segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Maratona Ibérica da Castanha BTT

Inscrições e informações AQUI.

BALCÃO MÓVEL | Horário de Outubro | Alfândega da Fé

A tinta, o cancro e a vespa das galhas do castanheiro

A Associação Portuguesa da Castanha (RefCast) candidatou hoje ao Programa de Desenvolvimento Rural (PDR 2020) um projeto de 1,1 milhões de euros que visa combater as principais doenças dos soutos.
A tinta, o cancro e a vespa das galhas do castanheiro “são precisamente os três grandes problemas que o souto, neste momento, enfrenta. Na minha opinião, a tinta é o pior de todos porque mata os castanheiros”, afirmou à agência Lusa José Gomes Laranjo, presidente da RefCast e investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).

A RefCast, com sede na UTAD, em Vila Real, é a promotora do projeto que envolve ainda produtores e associações do setor do Norte e Centro do país e que se propõe intervir “em 1.100 hectares de souto”.

A candidatura foi hoje submetida à medida 8.1.3 - Fatores Bióticos, apoiada através do Programa de Desenvolvimento Rural (PDR 2020).

É um projeto, segundo o responsável, com grande “abrangência territorial” e que está “orçamentado em 1,1 milhões de euros”. Se a candidatura for aprovada, 85% do valor será comparticipado, cabendo o restante aos produtores.

O investigador elencou grandes preocupações com a doença da tinta, que é causada por um fungo que ataca as raízes e acaba por levar à morte da árvore.

Relativamente à vespa das galhas do castanheiro, José Gomes Laranjo afirmou que o “país soube estar à altura” e “no momento certo atacou o problema de uma forma bem organizada”.

“Estamos num momento de esperar pelos resultados da luta biológica. Tirando situações pontuais, não se sentiu ainda verdadeiramente a quebra de produção por causa da vespa”, referiu.

A luta biológica consiste na largada dos parasitóides 'Torymus sinensis', insetos que se alimentam das larvas que estão nas árvores e são capazes de exterminar a vespa. Este ano, segundo o investigador, foram efetuadas na ordem das 1.100 largadas em todo o país.

Por sua vez, o cancro é uma doença que ataca a parte aérea da árvore de forma muito rápida. “O cancro raramente provoca a morte do castanheiro, mas provoca lesões graves na estrutura do castanheiro e que afetam a produção”, explicou.

Para a implementação do projeto está, segundo José Gomes Laranjo, a ser “desenhada uma rede de colaboração”.

Entre as medidas propostas, o responsável destacou o tratamento das árvores afetadas pela tinta, bem como a substituição daquelas que morreram por castanheiros híbridos resistentes à doença e o tratamento químico.

São ainda propostos o tratamento biológico contra a doença do cancro, a correção da fertilidade dos soutos e novas largadas para combater a vespa das galhas dos castanheiros.

O investigador disse que o projeto será implementado em quatro anos e, a concretizar-se, ajudará “a revigorar o setor” e a “aumentar a produção”.

De acordo com José Gomes Laranjo, foi alocada uma verba de “dois milhões de euros” à medida dirigida ao setor do castanheiro.

“Este montante é capaz de não chegar tal foi a motivação e a mobilização do setor na preparação de candidaturas. Esta é uma situação que gostaríamos de ver corrigida”, salientou.

in:diariodetrasosmontes.com
C/Agência Lusa

2º encontro de troca de sementes e plantas a realizar em Portela - Bragança.

Bem-vindos ao 2º encontro de troca de sementes e plantas a realizar em Portela - Bragança. 

As vendas não são permitidas. 

15h00 às 18h00 - Feira Troca Sementes e Plantas

Durante o evento os participantes poderão trocar sementes, plantas, estacas, bolbos e partilhar conhecimentos e experiências de agricultura biológica. 

Quem pode participar? TODOS. O evento é aberto a todos que tenham interesse em participar neste encontro informal.

Como funciona? 
No dia do evento é-lhe disponibilizado um pequeno espaço para colocar as suas plantas e sementes (uma mesa). Depois, num ambiente informal, troca sementes e plantas com os outros participantes. 

Nunca participou num evento destes, deixamos uma lista do que consideramos essencial para trazer no dia do evento:
- Plantas e/ou estacas e/ou sementes identificadas para facilmente saber o que recebe;
- Papel e caneta para anotar qualquer informação que ache necessária;
-  Embalagens (pacotes, envelopes, …) para guardar as sementes que recebe;
- Vasos vazios para oferecer a quem lhe der vasos com plantas.

Se vier de longe poderá aproveitar o fim de semana  para participar neste encontro e conhecer o nordeste transmontano e a bela cidade de Bragança. Motivos não lhe vão faltar para esta viagem programar. Marque já na sua agenda!

Modelação 3D da Avenida João da Cruz e Praça Cavaleiro de Ferreira - Bragança

Modelação 3D realizada pelo aluno Pedro Domingues. Lumion 9 Pro Student.


Gimonde – gastronomia, património e paisagem

Fui até Gimonde, uma aldeia e freguesia do concelho de Bragança onde se come, dizem, das melhores postas do país. Tive que ir avaliar (risos). Confirmou-se a qualidade da carne, de tal forma que não tive tempo para a fotografar.


Mas o time off não se limitou no tempo sentada à mesa. Levantei-me, passeei nas ruas da aldeia e entusiasme-me com o que vi. A cerca de 6 km da cidade está um sossego, uma paz inigualável, que parece inacessível e deslocada do mundo urbano. Ali tão perto. Vi locais nas suas lides diárias, nos seus trabalhos agrícolas. Fotografei bem lá de cima, de um miradouro localizado atrás da igreja, era Gimonde e a sua ponte, pontes. E as suas paisagens. Um cenário perfeito.

Gimonde é gastronomia, é património, é paisagem. Caminhei nos dois sentidos pela ponte velha, a ‘famosa’ ponte de xisto, classificada como Imóvel de Interesse Público. E também o principal atrativo turístico da aldeia. Foi fácil perceber porquê. Ali, algumas galinhas em liberdade alimentavam-se junto às margens do rio, um burro com uma carroça carregada atravessava a ponte, seguindo as orientações do dono. Poucos metros ao lado, na ‘ponte nova’, passavam na estrada nacional veículos motorizados. Iam para, e vinham de, Bragança. Um só postal, e dois mundos tão distintos. É este quotidiano e esta mistura feliz que me faz parar nestes locais …





Arribes del Duero, un reportaje de Comando Actualidad de TVE

El río Duero separa las provincias de Zamora y Salamanca.
La belleza natural de estos parajes queda reflejada en este trabajo televisivo.

Flumen Durius

Audiovisual realizado dentro del proyecto Flumen Durius que tiene como principal objetivo potenciar el desarrollo socioeconómico e impulsar un turismo sostenible en torno al eje del río Duero, como vínculo de conexión entre España y Portugal.


