sábado, 18 de julho de 2020

DA FERROVIA E DA UTOPIA!

Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

A vinte e seis do mês de outubro de 2019, a RIONOR organizou, em Alcañices – Espanha mais uma edição dos Conselhos Raianos, sob o tema “Cooperação Transfronteiriça e Desenvolvimento” onde compareceram vários autarcas raianos, do lado de cá e de lá da raia, bem como outros responsáveis regionais políticos e académicos. Dos vários temas tratados há um que me é caro e pelo qual dou a cara: a ferrovia! Que, aparecendo agora, mesmo que timidamente, na ribalta dos roteiros políticos, há três anos, quando o tema foi lançado pela Rionor, em Bragança, não passava, como muito bem lembrou o João Ortega, de uma utopia!

Uma utopia, em Portugal e no nordeste, já que no resto do mundo, os avanços neste campo não param de nos surpreender não só com a recuperação de vias abandonadas, com o incremento de muitas existente e, sobretudo, com os avanços tecnológicos, no advento do comboio-bala que atingirá, brevemente, a espantosa velocidade de quatrocentos quilómetros por hora!!

O que pode justificar que, em pleno século XXI se continue a reclamar a concretização de ligações móveis com base em tecnologia proveniente do século XVIII com as devidas modernizações e adaptações. Usei, para o justificar, um acrónimo MES, em triplicado. Nos dias que correm o comboio é Moderno, Modular e Motor de desenvolvimento sustentado.

A Modernidade traduz-se no elevado estado da arte dos comboios pendulares, dos trens de grande velocidade, dos metros citadinos e suburbanos das grandes metrópoles, sem esquecer o já referido comboio-bala. É Modular e isso é uma enorme mais-valia nos tempos modernos onde a adaptação, a personalização e a produção baseada nos stocks nulos e o “just-in-time” são a base comum da maioria dos processos produtivos. O Motor de desenvolvimento regional fica facilmente evidenciado se se fizerem coincidir as linhas propostas pelo PNPOT e as linhas férreas existentes no país, no início do século passado.

São também três as características começadas pela letra “E”: Ecológico, Económico e Eficiente. Usando um canal exclusivo, sendo elétrico e, sobretudo magnético, sem emissões de CO2 e sem outras agressões ambientais, é difícil encontrar meio de movimentação mais Ecológico que o comboio. Não é necessário demonstrar a Economia associada às linhas ferroviárias, seja para transportar todo e qualquer tipo de mercadorias ou passageiros. A Eficiência mede-se pela capacidade, sem qualquer limitação tecnológica, para reverter as funções dos elementos motores que, a descerem, facilmente se convertem em geradores recuperando larga percentagem da energia consumida.

Finalmente, os “S”. A Segurança e o Silencio são de tal forma óbvios que merecem poucos comentários. Comparado com o principal concorrente, o avião, as vantagens são esmagadoras. O último S é recente. O grande nível de sex appeal revelou-se na última campanha eleitoral lusitana. Não tendo havido uma única referência digna nas eleições de 2015, nas mais recentes, não houve nenhuma força partidária, das duas vintenas de concorrentes que não colocasse a ferrovia como um desígnio nacional, no respetivo programa.

Ora se todos concordam com a aposta no comboio como uma prioridade só resta, como muito bem referiu a vice-presidente da Rionor, Raquel Linacero, dar corda ao relógio e pô-lo a funcionar!


José Mário Leite, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia) e A Morte de Germano Trancoso (Romance) tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.

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