sexta-feira, 23 de agosto de 2019

“Estou a apaixonar-me por esta causa… porque faz sentido, porque o fim do trabalho aqui é simplesmente a Vida”

PALOMBAR | COLABORADORES CESC PROJECT – SERVIÇO CIVIL ITALIANO
Testemunho de Salvatore Bossa

O jovem italiano Salvatore Bossa, de 29 anos, está há seis meses a viver na aldeia transmontana de Uva, no concelho de Vimioso, e conta-nos, na primeira pessoa, a sua experiência de vida em Portugal e de trabalho na Palombar – Associação de Conservação da Natureza e do Património Rural. 

Salvatore Bossa é um dos quatro jovens italianos que estão a colaborar com a Palombar este ano no âmbito de uma parceira da associação com o CESC Project – Serviço Civil italiano (www.cescproject.org). O CESC Project pretende promover e desenvolver o serviço civil tanto em Itália, como noutros países, e atividades com foco na construção de uma cidadania consciente. Visa também contribuir para o desenvolvimento de uma convivência civil solidária e pacífica. O CESC Project desenvolve e implementa programas de cooperação internacional, voluntariado internacional e local.
Salvatore Bossa.

O voluntariado e os valores a ele associados são essenciais para a Palombar. Os/as voluntários/as enriquecem e dão vida e dinâmica à associação, contribuindo de forma significativa, frequente e continuada para assegurar as seus ações, projetos e atividades nas áreas da conservação da Natureza e preservação do Património Rural. Todos os anos, a Palombar acolhe vários/as voluntários/as e colaboradores nacionais e internacionais que contribuem de forma ativa para a sua missão.

Trabalho de Campo
Sede da Palombar em Uva.

“Uva é a minha casa há seis meses, o Português a minha língua”

Uva é a minha casa há seis meses, o Português a minha língua. No início, eu estava muito confuso por causa desta mudança para Portugal. Eu venho de Itália, de uma cidade com 60 000 habitantes, com muito trânsito e ruído de carros, mas, ao mesmo tempo, com uma paisagem riquíssima: por um lado, o mar, no meio do deslumbrante golfo de Napoli – com a ilha de Capri à frente; por outro, o Vesúvio, vulcão temível, gigante adormecido que nos preocupa há muitas gerações e cuja influência, talvez, torne o nosso povo explosivo e os nossos ritmos de vida frenéticos. 

Quando cheguei a Portugal, eu senti o contraste com tudo o que tinha vivido até àquele momento. Estávamos no mês de fevereiro. Antes de conhecer bem a equipa da nossa associação Palombar e o território Transmontano, eu conheci o frio e o silêncio da minha viela, com apenas o mocho-de-orelhas a cantar. Sempre estive habituado – e também protegido e ameaçado ao mesmo tempo -, a viver ao pé do Vesúvio, aqui não há um ponto mais elevado para onde olhar... é uma sensação estranha estar sempre no topo, mas se calhar os que vivem no Planalto não a conhecem. E ainda mais estranho para mim foi observar um céu geralmente “vazio”, sem os pombos e as gaivotas que via na minha cidade, até identificar, num ponto longínquo, um abutre, uma águia! Quem nasce aqui não deve ter o mesmo entusiasmo, é normal. 

Tenho reparado, durante as sessões de Educação Ambiental com crianças, que elas não se dão conta desta riqueza em termos de ambiente e de espécies. E é aqui que a Palombar intervém, promovendo a sensibilização e a preservação da Natureza e da Biodiversidade locais. E eu estou a apaixonar-me por esta causa, quer pelo facto de ganhar conhecimentos que antes não tinha, quer por termos que executar vários trabalhos, ainda que sujeitos às adversidades do campo ou pesados; porque faz sentido, porque o fim do trabalho aqui é simplesmente a Vida, e este facto influencia profundamente a minha consciência.

Estou muito feliz por estar aqui no Nordeste Transmontano, apesar de gostar mais de Fado do que de gaitas e de os cães que desafiam os carros no meio da rua me assustarem um pouco. Nesta região, não vivem muitas pessoas, mas as poucas que ficam têm valores e são simpáticas. Uva é o melhor exemplo, pois é uma aldeia acolhedora com uma atitude internacional, desde os parentes franceses dos habitantes, que sempre vêm de férias, aos jovens de todo o mundo, que chegam cá durante os campos de trabalho internacionais. Nunca dá para se aborrecer, ao contrário, esta dinâmica acaba por ser uma grande oportunidade de enriquecimento para todos. E eu espero dar a este lugar uma contribuição pelo menos igual àquela que estou a receber. Obrigado.


Salvatore Bossa
A explorar o planalto

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