HISTÓRIA DO MAMA NA BURRA, DO ARRASA MONTANHAS E DO ARRANCA PINHEIROS

Havia numa localidade um casal que em tempo próprio teve um filho e devido ao estado de debilidade em que ficou a mãe quando do parto, não pode resistir e morreu pouco depois. Eles tinham uma burrita para os trabalhos no campo, acabando esta por criar o menino com o seu leite. Assim, foi crescendo o menino a mamar leite da burra e por isso as pessoas costumavam chamar-lhe o “mama na burra”.
Passados alguns anos, o rapaz exibia uma força fora do comum e anormal para a sua idade. Dando-se conta disso e já cansado de ser chamado o “mama na burra”, disse, então, para o pai que pensava ir-se embora da aldeia, porque senão ainda acabava por destruí-la com toda a força que tinha. Pediu, assim, ao pai para lhe arranjar um bastão de 100 arrobas para ir pelo mundo testar a sua força. Deste modo, lá foi ele com aquele pesado brinquedo na mão, ao passar ao lado de um rio avistou um estranho movimento de um indivíduo, que com uma alavanca retirava enormes fragas para fazer uma represa no rio. Parou e ficou parado a apreciar o exercício, comentando para consigo mesmo:
- Caramba eu considero-me o homem mais forte do mundo, mas este ainda me ganha! Vou já ter com ele e convidá-lo para se juntar a mim e irmos pelo mundo fora para mostrar a nossa força. Como pensou assim o fez, juntos agora seguiam mundo fora, parando mudos ao ver outro fenómeno como eles. Sentindo curiosidade foram com ele, para ver a sua habilidade, a uma mata de enormes pinheiros ficando a olhar. Começou, então, por estender as suas enormes cordas e derrubar, de uma só vez, um pinheiro, fazendo, assim, a sua carga, enquanto os outros se questionavam:
- Como é que ele vai agora meter-se por baixo daquilo tudo e levar tudo às costas?!
O valentão não está com meias medidas, mete o monte de lenha por uma das pontas, mete-se por baixo e arranca com tudo às costas com grande facilidade. Então comentou o “mama na burra”:
- Pois este ainda nos ganha a nós! Vamos juntar-nos a ele e faremos um trio invencível.
Convidaram-no e passaram a andar todos juntos, indo desembocar a um lugar cujo dono não conseguia nem vender nem alugar. Assim, ao ver aparecer aquele grupo de valentões logo lhes alugou a casa, ali se instalaram e dela se serviram.
Um dia saíram para caçar ficando em casa o “arrasa montanhas”. Passou-se o dia, e como os companheiros estavam-se a demorar, ele resolveu preparar o jantar.
Tinha já posto a panela ao lume enquanto descascava as batatas, quando de repente ouviu no telhado um barulho forte. Ao olhar para cima procurando perceber o que se estava a passar, abriu-se de repente um buraco no tecto, donde pende uma pequena perna e se ouve um gemido:
- Ai que eu caio, ai que eu caio!
Ao que sem mais, ele responde:
- Pois cai, podes cair!
Ele caiu mesmo, era uma só perna e ficou de pé ao seu lado. Novamente se deu um barulho forte e um novo gemido:
- Ai que eu caio, ai que eu caio!
A resposta do “arrasa montanhas” foi a mesma, vindo de lá outra perna que cai ao lado da primeira e fica também de pé. O forte barulho é o gemido torna-se a repetir num vai e vem, até que acabou por cair um o resto de um corpo de um garoto que se foi encaixar nas pernas, que tinham caído anteriormente. O miúdo começou a queixar-se do frio e como o lume estava à sua frente, o “arrasa montanhas” respondeu com desdém:
- Não tens aí lume? Aquece-te!
O miúdo chegou-se ao lume destapou a panela e, sorrateiramente, meteu para dentro um punhado de cinza. Ao ver a cena o “arrasa montanhas” amarra-se para apanhar um pau e dar-lhe com ele, mas o pequeno “fenómeno” ao vê-lo de costas transformou-se num gato bravo, saltou-lhe em cima e arranhou-o todo desaparecendo num salto.
Quando os companheiros chegaram a casa ao se depararem com ele naquela figura, inquiriram-no sobre o que se tinha passado.
O “arrasa montanhas” explicou e logo o “arranca pinheiros” concluiu:
- Ah não! Então amanhã fico cá eu.
Ao outro dia assim foi, o “arranca pinheiros” ficou a arrumar a casa, enquanto os companheiros foram à caça. Tristemente, a cena repetiu-se da mesma forma e, apesar de já ter acontecido, este não se preveniu e ficou ainda mais arranhado do que o seu companheiro.
Quando os outros chegaram à noite, pensando que nada de mal teria acontecido, ficaram horrorizados com o sucedido:
- Mas que diabo se passa aqui? Que vem a ser isto?! Pode ser obra do Diabo?
Combinaram, então, que desta vez ficava em casa o “mama na burra”. Contudo, este agiu com um pouco mais de prudência e preveniu-se, colocando perto de si o seu bastão de 100 arrobas. Quando a situação se repetiu, ele pôs-se atento, esperando o desenrolar dos acontecimentos, para lhe cair em cima ao chegar a hora certa. No momento em que o miúdo foi à panela para meter a cinza, o “mama na burra”, com um gesto rápido, atira com o seu bastão para lhe acertar, mas no mesmo instante o miúdo faz um pequeno movimento e só é apanhado numa orelha, esta cai ao chão, conseguindo, assim, o garoto fugir deixando um rasto de sangue à sua passagem.
Entretanto chegaram os companheiros, aos quais o “mama na burra” pediu que fossem ao patrão solicitar um candeeiro para poderem seguir o rasto de sangue.
Entraram num quarto, seguiram para outro e saíram para o exterior, verificando que o rasto terminava debaixo de um grande sequeiro de lenha. O “mama na burra” pediu ao “arrasa montanhas” que levantasse aquela lenha para ver o que se escondia debaixo, aparecendo, então, um buraco que se prolongava pelo chão.
Foram, depois, pedir emprestado uma corda, um caixote e uma campainha, pretendendo com isto, entrar no esconderijo explorando-o. O primeiro a entrar foi o “arranca pinheiros” e, tal como tinham combinado, quando este tocou a campainha em sinal de perigo, os companheiros içaram o caixote pela corda. A seguir foi o “arrasa montanhas”, dando-se o mesmo procedimento, visto que, ao se deparar com os diabinhos suspensos na parede, tocou a campainha para que o içassem e nada conseguiu ver. Entretanto, o “mama na burra” exclamou:
- Agora quero descer eu! Quanto mais eu tocar a campainha mais me deixais cair.
Assim, procederam os companheiros, fazendo descer o “mama na burra” até ao fundo, não deixando, durante o percurso, de se deparar com uns diabinhos irrequietos e mafarricos que estavam dependurados nas paredes. Ao se encontrar naquele espaço dirigiu-se a uma porta e ao abri-la saiu de lá um monstro de sete cabeças, com o qual lutou, saindo-se vencedor graças à sua força e ao seu bastão. Ao dirigir-se a outra porta teve surpresa idêntica, saiu de lá um leão muito forte, mas foi igualmente vencido pelo “mama na burra”. Havia uma terceira porta e aí sim estava a surpresa que ele procurava, o “Diabo” encostadinho a um canto com medo por ter sido descoberto:
- Ai estás aí?! Então sai cá para fora, anda, anda!
O “Diabo” estava mesmo com medo, mas não queria que o outro percebesse e mandou-o sair primeiro. Contudo, o “mama na burra” não caiu na armadilha e fez sair o “diabo” na sua frente, não fosse ele saltar-lhe em cima como fez com os companheiros. Ele saiu obedecendo ao “mama na burra”, que o fez entrar no caixote sendo içado pelos outros amigos depois de tocar a campainha. Mas, quando os companheiros se depararam com o “diabo” largaram tudo e desataram a correr sem destino para se esconderem. O “mama na burra” que se encontrava ainda no fundo do esconderijo pediu ao “diabo” para o içar, quando chegou a cima e deu pela falta dos amigos, logo intimou o “diabo” para apresentá -los antes que o matasse. O “diabo” obediente em dois saltos apresentou os companheiros, no entanto, este resolveu também reclamar os seus direitos pedindo ao “mama na burra” para lhe devolver a sua orelha, pedido esse que lhe foi negado, ao que o “diabo” respondeu:
- Se não ma queres dar, fica com ela e quando precisares algo de mim, mordes na orelha e eu apareço logo para satisfazer os teus desejos.
Depois disto o “diabo” foi-se embora, continuando os três companheiros a viver na mesma casa sem serem mais apoquentados por aquela criatura.
Passados alguns anos o “arranca pinheiros” faleceu, pouco tempo depois morreu também o “arrasa montanhas”, deixando o “mama na burra” a viver sozinho naquele casarão.
Num belo dia o “mama na burra” passeava por um caminho cruzando-se com ele dois velhinhos que lhe pediram esmola, como levava consigo dois pães e dois duros, deu às pedintes um pão e um duro. Cada um seguiu o seu caminho e na volta cruzou-se, novamente, com os dois velhinhos aos quais deu o que lhe restava de pão e tostões. Reconhecidos com a sua generosidade, um deles quis recompensá-lo dizendo-lhe que pedisse o que mais quisesse que ele lhe recompensava. O outro companheiro de estrada São Pedro (incógnito) segredou ao “mama na burra”:
- Pede-lhe a salvação, pede-lhe a salvação!
No entanto, o “mama na burra” não se preocupou com este tipo de pedido, repelindo São Pedro, exclamou depois de uma pausa:
- Cala-te careca do caraças! Quero que tudo o que veja e que me apeteça entre no meu serrão, e quero que, para onde eu deitar o meu chapéu, ninguém o consiga levantar a não ser eu.
E Deus, então, disse:
- Pronto esses poderes te dou.
O “mama na burra” viveu ainda uns anos sozinho, mandando entrar para o seu serrão tudo o que via e que lhe apetecesse, como fez com um bando de pombos. Os residentes daquele lugar, quando souberam que o “mama na burra” tinha acabado de vez com aquela assombração sepultando o diabo no inferno, fizeram uma grande festa. Pois, parecia que ninguém nas redondezas tinha conseguido comprar o casarão, onde morava o “mama na burra” por ser habitação do diabo.
Quando o “mama na burra” morreu, como já sabia o caminho, foi bater às portas do Inferno, perguntando o diabo de lá de dentro:
- Quem é?
Ao que o “mama na burra” respondeu:
- É o “mama na burra” abre-me a porta!
- Ah! Fechai as portas e os postigos é o “mama na burra” que nos tem a todos “cozidos”! Olha, vai para o Céu que há lá mais lugar.
Pobre “mama na burra” velhinho e morto ainda teve mais uma viagem a fazer, subindo tantos degraus para chegar ao céu.
São Pedro veio até à porta perguntar quem era:
- Sou o “mama na burra” e quero entrar.
- Olha, vai para o Inferno, aqui não podes entrar.
O “mama na burra” implorou mais um pouco:
- Já lá fui e não me quiseram. Ó São Pedro, deixa-me ao menos consolar os olhos, abre só um bocadinho da porta para ver como o céu é bonito.
São Pedro comovido com o pedido abriu a porta e o “mama na burra”, como tinha o poder (concedido por Deus) de só ele ser capaz de levantar o seu chapéu, fez chantagem com isso, assim quando São Pedro o mandou embora ele pediu que o deixasse ir buscar o seu chapéu. Contudo, São Pedro não era capaz de lhe dar o chapéu, e enquanto discutiam, Deus passou por aquele sítio perguntando o que se passava ali, ao que São Pedro respondeu:
- É este senhor “mama na burra” que morreu e devia ir para o inferno, mas veio para cá, só que não se quer ir embora sem o seu chapéu e eu não sou capaz de lho dar.
Então Deus na sua bondade mandou que o deixasse entrar e se sentar na cadeira ao lado da sua. E assim foi que o “mama na burra” venceu o diabo e ganhou um lugar no céu.

