terça-feira, 13 de novembro de 2018

A INVENÇÃO DE TRÁS-OS-MONTES

Custa a acreditar mas é verdade: para os machuchos políticos Trás-os-Montes não existe. Não passa de uma invenção, que o mesmo é dizer de um mito, de uma fantasia, de uma lenda. É produto malsão de sentimentos e tradições cantadas e decantadas por poetas e emigrantes saudosistas transtornados pelo isolamento secular que preservou estranhos usos e costumes sustentáculos de uma fictícia identidade sem relevância nacional.

É por isso que Trás-os-Montes é sistematicamente tratado com mentiras e desdém.

Muitos transmontanos ainda acalentaram a esperança de que Trás-os-Montes, na proposta de regionalização que foi rejeitada no referendo de 1998, pudesse converter-se numa região administrativa. Foi toca donde não saiu lebre ou raposa, porém, pelo que a caça continua a monte.

Assim sendo, Trás-os-Montes é uma coutada livre, uma pobre província, berço do maior número de emigrantes do país e que mais sofre com o desgraçado despovoamento que afecta a maior parte do território nacional.

Uma província mal-amada, maltratada, abandonada, desprezada. Uma mãe que não merece os filhos que tem, (que me perdoem Torga e outros que tais e tão raros eles são), residentes ou ausentes, legítimos ou enteados. Principalmente os deputados, os autarcas e os muitos transmontanos ingratos que nos últimos anos tomaram poiso nos governos da Nação.

Uma pobre província, não uma província pobre, note-se bem, como melhor falam os seus vales e montanhas, os seus recursos humanos, hídricos, agrícolas, minerais e as suas potencialidades turísticas.

Tudo isto é revoltante mas é a triste verdade do presente. Quem não acreditar que leia o artigo intitulado “Se ainda não sabe onde fica o interior do país, nós dizemos-lhe”, que o jornal Expresso publicou na sua edição do dia 2/11/2018 que revela dados altamente significantes sobre o estado do país.

Ficará a saber, se ainda o não sabe, que em dois terços do território continental vivem apenas 20% (um quinto) dos habitantes do país. Esse é o tal “interior”. Território a mais, certamente, para os nossos sábios governantes que só se contentarão quando não houver gente a lá morar.

Dados elaborados pela Associação Nacional de Municípios e ratificados pelo Governo em 13 de julho de 2017, (continuo a citar o Jornal Expresso), quando ainda não tinha passado um mês sobre os incêndios dramáticos de Pedrógão e ninguém imaginava que a tragédia se haveria de repetir três meses mais tarde.

O mais chocante para os transmontanos, porém, será constatar que dos 1856 projetos de investimento aprovados para 159 concelhos do dito interior, apenas 142 projectos dizem respeito a Trás-os-Montes, orçando pouco mais de 190 milhões de euros, apenas 10% da verba destacada para o atrás citado interior que é de 1,9 mil milhões. A disparidade será, naturalmente, mais escandalosa ainda se compulsarmos este valor com o investimento público nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto.

De assinalar que, neste quadro, citando apenas os mais significativos, Bragança tem aprovados 35 projectos representando cerca de 72 milhões, o que é positivo, mas Chaves apenas 15, que recebem parcos 13 milhões, Vila Real 26 projectos com 10 milhões e Mirandela apenas 9 projectos cobertos pela módica quantia de 2,7 milhões, 27 vezes menos que Bragança, portanto.

Na cauda estão Vinhais com apenas 1 projecto que vale 201 mil euros, Boticas com 1 projecto também, que vale 19 mil euros e Freixo de Espada à Cinta com 1 projecto, também, valendo ridículos 10 mil euros. Alfândega da Fé e Vila Flor não têm projectos aprovados, vá-se lá saber porquê.

É este o Trás-os-Montes que os políticos patriotas que governam Portugal inventam a cada ano.

Não será que os deputados e autarcas transmontanos andam mansos demais?

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.



Henrique Pedro
in:jornalnordeste.com

2 comentários:

  1. Caro amigo concordo com a denúncia feita e é notória a razão que lhe assiste no comentário, mas discordo que esse problema tenha apenas razões de abandono pelos sucessivos governos.Há muita responsabilidade e culpa pela falta de reclamação e capacidade renvidicativa pelos edis e povo que governam , os mais audazes por necessidade fugiram e tratando-se de uma região pobre por ventura a mais pobre e atrasada do país sempre aqui se cantaram loas aos que delapidaram o pouco que cá havia, quém tirou o combóio? Qual a contrapartida? Quém se queixou? Sabe as vezes o peru parece ter a tentação de pelo Natal por.se a jeito e aqui com muita tacanhez a mistura sempre se foi importante sem importancia rico sem riqueza e culto sem cultura o que se traduziu neste resultado falta de massa crítica paga-se caro devemos criticar a centralidade mas deviamos ter cuidado em não destruir a região negando-lhe cultura educação massa crítica que pudesse e devesse ser ouvida e tida em consideração que por falta do que atrás disse ninguém ouve, mais acção e menos lamúria dariam melhores resultados note-se e atente-se desapaixonadamente o pouco que se fez que forças o fizeram!! é só analisar sem camiseta da ignorancia partidária que aqui ímpera numa visão pequena canhestra fossalisada de curtas vistas esses sim são o primeiro responsável da tacanhez deste povo que se automotila sem dó nem piedade-O problema começa comigo consigo com todos os trasmontanos de vistas curtas!

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