informação fotográfica do fotógrafo, flamulense, Jorge Nozelos, em que retrata o pelourinho e a berroa ou porca. 
A belíssima e riquíssima imagem, que aqui se reproduz, mostra o pelourinho num pedestal de três degraus e a berroa ao nível dos paralelos. Vistos assim, a porca quase parece estar num local de armazenagem, por ali não haver espaço. Como sabe, o amigo leitor, espaço há em demasia, na Torre, para tão poucos moradores. Outros poderiam pensar que a porca está ali de castigo ou acabou de ser supliciada no pelourinho. Parece-me do senso comum dizer-se que ali os dois juntinhos «não diz a bota com a perdigota». Sendo assim, o aconselhável é que cada um tenha o seu espaço próprio e possa dialogar com quem o visitar, sem terem de se apoucar um ao outro. Apoucá-la ou tratá-la sem um mínimo de dignidade é a situação frágil em que está a antiquíssima estátua da berroa. Atrevo-me a dizer, sem receio de exageros, que a berroa da Torre é um dos monumentos escultóricos mais valiosos do concelho de Mirandela, pela sua força documental de uma escultura pré-cristã e pela sua antiguidade. Mas, digam o que disserem é uma figura granítica que tem as suas fragilidades. 
É inconcebível e envergonha-me como mirandelense que não se acautele e promova um valiosíssimo bem cultural. É urgente que se coloque num pedestal ou num megálito, que lhe dê segurança, num local digno e que não choque esteticamente com o pelourinho. Depois, o município de Mirandela e a junta de freguesia da Torre Dona Chama têm que divulgar mais este nosso bem cultural. É preciso rentabilizá-lo de várias maneiras. 
Se invocarem que não há dinheiro temos de fazer uma subscrição porta a porta. Ao mexerem na berroa não se esqueçam que é um bem frágil e têm de usar de grandes cuidados. Temos de ser dignos dos bens culturais e da memória que os nossos antepassados nos deixaram como a nossa maior herança.

Jorge Lage
in:atelier.arteazul.net

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