RECOLHA 2005 SCMB, CASIMIRO PARENTE, Idade: 66.
Localização geográfica: PAÇO DAS MÓS – ORIGEM + 60 anos.

FICHA TÉCNICA:
Título: CANCIONEIRO TRANSMONTANO 2005
Autor do projecto: CHRYS CHRYSTELLO
Fotografia e design: LUÍS CANOTILHO
Pintura: HELENA CANOTILHO (capa e início dos capítulos)
Edição: SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE BRAGANÇA
Recolha de textos 2005: EDUARDO ALVES E SANDRA ROCHA
Recolha de textos 1985: BELARMINO AUGUSTO AFONSO
Na edição de 1985: ilustrações de José Amaro
Edição de 1985: DELEGAÇÃO DA JUNTA CENTRAL DAS CASAS DO POVO DE
BRAGANÇA, ELEUTÉRIO ALVES e NARCISO GOMES
Transcrição musical 1985: ALBERTO ANÍBAL FERREIRA
Iimpressão e acabamento: ROCHA ARTES GRÁFICAS, V. N. GAIA

Rui Anahory – Homenagem ao Lavrador (2001)

Na Rotunda das Forças Armadas ergue-se o conjunto escultórico de Homenagem ao Lavrador, também designado por Monumento ao Agricultor Bragançano e à Raça Bovina Mirandesa, da autoria do escultor Rui Anahory (Rui Manuel Anahory dos Santos).

Rui Anahory, licenciado em Artes Plásticas pela Escola Superior de Belas Artes do Porto (1979), e mais tarde docente no Departamento de Escultura da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, participou em inúmeras exposições nacionais e estrangeiras, tendo uma obra altamente credenciada.
Em 10 de agosto de 1998, foi apresentada pelo Presidente da Autarquia, em reunião de Câmara, uma proposta, que seria aprovada por unanimidade, para a execução de um Monumento ao Agricultor Bragançano e à Raça Bovina Mirandesa (também conhecido pelo nome de Chega de Bois), a ser colocado em lugar público de Bragança, apontando-se como data limite para apresentação de propostas por parte de artistas portugueses o dia 30 de novembro de 1998. A 25 de janeiro do ano seguinte, a entrega da adjudicação do referido grupo escultórico a Rui Anahory foi aprovada por unanimidade, tendo por base a informação do Departamento de Obras e Urbanismo.
Tendo sido aberto concurso público pela Câmara Municipal de Bragança, e uma vez que todos os requisitos se achavam contemplados na proposta do artista, esta foi selecionada pelo júri reunido para o efeito, constando esta decisão da ata final datada de 9 de setembro de 1999, posteriormente ratificada em reunião de camarária.
De acordo com a memória descritiva do monumento apresentada pelo artista, sabemos que assumiu como tema central do seu projeto o enquadramento em que ocorrem as chegas de bois, acontecimento que envolve sempre uma participação entusiástica das gentes da região. São dois os elementos estruturais da composição: o Homem (agricultor) e o Boi de raça mirandesa. Intrinsecamente ligados, homem e animal fazem parte de um mundo rural que persiste em manter vivas as suas tradições ancestrais, não cedendo à modernidade invasiva que, muitas vezes, apaga da memória coletiva a tradição passada pelas sucessivas gerações. Por um lado, com a representação dos chegadores dos bois, o escultor pretende trazer até nós “o símbolo do homem, em convívio permanente com o animal, o boi, dono de uma força bruta que ele domestica e coloca ao seu serviço, na luta pela vida; o cultivador de terrenos à volta da aldeia, dos vales cheios de verdura, caminhante de veredas sombreadas por onde conduz os bois e as vacas para os lameiros”.
De igual modo, dá especial realce à caracterização fidedigna da raça bovina mirandesa, entendida como “raça autóctone”, que na “sua intimidade com o homem, de ajuda generosa e dócil, são atores e protagonistas de uma das mais arreigadas tradições do Nordeste Trasmontano”. A composição escultórica representa o momento em que os dois animais medem forças, incitados pelos seus donos, até que um deles vença ou desista, afastando-se do outro. A vitória tem especial significado para a aldeia a que pertence o homem e o animal, sendo um momento de júbilo devidamente comemorado.
Ainda seguindo a memória descritiva, deparamos, a nível da implantação do monumento, com algumas considerações interessantes por parte do artista. Assim, devia ter-se em consideração o local onde seria erguido, referindo-se especificamente o centro da urbanização (não devendo em média os edifícios ultra passar os sete andares), situando-se no ponto de encontro das ruas de acesso à urbanização, bem como da principal avenida de entrada e saída da Cidade. Por outro lado, ao ser montada a composição, a Chega dos Bois, como elemento estruturante, seria colocada de forma visível no alinhamento da mesma avenida.

Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa

Jornadas Europeias do Património aconteceram este fim-de-semana no Museu do Abade Baçal em Bragança

As Jornadas Europeias do Património aconteceram, este fim-de-semana, no Museu do Abade Baçal, em Bragança, com diversas actividades plásticas e uma exposição e catálogo digital sobre os Judeus e cristãos novos da cidade.
“A ideia desta exposição foi mostrar que os judeus não são uma coisa do passado aqui em Bragança. Continuam presentes não só fisicamente, mas também com memórias muito actuais, muito presentes, de práticas religiosas, do quotidiano com memória histórica transmitida de geração em geração”, explicou Marina Pignatelli, curadora da exposição.

Os visitantes puderam ainda provar vinho e aperitivos Casher.

“A comida judaica não é assim tão esquisita. Estão ali uns aperitivos normalíssimos que apenas têm o U da União Ortodoxa, que dizer que são casherizados e que são produzidos de acordo com os trâmites das regras judaicas alimentares, tal como o vinho também uma coisa portuguesa”, disse.

As jornadas, este ano, são dedicadas às artes, ao património e ao lazer.

“A adesão das pessoas a este tipo de actividades nem sempre é a mais desejada, mas no fundo o trabalho do Museu de Abade de Baçal é mais uma vez juntar-se a uma celebração internacional e celebrar esta data com um conjunto de actividades que estão abertas a quem sobre elas está interessado”, referiu Amândio Felício, director do Museu de Abade Baçal.

