quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Na Biblioteca Adriano Moreira, foi criado um Clube de Leitura...

Por: António Orlando dos Santos 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Respondendo a um convite para inscrições feito aos leitores, tive a fortuna de haver tomado a decisão de me inscrever, o que me proporcionou ao longo das oito sessões levadas a efeito, um prazer enorme em participar.
Cada sessão versa um tema diferente, sendo o de ontem, bastante complexo, mas fascinante! Tratava-se de analisar o que nos diz o conceito de Beleza. As várias ideias para explicar o conceito, diversas, mas complementares, foram o corolário do que os gostos estéticos de cada um de nós trouxe à apreciação dos outros e que contribuíram para enriquecer o debate e nos deram a possibilidade de sabermos da existência de livros, imagens e sons, que refletem com clareza parte substancial do que é a BELEZA. 
Da minha parte, partilhei com os meus parceiros (as) um pequeno texto, e desejo também fazê-lo convosco, aqui nas redes sociais.

Aqui vai ele.


Quem o feio ama, bonito lhe parece.
O tema de hoje, proposto para discussão, é um tema que pode colocar respostas e conceitos díspares e até incongruências! 
Darei como primeiro exemplo as imagens de duas obras de estatuária que são indubitavelmente belas e que podem servir de paradigma para a pretensão do homem definir o que é a Beleza. A estátua de David, obra-prima de Miguel Ângelo, está exposta na Galeria da Academia em Florença. A segunda a que me refiro está em exposição no Museu do Louvre em Paris e foi esculpida muitos séculos antes e encontrada decepada, mas sem sofrer amputação, severa, suficientemente para lhe retirar a original Beleza.
De outro modo a pintura oferece-nos obras que retratam o belo e são o pináculo que o homem se propôs escalar quando com as suas mãos conseguiu materializar o abstracto do seu pensamento. Monet pintou um quadro de quase perfeição, ao reproduzir na tela, o seu jardim, que parcialmente mostra com uma profusão de flores. Denominou-o por: O jardim vazio e eu coloco-o no meu conceito como uma das mais belas obras pintadas por ele e que quando o revisito me traz uma paz que só o que é belo consegue transmitir-me. Foi executado entre 1880/1883. Mais ou menos três séculos antes Paolo Veronese, pintou uma cena histórica, que está hoje exposta na National Gallery, Trafalgar Square em Londres. Mostra a mãe e a esposa de Dário da Pérsia, em genuflexão, prestando vassalagem a Alexandre da Macedónia após a Vitória deste sobre Dário, na batalha de Issus. A mãe de Dário dirige a palavra de submissão a Hephaestus, pensando ser ele Alexandre O Grande, sendo um pouco mais baixo do que o amigo, não se sentiu ofendido e magnânimo como era prometeu à Rainha mãe que lhe garantia que não perseguiria o filho e à Rainha esposa que não a faria viúva nem se apoderaria dela para esposa como o direito dos vencedores daquele tempo lhe concedia.
A sequência dos edifícios que compõem a tela gigantesca e as figuras das mulheres representadas com o joelho flectido em sinal de submissão, é impressionante pela forma como Veronese conseguiu dar aos rostos a expressão exacta e coloriu as vestes com os adornos q.b., para que a harmonia dos espaços corpóreos ou tão só vazios atingisse um ponto em que se pressente o Belo, ali tão perto. Alexandre e Hephaestus, cada qual com um uniforme diferente são as figuras impressionantes que esperamos antecipadamente se mostrem soberbas. A cor é distribuída com acerto, no grená das vestes de Alexandre ou na cor da armadura de Hephaestus, bem como na capa e na bota que contrastam com as peças homólogas do Imperador que ostenta uma cobertura bordada a ouro, no seu uniforme tinto. 
Os restantes personagens são também retratados com mestria! É esta tela a minha preferida de toda a obra de Veronese que já vi ao vivo ou encontrei nos livros. Do belo em Literatura destaco os Sermões do Padre António Vieira, com O Estatuário no lugar cimeiro. Obra em prosa que tem um começo que é autêntica Poesia. (Beleza Pura), apenas e só! Da poesia destaco A Procissão de António Lopes Ribeiro, declamada ou cantada por João Villaret que reflecte todo o imaginário da minha infância de fascínio e constante aprendizagem da música destaco a melodia e ritmo de O Bolero de Ravel e também de La Paloma de Sebastian Yradier, duas das peças musicais que se tornaram intemporais! 
Haverá mais beleza por aí disseminada, mas mais belo do que o que descrevi só mesmo a Beleza a quem Deus ordenou: -Beleza, sê Bela! Há outras coisas belas, mesmo muitíssimo belas. Um sorriso de criança, o olhar meigo de pessoa envelhecida, um latido de júbilo de cachorro saudando o dono, um correr à desfilada de cavalo e cavaleiro e também como corolário o beijo de boas vindas de esposa recém casada, só superado pelo beijo protector de mãe que nos recebe tão firme, hoje, como quando crianças nos recolhia no seu colo aconchegante. 
Há também o nascer do dia com a Aurora chegada em apoteose e o pôr-do-sol que Deus nos ofereceu a nós e às outras criaturas para que o desfrutemos, sentindo o seu eterno mistério. 
E finalmente a BELEZA, que intuímos, pois, “quem o feio ama bonito lhe parece”. (popular)






Bragança 26/10/2018
A. O. dos Santos
(Bombadas)

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