quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Vinhais abre festas de inverno com a cabra e o canhoto em Cidões

O município de Vinhais abre no fim de semana a festividades de inverno no Nordeste Transmontano com o chamado “Halloween transmontano”, que chama centenas de forasteiros à aldeia de Cidões para a Festa da Cabra e do Canhoto.
Foto de Ricardo Ramos
Nos últimos anos, os pouco mais de 20 habitantes da pequena aldeia deram visibilidade ao que apresentam como uma tradição de origem celta que, na noite de sábado, enche as ruas da localidade de figurantes e curiosos em torno da fogueira onde arde o canhoto (tronco de árvore) e se prepara o guisado de cabra.

A festa assinala a chegada “da estação escura”, o inverno, e tem ganhado parceiros, sobretudo na preparação cénica, com formandos do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) a prepararam as figuras emblemáticas, no caso o bode que representa o diabo e acabará por ser queimado na fogueira.

"Quem da Cabra comer e ao Canhoto se aquecer, um ano de muita sorte vai ter!”, é a promessa que rege os festejos que a Associação Raízes recuperou e levou além das fronteiras de Cidões, como realçou o presidente José Taveira.

Na noite de sábado, um cortejo percorrerá as ruas da aldeia com a participação de gente da terra do grupo o Reino da Euforia de Santa Maria da Feira, o grupo Animamos, o Teatro Filandorra e os Gaiteiros de Zido, Gaiteiros da lombada.

O antigo largo da Eira é o palco principal da festa, onde se acende a fogueira, mas toda a aldeia é decorada com motivos celtas.

A organização decidiu também instalar uma tenda para garantir espaços cobertos em caso de chuva, e onde há várias tasquinhas com bebidas típicas desta festividade, como vinho, sangria, e licores celtas, e petiscos variados, desde linguiça, alheira, caldo verde, bifanas e feijoada à Cidões.

Nesta noite é também obrigatório comer a cabra machorra (velha), cozinhada em enormes potes de ferro, à fogueira, e que representa a mulher do diabo que não deu qualquer descendência.

O repasto é regado pela “queimada” (bebida) com um esconjuro que “promete afastar todos os demónios e males ou infortúnios que lhe estão associados e invocar prosperidade e fertilidade”. Entre os diversos rituais associados à festa, o ponto alto é “a queima do bode que desperta a ira do diabo que pouco mais tarde há de descer pela aldeia, em cima de um carro de bois, puxado pelos moços da terra”.

Um carro de bois com as tarraxas bem apertadas, que chia assustadoramente, torna o momento mais aterrorizador.

Já de madrugada, num ritual reservado aos filhos da terra, a aldeia será virada literalmente do avesso.

Segundo os promotores, “esta festa originalmente designada de “Samhain” era a comemoração celta mais importante, celebrada em toda a Europa, até à sua conversão ao cristianismo, e correspondia ao “Ano Novo Celta”, que tinha início com a estação escura.

A figura do diabo marca as festividades de inverno no Nordeste Transmontano e é também com ele que Vinhais encerra o calendário antes da Quaresma, com os “Mil Diabos à Solta”.

A mesma simbologia têm as máscaras usadas pelos caretos, os tradicionais mascarados desta região, que saem à rua por altura do Natal e Ano Novo, nas Festas dos Rapazes, e no Entrudo Chocalheiro.

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