Ao longo do fim-de-semana, o Museu do Abade Baçal, em Bragança, recebeu as Jornadas Europeias do Património, com actividades para crianças e graúdos.

Escrito por Brigantia
Jornalista: Ângela Pais

Manifestação sobre as alterações climáticas aconteceu em Bragança apesar da pouca adesão populacional

Várias pessoas concentraram-se na Praça da Sé, em Bragança, para se manifestarem sobre as atitudes do ser humano que estão a provocar as alterações climáticas.
Com cartazes e a cantarem procuraram chamar atenção e mudar o pensamento da sociedade.

“A natureza já nos deu tantos sinais e nós próprios conseguimos percebê-los a olhos nu, desde o aquecimento global, ao desaparecimento de várias espécies, à morte de vários seres humanos, causadas pelas condições a que estamos sujeitos e as pessoas mesmo assim não querem acreditar ou mudar”, disse a participante Marta Parada.

A manifestação sobre as alterações climáticas aconteceu em todo o mundo. E, apesar de se tratar de um assunto abordado mundialmente, poucos foram os cidadãos brigantinos que participaram no protesto.

“É bastante aflitivo, estando na situação em que estamos e a ver o nosso planeta cada vez pior e perceber que a maior parte das pessoas não têm consciência ou pelo menos não reflecte como deveria reflectir acerca disso”, afirmou Alexandra Vaz, uma das organizadoras da manifestação.

Reciclar já não é suficiente e, por isso, devem ser feitas alterações políticas, com os governantes a darem o exemplo, segundo Alexandra Vaz.

“Neste momento é preciso parar urgentemente de utilizar combustíveis fósseis, petróleo e carvão por exemplo, só que deixar de utilizar os combustíveis fósseis e passar para formas alternativas de energia está a ser extremamente complicado e, se calhar, não é assim tão complicado. É preciso haver alterações políticas e ordens de quem manda”, acrescentou.

A greve climática reuniu cerca de 20 pessoas, dos mais pequenos aos mais velhos, em Bragança, na passada sexta-feira.

Escrito por Brigantia
Jornalista: Ângela Pais

O calor do Qatar dificultou a vida do “herói do fair play” — e nem Bragança o preparou

Na prova desta sexta-feira, Braima Dabó ajudou o colega que não suportou o calor de Doha. Terá o clima de Bragança, onde estuda, ajudado o jovem guineense a preparar-se para estas condições? “Queria que o calor de Bragança me tivesse preparado, mas não foi suficiente”.
REUTERS/KAI PFAFFENBACH

Chegaram juntos ao hotel em Doha, na terça-feira. Trocaram na altura algumas palavras, dias depois um cumprimento antes da largada da prova dos 5000 metros nos Campeonatos do Mundo de Atletismo, no Qatar. A cerca de 250 metros da meta, Braima Dabó, corredor da Guiné-Bissau de 26 anos, interrompe o ritmo para ajudar o atleta Jonathan Busby, da ilha caribenha de Aruba, a terminar a prova eliminatória, que concluíram ao mesmo tempo. 

Busby apresentou dificuldades para se manter em pé devido às altas temperaturas no Estádio Internacional Khalifa, na capital Doha. Braima Dabó, do clube português Maia Atlético Clube, não deixou a situação passar em claro. Já tinha feito as últimas voltas com algum custo, com as pernas pesadas, mas quando reparou que o concorrente precisava de ajuda, fez “o que qualquer um estaria disposto a fazer naquela posição”. Em conversa com o PÚBLICO por telefone, conta que o treinador, José Regalo, já esperaria uma atitude semelhante — “por ter vindo de mim”, conta Braima Dabó. Busby e Dabó terminaram por último, cerca de cinco minutos depois do vencedor Selemon Barega, mas receberam uma enorme ovação do público presente nas bancadas.

Na próxima semana, a 3 de Outubro, o mais recente herói do fair play no Atletismo regressa a Portugal, depois de uma época que “este ano foi longa”. Não chegou aos mínimos para os Jogos Olímpicos de Tóquio, que se disputam em 2020, mas responde que ainda tem tempo para trabalhar para melhorar a sua marca. “O que pretendo fazer já é regressar a Portugal e terminar o meu curso”. Já só lhe faltam três exames para terminar a licenciatura em Gestão no Instituto Politécnico de Bragança. Depois, quer regressar para perto dos pais, outros familiares e amigos que não visita há oito anos e de quem as saudades já apertam. 

“Pretendo continuar sempre a correr”, garante; só não sabe “se vai ser aqui [Portugal], vai ser lá, ou em outro país”. 

“No Verão faz um calor que todo o mundo chora”
Em Bragança, “não foi fácil conciliar os horários” dos estudos com os treinos. Fala sobre os períodos em que dividia os treinos em duas partes, o que significava acordar muito antes do início das aulas para aproveitar as primeiras horas da manhã. 

“Bragança tem o seu gosto especial”, conta, questionado sobre as diferenças em relação à sua terra natal — Catió, capital da região de Tombali. Gosta da comunidade académica, dos brigantinos. E também das particularidades da inadaptação ao clima: “No Inverno faz um frio que todo o mundo chora, mas no Verão também faz um calor que todo o mundo chora”. 

Na prova desta sexta-feira, Braima Dabó ajudou o colega que não suportou o calor abafado de Doha. Terá o clima de Bragança ajudado o jovem guineense a preparar-se para estas condições? “Queria que o calor de Bragança me tivesse preparado”, diz a brincar — “mas não foi suficiente”. 

Quatro anos entre Bragança e Porto

Jovem exemplo de fair play, Dabó vive em Portugal desde 2011, quando veio com outros colegas para fazer o ensino secundário, através de um projecto da ONG Na rota dos povos. Estudou na Escola Profissional de Carvalhais, Mirandela, seguindo depois para a Escola Superior de Tecnologia e Gestão.

Já na adolescência gostava de desporto — “quase todo o mundo gosta de jogar futebol” — mas ganhou o gosto pela corrida pela mão de José Bragada, docente da Escola Superior de Educação, treinando no Ginásio Clube de Bragança.

Há quatro anos faz o percurso entre Bragança e o Porto para treinar profissionalmente: primeiro com Jorge Teixeira, o seu “padrinho” no atletismo, e a partir de 2017 com José Regalo (que já foi um dos melhores corredores portugueses de 5000 metros), no Maia Atlético Clube. Desde 2015 corre pelo seu país, inscrito na Federação de Atletismo da Guiné-Bissau.

Depois da prova, dizia à agência Lusa: “Sinto-me orgulhoso por representar o meu país ao mais alto nível, apesar de não ter batido o meu recorde pessoal”.

domingo, 29 de setembro de 2019

Notícias da aldeia

Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Hoje a aldeia está deserta e os imensos olivais animaram-se na urgência da apanha da azeitona. Sim porque para a semana vai chover… e depois quem é que apanha a azeitona?!
De oliveira, em oliveira… estendem-se os lençóis… batem-se os ramos e as azeitonas vão caindo numa promessa de lagar, azeite fino que faz adivinhar a mesa farta… as batatas com grelos… a alheira assada… tudo regado com um fiozinho de azeite.
… louvado seja Deus! 
O filho ficou de vir para ajudar os pais idosos a apanhar a azeitona… ainda não veio… está na Polícia… longe que eu sei lá… e quem tem patrão é assim mesmo… a azeitona que espere… os pais que envelheçam… até ao dia em que os filhos regressam para o funeral!
…talvez tenha sido má ideia, eu e tu, termos ido a estudar… talvez fosse melhor termos ficado aqui… irmos à azeitona… comermos a merenda… olhar as estrelas para ver se vai chover… matarmos o porco pelo Natal… e envelhecermos juntos!
… mas não foi assim… temos que regressar de novo… e quantas vidas serão precisas para acertarmos no caminho?!
… não liguem… coisas minhas... vou ver se o lagar já abriu… espreitar a fornalha e fazer uma torrada com azeite novo…. que é mezinha… para muitos males… da alma e do corpo.
… podia ter sido pior!.

Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.

Lisboa vs Bragança. Recados das ruas para a campanha eleitoral

Bragança tem os piores salários, a mais baixa natalidade, a maior abstenção. Lisboa é o completo oposto.
Mas estarão assim tão distantes nas medidas que querem ver discutidas pelos partidos?


COMO É QUE OS MORCEGOS CAÇAM DE NOITE?

