quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

O Distrito de Bragança – um jornal do Partido Regenerador ao serviço da fação de Teixeira de Sousa

Uma parte significativa dos militantes do Distrito de Bragança do Partido Regenerador não se revia na liderança de Abílio Beça, como já pudemos constatar na transcrição que fizemos de um texto do Nordeste contra esta figura do Partido Regenerador, que era então Governador Civil do Distrito. Como no Distrito não havia outra figura regeneradora, para além de Abílio Beça, que merecesse o seu apoio, esse grupo de regeneradores foi buscar um nome dos seus correligionários do Distrito de Vila Real, que veio a ser ministro e, até, o último Primeiro-Ministro do Reino. Trata-se do conselheiro Teixeira de Sousa. Este seu grupo de apoiantes, não se revendo na liderança de Abílio Beça, também não se revia no seu jornal, a Gazeta de Bragança. Surgiu, por isso, o Distrito de Bragança, fundado por Alberto Charula, um proprietário abastado de Macedo de Cavaleiros.
No seu cabeçalho, o Distrito de Bragança apresenta sempre a mesma ficha técnica: proprietário e diretor político, Alberto Charula; redator, dr. Abel Aníbal de Azevedo; editor, Francisco da Encarnação Rodrigues; administrador, Carlos de Almeida; Tipografia, Praça da Sé, Bragança. Não deixa de ser curioso o facto de o diretor do jornal ser considerado “diretor político”, ao mesmo tempo que se fala no editor. Isto significa que, na prática, o editor era o responsável executivo pela elaboração do jornal, embora a responsabilidade editorial, sobretudo em termos políticos, fosse do diretor, que era também o proprietário.

Primeira página do número 61 do Distrito de Bragança

Para lá destas figuras, existia ainda a figura do redator, que era o verdadeiro autor da maior parte dos textos publicados, mas sobretudo dos textos informativos.
Na ficha técnica, aparecia o lema do jornal, que definia a sua natureza e, ao mesmo tempo, um pouco da sua estrutura editorial. O Distrito de Bragança afirmava-se “semanário político, literário e noticioso”. Ao lê-lo, porém, constatamos que era muito mais político que noticioso e literário.
Na época, o caráter político-partidário de um jornal não era considerado depreciativo para a qualidade do mesmo, como agora acontece. Nos dias de hoje, qualquer jornal rejeita a mínima conotação político-partidária para que os leitores não ponham em causa a sua isenção e objetividade informativa. No início do século XX esse problema não se punha, até porque estes jornais, na sua grande maioria, visavam acima de tudo defender e apoiar a carreira política de algum dos seus responsáveis, como era o caso do Distrito de Bragança, ao serviço da carreira política de Alberto Charula, que começou como dirigente do Partido Regenerador, durante a Monarquia, e continuou como dirigente do Partido Democrático, na Primeira República. Em 1912, já era deputado do Partido Democrático, dirigido por Afonso Costa. Aliás, após a implantação da República, ele vai fundar e dirigir outro jornal em Bragança, o Notícias de Bragança, que será um paladino do Partido Democrático, como antes o Distrito de Bragança o fora do Partido Regenerador.
O Distrito de Bragança reservava a maior parte das suas primeiras páginas para artigos de fundo, em que, por vezes, um só artigo ocupava a página inteira. E o assunto, na maioria das vezes, era de natureza política.
A denúncia das práticas do Partido Progressista, quando este estava no poder, ou as «ferroadas» ao seu companheiro de partido, Abílio Beça, ou a defesa de Teixeira de Sousa e de Alberto Charula e seus apaniguados, eram os temas mais recorrentes da primeira página.


Mas o alvo das críticas do Distrito de Bragança não era apenas os adversários do partido concorrente.
O próprio companheiro de partido, Abílio Beça, na altura Governador Civil de Bragança, também merecia umas ferroadas acintosas, como se verifica, em 1904, em que até o nome do Abade de Baçal é de alguma forma atingido pela lama da crítica mesquinha.


No que diz respeito ao conteúdo informativo, no Distrito de Bragança é possível distinguir dois tipos de informação, uma mais importante, quase sempre dedicada à Família Real ou a algum assunto de maior importância relativo ao Distrito, como seja a construção da via-férrea entre o Pocinho e Miranda do Douro, e a pequena informação, normalmente nas segunda ou terceira páginas, referindo-se a factos ou efemérides menores, relacionados quase sempre com familiares, amigos ou correligionários dos responsáveis do jornal.

Exemplos de pequenas notícias e publicidade do jornal O Distrito de Bragança

Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)

Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa

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