Como é que os morcegos encontram os insectos no escuro da noite? Ricardo Rocha, especialista nestes mamíferos fascinantes, explica como fazem.
Morcego-orelhudo-cinzento. Foto: Jasja Dekker / Wikimedia Commons

À medida que escurece e a noite avança, vemos por vezes pequenas sombras esvoaçantes junto dos candeeiros de rua acesos. São os morcegos, que por esta hora saem dos abrigos para caçar insetos e aproveitam para apanhar mosquitos e borboletas, atraídos pelas luzes artificiais. 

Mas como é que estes mamíferos se orientam no escuro? Embora muitas pessoas pensem que são cegos, “conseguem ver tão bem como nós e em algumas situações até tendem a usar a visão em vez da ecolocalização para caçar”, explica Ricardo Rocha, investigador na Universidade de Cambridge.  

Fora da Europa, há mesmo “um grupo particular de morcegos, as raposas voadoras, que se alimentam de frutos e néctar, têm olhos particularmente grandes e uma visão particularmente apurada, conseguindo ver luz ultravioleta, em alguns casos.”

Ainda assim, quase sempre os morcegos recorrem à ecolocalização para se orientarem durante a noite: usam o som “para localizar e identificar um alvo, enviando pulsos sonoros e recebendo os ecos refletidos pelo mesmo”, descreve. É desta forma que ficam a saber o que está à sua frente, “incluindo o tamanho e a forma dos insetos e para onde se deslocam”.

Em Portugal, os morcegos produzem os pulsos sonoros da ecolocalização com a laringe, mas há países onde algumas espécies clicam com a língua.

Quando se aproximam de um objeto, os morcegos emitem os pulsos sonoros numa sequência especialmente rápida, conhecida como sequência terminal (‘terminal buzz’, em inglês). “É particularmente importante na caça, uma vez que quando os morcegos se aproximam de um inseto, o aumento da frequência de pulsos de ecolocalização (que em algumas espécies podem aumentar até cerca de 190 por segundo), aumenta a precisão com que a trajetória da presa é calculada.” 

Por outro lado, cada espécie tende a emitir pulsos de ecolocalização distintos, incluindo diferenças ao nível da frequência em que são emitidos e na forma e duração dos mesmos. Os cientistas captam estes sons com aparelhos especiais, pois muitas vezes o ouvido humano não os consegue ouvir, e depois analisam os sonogramas (representação gráfica do som). Desta forma, “podemos muitas vezes identificar a espécie, ou pelo menos, ter uma ideia de que tipo de morcego se trata”.  

Mas não são apenas os morcegos que usam a ecolocalização. Esta “é usada por golfinhos, baleias e até algumas aves!”

sábado, 28 de setembro de 2019

O Movimento Associativo de BRAGANÇA... e as alterações climáticas.

Éramos uns 20.
Continuamos a ser PEQUENOS!
Lá fui a correr para ajudar. Quer-me parecer que mais do que por convicção, já é por vício.
Éramos uns 20.
A "manifestação/concentração" na Praça da Sé começava às 17 horas e terminava às 19.
Passaram a ser 19 manifestantes por que eu, depois de fazer um direto para a página do facebook do Memórias,  fui beber um fino ao Flórida. Belo fino e tirado pela minha filha melhor me soube. Para que conste... PAGUEI, como sempre.
Passados uns 15 minutos voltei à Praça da Sé. 
Já só éramos uns 13 ou 14.
A nossa Bragança tem demasiados intelectuais do facebook e poucos cidadãos.
Provavelmente, a dificuldade em mobilizar, seja para que "coisa" for em Bragança, com exceção dos "mete-nojo" dos porta-bandeiras dos partidos políticos, assessorados pelas "madonas" que dão os beijinhos e que parecem completamente ganzadas e histéricas e, certamente, à procura de um emprego ou de um tacho para elas ou para os filhos, na máquina do estado... dizia eu, a culpa será (É) da incapacidade, ou desinteresse, do movimento associativo.
Dos dirigentes associativos OBVIAMENTE!
Outrora, as Associações tentavam promover atividades que fossem ao encontro do interesse, ou das necessidades, dos cidadãos. Outras Associações eram movimentos com poucos "militantes" que lutavam contra adamastores.
Esses adamastores enchem AGORA a boca dos políticos de todos os partidos.
Mas... não era disso que eu queria falar.
Onde estava hoje o movimento associativo de Bragança?
As Alterações Climáticas não atingem Bragança? Bragança é imune ao que está a acontecer com o Planeta?
Onde estava a QUERCUS? Onde estava a capacidade de mobilização do IPB? Onde estava a Associação de Caminheiros, Enzonas? Onde estava a Câmara Municipal de Bragança? O município deveria ter-se feito representar. Onde estava a Associação ZERO? Esta ZERO só conhece Bragança para receber a nota GORDA do pseudo trabalho da Pegada Ecológica?
Onde estavam as associações desportivas e culturais? Onde estavam os grupos de teatro e as associações recreativas? E os ciclistas que enchem os vídeos das festanças? Esses, depois, vão pedalar para Marte com os Caretos a tirar os furos dos pneus.
Onde estavam as escolas, as instituições ligadas ao ambiente?
Onde estavam as "tropas" os "gajos" que têm TACHOS ligados ao ambiente?

ONDE ESTAVA BRAGANÇA?

Por que isto, assim, faz lembrar a anedota, faço um apelo... ORGANIZEM-SE!

Fui beber um tinto ali ao lado. Fiz bem. Boa pinga. Abracei eternos amigos, relembrámos tempos idos e passei um bom bocado.

A caminho de casa, passei pelas obras da Avenida João da Cruz. Não é tempo de comentar...

Entretanto vinha a pensar que as Associações de Bragança quase só servem para promover atividades umbilicais e para se candidatarem aos subsídios das entidades, que os podem atribuir, ... nomeadamente a Câmara Municipal de Bragança.

BRAGANÇA É UM CASO À PARTE. AQUI, NÃO HÁ ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS.
Mais que não seja, mandam-se fazer umas rezas na Serra para mandar chover e para mandar parar a chuva.
RESULTA!

O centralão, em Lisboa, não nos liga nenhuma por que sabe que, para além de sermos POUCOS, somos INOFENSIVOS! Mesmo assim, continuamos a dar salpicões a quem nos tira TUDO. Tudo, até a esperança de um futuro melhor para as gerações vindouras!

A minha vénia às duas dezenas de jovens que marcaram presença.
NADA DE DESISTIR! Pelo menos eu, enquanto puder, marcarei presença ao vosso lado!
... já nem sei se por convicção... ou por vício...




HM


Autarquia de Vinhais quer reverter situação da distribuição dos CTT

O Centro de Entrega Postal de Bragança foi remodelado e passa agora a agregar a distribuição do concelho vizinho de Vinhais.
Esta decisão apanhou de surpresa o município de Vinhais que promete tomar todas as medidas para reverter a situação.


Museu de Miranda do Douro revela 12 pinturas atribuídas ao flamengo Pieter Balten

O Museu da Terra de Miranda recebe, a 11 de outubro, a exposição dedicada ao "Calendário da Sé de Miranda do Douro", conjunto de 12 pinturas sobre madeira, datadas de 1580, disse hoje à Lusa a diretora da unidade museológica.
De acordo com investigação recente, esta série surge agora atribuída ao pintor flamengo Pieter Balten (Antuérpia, 1527-1584), contemporâneo de Pieter Bruegel, o Velho.

"Os retratos dos Meses da Sé de Miranda do Douro: uma Rara Alegoria Pintada em Antuérpia por Pieter Balten", título integral da exposição, constituem "uma espécie de calendário com cerca de 440 anos, que agora serão mostrados ao público pela primeira vez", disse a diretora do Museu da Terra de Miranda (MTM), Celina Pinto, à agência Lusa.

Para a responsável, estes quadros "têm uma grande relevância artística", sendo mesmo um dos elementos mais importantes do espólio da Concatedral de Miranda do Douro, no distrito de Bragança.

Os quadros foram encomendados em Antuérpia, na Flandres (Bélgica), em 1580, pelo 5.º bispo da diocese de Miranda do Douro, Jerónimo de Meneses, sendo seu autor o pintor, gravador e ilustrador Pieter Balten, de acordo com a recente investigação do historiador de arte Vitor Serrão.

Balten encontra-se representado em coleções como a da National Gallery, em Washington, e do Metropolitan Museum, em Nova Iorque, e os registos da galeria belga De Jonckheere, especializada na pintura flamenga da Renascença, coloca-o a par de Pieter Bruegel, o Velho, na guilda dos mestres de Antuérpia, com quem terá trabalhado no tríptico da igreja de S. Rumbold, em Mechelen Malines, nesta região da Flandres.

"Trata-se de uma série pictórica conhecida como 'O Calendário da Sé de Miranda do Douro', um extraordinário conjunto de doze pequenos quadros pintados sobre madeira, representando, de forma intimista, o quotidiano rural, e evocando o ciclo dos meses do ano", explicou Celina Pinto à agência Lusa.

Não opinião da diretora do MTM, o conhecimento académico do "Calendário" é relativamente inédito em muitos aspetos, tendo sido agora revelado por Vítor Serrão, que estabelece o novo patamar de valor artístico, histórico e museológico da obra.

"Este conhecimento está alicerçado tanto na grande qualidade intrínseca das obras, como pela exemplaridade e singularidade com que se inserem no contexto histórico nacional, da região de Trás-os-Montes e, em particular, da vitalidade cultural da sede do bispado de Miranda do Douro", sublinhou a responsável.

Segundo Celina Pinto, a divulgação deste conjunto pictórico torna-se agora possível graças ao programa NORTEAR que visa o desenvolvimento cultural e patrimonial, de âmbito transfronteiriço, envolvendo instituições portuguesas e espanholas.

Nestas entidades estão o Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial - Galiza e Norte de Portugal (AECT-GNP), a Direção Regional de Cultura do Norte, em articulação com o Museu da Terra de Miranda e a Concatedral de Miranda do Douro, mais a Xunta de Galicia.

O chamado "Calendário da Sé de Miranda do Douro" "é um verdadeiro tesouro que, quase milagrosamente, chegou íntegro aos nossos dias e num notáve estado de conservação", indicou Celina Pinto.

Pela sua rara integridade, autoria, antiguidade, proveniência e estado de conservação, o "Calendário" é agora (re)descoberto e trazido a uma nova luz de conhecimento pelo historiador Vítor Serrão, com a atribuição da sua autoria a Pieter Balten.

O pintor e gravador foi um protagonistas na afirmação da pintura flamenga do século XVI, com as suas cenas do quotidiano, à semelhança do seu contemporâneo Pieter Bruegel, o Velho, e dos seus sucessores, Jan e Pieter Bruguel, o Jovem, pintor do Ducado de Brabante, destacado também pela reprodução dos quadros de seu pai.

Além da exposição deste 12 quadros, que estavam longe do olhar do público, vai ser editado um catálogo para melhor se perceber este conjunto de obras.

O conjunto de pinturas dos "Meses", outra designação pela qual é conhecido o "Calendário", desde há muito que decora as paredes da sacristia da Sé de Miranda do Douro, mas deverá ser originário das coleções artísticas outrora conservadas no Paço Episcopal, anexo à Catedral de Miranda, um "impressionante palácio" desaparecido em meados do século XX, de que subsiste apenas a arcaria do claustro.

FYP // MAG
Lusa/fim

ETELVINO, O CAMINHÃO DE MANDIOCA E O GOVERNADOR

Por: Antônio Carlos Affonso dos Santos
(colaborador do "Memórias...e outras coisas..")
São Paulo - Brasil


O senhor Etelvino era um homem mau. Até sua mulher e filhos eram vítimas constantes dos maus tratos, imaginem os outros! E não parava por ai. Ele maltratava também os colonos da fazenda da qual era dono, além dos animais. Ele contraíra tifo, e por causa dessa doença mal curada tinha frequentes acessos de fraqueza mental e física e não raro desmaiava nessas ocasiões. Por muitas vezes o doutor Fernando aconselhou-o a se aposentar; deixar a fazenda com os empregados e viajar para a Europa. Às vezes até dizia: o senhor ainda vai morrer por um nada; ao que ele respondia: dessa doença eu não morro! E ele era durão mesmo. Superada cada nova crise, o Etelvino punha-se de pé e gritava ordens e palavrões, contra tudo e contra todos. 
A fazenda do Etelvino produzia um pouco de um tudo: quarenta vacas holandesas e parideiras forneciam o leite que, além de amamentar todas as famílias da fazenda ainda transformavam-se em queijos, manteigas e doces de leite; vinte e cinco porcos no mangueirão e oito nas cevas eram garantia de fartura de pernil defumado, linguiça de paleta, toucinho, banha e carne, que depois de fritos em enormes tachos, eram armazenados em latas de dezoito litros devidamente protegidas, e cobertas de gordura de porco, o que fazia com que por períodos de até um ano a família o Etelvino tivesse sempre à mesa, quando bem o quisesse, fartos e suculentas suãs, postas de pernil, lombinho ou costela, os quais curtidos nas latas pareciam frescos, como se a matança houvera sido feita no mesmo dia! A fazenda tinha, cultivados, cem mil pés de café produzindo as variedades “arábico e bourbon”, sendo esse cultivo aquele que realmente sustentava a fazenda e seus empregados. Tinha ainda três tanques para manejo e dois de engorda de peixes de rio, principalmente pintados e piaparas. Essa atividade, nova paixão do Etelvino, ocupava dez colonos treinados para esse trabalho. 
O Etelvino, embora não demonstrasse, pois era rídico, possuía uma boa poupança no banco e na Caixa Econômica, e ainda era sócio do único posto de gasolina do vilarejo. À questão de cinco anos, no entanto, meteu-se numa cooperativa para construção de uma usina de álcool para uso em automóveis. No ralo da usina de álcool ele foi injetando seu capital. Primeiro parou a criação de peixes para dedicar-se ao plantio da mandioca, que seria usada na futura usina. Por falta de uma grande área para produzir  mandioca em quantidade suficiente para o que seria o consumo da usina, e não querendo diminuir as pastagens para o gado, mandou erradicar vinte mil pés de café, com a desculpa de que  o preço internacional estava baixo. Nesses quatro alqueires de terra ele plantou mandioca. E como colheu o tubérculo! Como a usina nunca que ficava pronta, o Etelvino exigiu que a fazenda tivesse que consumir toda aquela mandioca! Era mandioca com melado, com rapadura, com açúcar, cozida, frita, com churrasco, com manteiga, com frango; eram bolos, broas, bolachas, bijus, mingaus e bobós. E dá-lhe mandioca! Passaram a fazer farinha, alimentar os porcos cevados e do mangueirão. Fatiadas, eram servidas ao gado de leite; e dá-lhe mandioca! E nada de usina! E dá-lhe mandioca! O fato é que sobrava mandioca!

Nesse ínterim, finalmente a usina ficou pronta. Mesmo assim o Etelvino continuava com as crises da doença! As crises que eram mensais passaram a ser semanais e, à medida que a usina ia sendo concluída, passaram a ser diárias. Ele começou a ter vertigens no jipe que dirigia, na charrete, no cavalo, e até quando andava a pé! E cada vez as crises eram mais duradouras, que também precisavam de mais tempo para se restabelecer. Desse modo, parou de dirigir a fazenda com “mão-de-ferro”, e o comando da fazenda passou para o Izaltino, pessoa tão bondosa quanto supersticiosa, o qual, segundo alguns, se transformava em lobisomem nas noites de lua cheia. Essa crença era devido ao fato de que o Izaltino, muitas vezes, aparecia de manhã muito pálido, olhos fundos, boca entre verde e amarelada, além das roupas sujas com penas e bosta de galinhas. Dizia-se que o patrão só havia permitido que ele administrasse a fazenda porque, tinha medo de assombrações, aparições, fantasmas e, principalmente, morria de medo de espíritos e almas penadas; sentia vertigens só em pensar.

Um belo dia, o Etelvino recebeu a visita do secretário do governador, ocasião em que foi informado da data de inauguração da usina. Para surpresa e desespero do Etelvino, ficou sabendo que a inauguração seria dali a duas semanas; e o governador em pele-e-osso viria para o evento. O secretário até pediu ao Etelvino que, em caso de discurso, deixasse que o governador “desse a última palavra”. Em seguida, o secretário disse que, a pedido do próprio governador, que o Etelvino abarrotasse a usina de mandioca, pois o governador havia confidenciado a ele que na inauguração da usina ele próprio queria “dar a partida”, para consolidar o discurso que agora iria sobrar energia elétrica e álcool, até para exportar! Dessa maneira, asseverou o secretário, o governador não arreda pé da usina até que ao menos um litro de álcool fosse produzido, e queria mostrar para a imprensa falada, escrita e televisada, que os estoques de mandioca – matéria prima fundamental era suficiente para produzir milhões de litros.

Tão logo o secretário foi embora, o Etelvino começou a dar ordens; mas foi informado pelo Izaltino que havia muito pouca mandioca para o evento; portanto se fossem atender ao pedido do governador, teriam que mandar buscar mandioca de outros rincões, e a peso de ouro, pois teriam que gastar com o combustível, diárias e hospedagens dos colonos motoristas que fariam o transporte; o Etelvino teve três convulsões seguidas, e nos intervalos entre uma e outra, amaldiçoou “o lobisomem” por não ter tido a ideia de economizar mandioca. O Izaltino rebateu às pragas, lançando uma de volta ao patrão, dizendo que mesmo depois de morto viria buscar o Etelvino para acompanhá-lo até os quintos dos infernos, onde era o lugar dele!. De tão transtornado, o Izaltino teve uma síncope e morreu ali mesmo, estatelando-se aos pés do Etelvino, agarrado às suas botas, que desesperado, tentava livrar-se daquelas mãos demoníacas. Depois do enterro do administrador, Etelvino passou a comandar as partidas de  mandioca até a usina. Passados dez dias da visita do secretário do governador, recebeu deste um ultimato: no máximo em dois dias o depósito deveria estar pleno, caso contrário, aquela usina nunca mais seria posta em funcionamento, e que o “fogo morto” da usina não poderia ser pretexto para o Etelvino não pagar os polpudos empréstimos que havia tomado do governo, e sem nenhum juro. O governador avisou que se alguém fosse ficar mal com a imprensa, esse alguém seria o Etelvino e de qualquer maneira ele, o governador, do alto do seu posto, deveria sempre dar a versão final de qualquer notícia para a imprensa! Qualquer que fosse o comentário, o governador seria o arauto. Que todos os demais se calassem. O Etelvino reuniu todos os colonos e deu ordens severas: qualquer colono que não colaborasse com afinco ou que não trouxesse mandioca vinte e quatro horas seguidas, seria demitido! Os colonos começaram a correr por todos os lados buscando mandioca para abastecer a usina. Por obra do destino o Etelvino, ele mesmo, pegou um velho caminhão e foi buscar um carregamento de mandioca no Mercado Central da sede da Comarca.
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Entrementes, no vilarejo entre a sede da Comarca e a fazenda do Etelvino, acontecia a festa das “bodas de ouro” do casal Agripina e Izaltino, este, velho e conhecido boêmio da cidade. Mas, apesar dos deslizes do marido, Agripina sabia como levar a casa e os filhos, pode-se dizer que vivem muito bem! Embora o velho Izaltino não desse a suportação moral necessária para os dez filhos, dava-lhes o sustento e algum estudo. Todas as outras necessidades, inclusive as ausências do Izaltino e sua presença patriarcal e a cobrança para com os estudos, eram feitas pela velha professora aposentada, Agripina, que com bondade e paciência, ocultava dos filhos os muitos “casos” do marido boêmio. No dia da festa das bodas de ouro, com orgulho, Agripina e Izaltino confirmaram na igreja, os votos do casamento de há cinquenta anos. Ao lado os dez filhos com outros dez genros e noras, davam o tom festivo. Como presente, os filhos deram aos pais o jipe americano de capota conversível, sonho de consumo do casal. E, para curtirem o presente tão sonhado quanto inesperado, o casal resolveu ir até à sede da comarca, onde seriam hóspedes por dois dias do “Grande Hotel”. Tão logo chegou a noite, despediram-se dos entes queridos e, junto com duas maletas, aboletaram-se no jipe “deles”, sob os aplausos de todos. As luzes de vapor de mercúrio que iluminavam o acesso da Avenida principal com a Rodovia Anhanguera, mostrou a felicidade do casal. O jipe foi até o retorno, passou sob a rodovia, fizeram conversão à esquerda e aceleraram rumo à sede da comarca, para viverem belos momentos.
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O Etelvino terminou de carregar o velho caminhão no Mercado Central, quando as primeiras luzes da sede da Comarca começaram a acender. (A noite chegara sobre a sede da Comarca com a devida aprovação e benção da Câmara Municipal, afinal se a noite não chegasse, o que seria da iluminação pública à gás de mercúrio, caríssima obra que resultou de muitas discussões na casa de leis e polêmica no “Pasquim” local). Quanto ao Etelvino, cansado, porém feliz de naquele dia não ter tido nenhum desmaio, instalou-se na cabine do caminhão, deu partida e entrou vagarosamente no acesso da Rodovia Anhanguera. Mal entrou na rodovia, começou uma fina chuva. O barulho da água da chuva sob os pneus e sobre a capota da cabine era um convite para dormir ao volante. O ar frio que entrou, de repente, na cabine fez com que o Etelvino arrepiasse dos pés à cabeça. Num átimo, lembrou-se do empregado recém-falecido, o Izaltino, que prometeu infernizá-lo depois de morto. O vento do caminhão ao passar pela estrada provocava um redemoinho, que contorciam e dobravam os capinzais à sua passagem. O barulho nos capinzais começou a causar medo ao Etelvino. Por vezes pensou ouvir a voz do Izaltino gritando:

- Pare este caminhão! Aqui é o Izaltino. Pare este caminhão.

O Etelvino fechou e abriu os solhos com força. Por certo estava muito cansado e ansioso. Afinal a usina de álcool, pela qual tanto lutara, seria inaugurada no dia seguinte e ele seria homenageado pelo governador em pessoa, pelos seus esforços na construção daquela usina. Seria reconhecido por todos, com fotos nos jornais, entrevistas em rádio e televisão, onde seria dito o quanto ele trabalhara para que a usina se instalasse naquele lugar e em nenhum outro. É certo que ele doara o terreno e prometera que ainda forneceria toda a matéria prima que a usina necessitasse: a mandioca! Ele como que via sua foto nos jornais ao lado do governador, com manchetes enaltecendo sua atuação. Voltou à realidade: o frio que passava pelas frestas dos vidros, ao invés de animá-lo, antes, aumentava o sono. N a escuridão da estrada, os capinzais deitando-se à passagem do caminhão e aquela voz:

- Pare este caminhão! Aqui é o Izaltino. Pare este caminhão!

Quando se aproximou dos pontilhões do sistema viário, pouco antes do vilarejo, a chuva tornou-se torrencial. Ele não via mais que trinta metros à frente; o limpador do para-brisa na última velocidade. O aguaceiro distorcia as imagens; as luzes desenhavam monstros espectrais; e o Etelvino morrendo de medo. Ao passar sob o pontilhão principal do sistema viário, no cruzamento com uma variante da estrada, ouviu um baque surdo na carroçaria do caminhão. Ele prestou atenção, mas não ouviu mais nada. –Deve ser impressão minha, pensou; e seguiu adiante. Mais um quilômetro; a chuva amainou e ele já sinalizava para entrar no a- cesso da usina. Aquela seria a última partida de mandioca que ele traria por sus próprias mãos. Depois da inauguração, queria voos mais altos: poderia ser vereador ou prefeito, ou quem sabe secretário de governo? A placa ao lado da estrada de acesso da usina indicava que faltavam cinco quilômetros. Nesse instante, em que a chuva já não caía e que uma misteriosa névoa havia invadido a estreita estrada de terra, o Etelvino deu um grito horripilante.
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Tão logo o Izaltino e Agripina entraram na rodovia em direção à sede da Comarca, o tempo fechou rápido. Rajadas de vento de mais de oitenta quilômetros por hora irromperam, trazendo consigo uma chuva torrencial. Debaixo de chuva, Agripina e Izaltino levantaram a capota do jipe, que não sabiam ser tão difícil. Tudo dentro do jipe estava molhado. A roupa que o casal vestia, estava colada à pele. De tão surpreso com a rapidez da chuva, da capota aberta e da roupa molhada, nem se falavam. De quando em quando se via a luz de um ou outro carro vindo em sentido contrário. No entanto o vidro do pára--brisas ficou totalmente embaçado. E começavam a sentir frio. Ela, para levantar o astral do querido Izaltino, abre a sua maleta e de lá retira uma garrafa de vinho do Porto, que ela secretamente ocultara. Ele, maravilhado com o fato, tomou um longo trago, findo o qual, ela tenta recolocar na maleta, no que é impedido por ele, que toma mais três ou quatro goles. Agripina vê, com pesar, que a garrafa já está pela metade. E começa a discutir, enquanto o álcool do vinho do Porto começa a atuar. E ele, embora pouco possa ver em meio à borrasca, finca o pé no acelerador, enquanto ela suplica: ele ri, ri muito, ri alto, e resolve recolher, de novo, a capota do jipe! Ele bêbado e feliz, quer sentir aquela chuva na cara, pouco se importando com ela. E mais acelera, e mais ri, até que ao passar num pontilhão por sobre o sistema viário, justamente na junção com a estrada que vem da sede da Comarca, ele bate violentamente na amurada, no exato momento em que para sentir maior sensação, dirigia “de pé”. Um estrondo se ouve, e os dois passageiros do jipe são atirados para fora. Agripina estatela-se no meio da rodovia, nariz sangrando, e desmaia. 
O Izaltino foi jogado por cima da amurada e vai caindo na pista de baixo, numa altura de dez metros. Eis, porém que, antes de esborrachar-se no asfalto da pista que está abaixo, passa o velho caminhão do Etelvino, carregado d e mandiocas. Izaltino desfalece e permanece desmaiado por cerca de dez minutos. Agora sóbrio, desespera-se ao ver-se só, sem Agripina, em meio a mandiocas enlameadas. Ergue-se tanto quanto pode, e nota que há somente uma pessoa na cabine do caminhão. Olha à volta: a estreita estrada de terra está envolta por uma névoa espessa. Pensa em saltar do caminhão em movimento, mas lembra-se que já tem mais de setenta anos e, mesmo em baixa velocidade, um tombo pode significar a morte. Mas ele quer saber da Agripina! Não tem a menor ideia de como foi parar no velho caminhão de mandiocas. Então, resoluto, arrasta-se por sobre as mandiocas enlameadas; ele próprio um barro só, da cabeça aos pés. Desesperado grita para o caminhão pare. Não tem resposta. Então, arrasta-se até o mais próximo possível da cabine, e grita a plenos pulmões:

- Pare este caminhão! Aqui é o Izaltino! Pare este caminhão! Aqui é o Izaltino!

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O grito de horror do velho Izaltino foi seguido de outro, tétrico, do Etelvino. –Meu Deus, pensou o Etelvino: o Izaltino veio me buscar. Vou morrer e vou com ele “pros infernos”. O caminhão seguia lento; desesperado na carroçaria, o Izaltino deu meia dúzia de murros na cobertura da cabine, gritou, gritou mais de cem vezes: - pare este caminhão! Aqui é o Izaltino. Pare este caminhão!

Paralisado de terror, Etelvino freia o caminhão automaticamente, atônito, corpo gelado. Izaltino então, não sem muito esforço, desce do caminhão e caminha até a cabine. Bate na porta, chama; ninguém responde! Sobe então no estribo e olha. Ao volante o Etelvino paralisado, olho arregalado e vítreo. Na face, nenhuma reação! Com muito custo o Izaltino entra na cabine pela outra porta e incita o Etelvino com gritos primeiro; depois com xingos e pescoções. Só quando o dia já amanhecia é que aos poucos o Etelvino voltou a si. Primeiramente movimentou uma das mãos, depois os joelhos das duas pernas, e mexeu os olhos. Estava pálido e aterrorizado. Mais alguns instantes, e começa a chorar, rosto apoiado nos joelhos. Izaltino o incita mais e ele então se apruma e olha. A visão daquele senhor alquebrado, coberto de lama preta dos pés à cabeça; onde até no rosto tem tabletes de lama, é aterrorizante. Etelvino então balbucia:

- Quem é você?
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Agripina volta a si com gritos de pessoas o seu redor:

- Ei dona, acorde. Ei dona! Ei.... !!!!!!!!!!!!

Ela abre os olhos. Está deitada no acostamento da rodovia. Sob a cabeça, a guisa de travesseiro, uma mochila ou embornal; provavelmente de uma daquelas pessoas. Ao seu lado, no acostamento um velho ônibus estacionado, que não deixa dúvidas: são boias-frias. Provavelmente, pensou, pararam na rodovia para socorrê-la. E era isso mesmo! Aos poucos sua consci6encia foi voltando. Estava toda molhada. Lembrou-se da festa, do jipe que era presente dos filhos, e do marido. Ai então falou:

 - Onde está o Izaltino?

Um dos homens que a havia socorrido disse:

-Não tem mais ninguém não, dona!

Agripina visualizou o jipe a poucos metros. Cambaleante, foi até lá e pode constatar que nada mais havia no jipe além de duas maletas e uma garrafa de vinho do Porto, totalmente vazia. Ela desesperou-se e gritou a plenos pulmões:

 -  I –Z- A- L- T -I -N -OOOOOOOOO!

O silêncio foi a resposta! Um pouco mais calma, Agripina relatou às pessoas que ali estavam, o quê ocorrera. Agora era essencial encontrar o Izaltino. Procuraram-no nas moitas dos capinzais ao longo e ao rés da rodovia, numa plantação de laranjas, em cima e em baixo do pontilhão. Tudo foi vasculhado. Nada! Resolveram então levar a Agripina para o vilarejo e comunicar aos filhos que o velho Izaltino havia desaparecido.
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Tão logo o Etelvino perguntou quem era aquela pessoa enlameada, o “homem das mandiocas” respondeu:

- Izaltino, seu criado! O senhor não está bem e vou levá-lo.

Etelvino sentiu chegado o momento final. Começou por tremer os lábios, depois os dentes, ao final todo o corpo tremia; e mais uma convulsão tomou o corpo. A diferença das outras convulsões é que, desta vez, era acompanhada por dores no peito, além de uma taquicardia. Os olhos turvos do Etelvino nem chegaram a prestar atenção que no retrovisor do velho caminhão alguns pontos escuros mostravam os carros embandeirados com o nome do governador e do partido; era o governador que chegava em carreata, para inauguração da usina. Os carros aproximaram-se em baixa velocidade. O próprio governador e seu secretariado socorreram-no e acompanharam aquelas que seriam as últimas horas de vida do Etelvino. Um carro foi designado para levar o Izaltino, ao passo que uma perua equipada com equipamentos de primeiros socorros e pequena sala de cirurgia que acompanhava a comitiva, foi colocada à disposição. Na parte lateral da perua estava escrito: “Unidade Móvel de Saúde”. Nesta perua o Etelvino foi conduzido para casa, conforme desejo do governador que, aliás, convidou a imprensa que os acompanhava para que o fotografassem ao lado do moribundo, que “Ele haveria de transformar em mártir e herói”. Foram muitas as fotos, inclusive uma em que o governador agachado junto ao Etelvino, em meio à parafernália hospitalar, esforçava-se para ouvir aquelas que seriam as últimas palavras do moribundo. De fato, quando o governador levantou-se, o Etelvino já havia partido deste mundo.
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A usina foi inaugurada, mesmo com os contratempos, pois o governador julgava que estava lucrando politicamente com os fatos. Mas, após o discurso de inauguração da usina, durante o coquetel em que o governador tomou o maior porre, os jornalistas indagaram-no, sobre quais teriam sido as últimas palavras do Etelvino, o mito; que dava nome à usina. O governador, muito emocionado, garantiu que ouvira as últimas palavras daquele herói que “dignificava o povo paulista”. O Etelvino teria dito, não sem muito esforço:

- Governador, tire o pé da mangueira de oxigênio!

Autor: Antônio Carlos Affonso dos Santos


Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS. Nascido em julho de 1946, é natural da zona rural de Cravinhos-SP (Brasil). Nascido e criado numa fazenda de café; vive na cidade de São Paulo (Brasil), desde os 13. Formou-se em Física, trabalhou até recentemente no ramo de engenharia, especialista em equipamentos petroquímicos.  É escritor amador diletante, cronista, poeta, contista e pesquisador do dialeto “Caipirês”. Tem textos publicados em 8 livros, sendo 4 “solos” e quatro em antologias, junto com outros escritores amadores brasileiros. São seus livros: “Pequeno Dicionário de Caipirês (recém reciclado e aguardando interesse de editoras), o livro infantil “A Sementinha”, um livro de contos, poesias e crônicas “Fragmentos” e o romance infanto-juvenil “Y2K: samba lelê”.