segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

A áugó deu, áugó lubou!...

Por: Silvino dos Santos Potêncio
(colaborador do "Memórias...e outras coisas..")
Emigrante Transmontano em Natal/Brasil – desde 1979


Se não tens apetite não culpes o teu alimento! (Tagore)

Eu mesmo, a mais das vezes eu me sento na mesa da Literatura Lusitana, a qual é fartamente recheada de todos os gêneros alimentícios (para a língua) e gêneros literários para o espírito. E  quando eu me levanto sempre digo - se visse antes o que vejo agora, eu não teria comido nada! - Silvino Potêncio - (passageiro do "Niassa"em fevereiro de 1965)  

O velho e saudoso "Niassa" encostou no cais de Alcantara, quando então ele fazia fretes ao serviço da CNN - que nada tem a ver com a empresa do marido da Ti Jane Fonda, aquela "Barbarela" que tinha a "síndrome da China" - para mais uma viagem rumo ao ultramar. 
- Já se tinham passado cerca de quatro anos desde que ele, - o nosso velho e bom bote transatlântico, qual "Cacilheiro"  que transportava na sua grande maioria cidadãos ao serviço da pátria tanto civis como militares - mas que sofria da "síndrome" da Índia, melhor dizendo da influência imperialista que vinha das Índias americanas, as quais se comportavam,  em relação aos portugueses,  como "aquelas mulheres de Atenas" (sarává ó grande mestre Chico, filho do não menos conhecido baluarte do dicionário da língua de todos nós , o "Buoarco da Holanda").
 - Nesta viagem absolutamente real no tempo e no espaço,  eu fui forçado pelo próprio destino a embarcar nele, embora nunca tivesse sido marinheiro! Claro,  - e  isto porque sendo eu oriundo "lá de xima" das terras altas,  eu vi o "mar da palha" pela primeira vez quando  já tinha uns treze anos incompletos, ali do portão principal da Estação de Santa Apolónia,  que fica um pouco mais acima do lugar onde começa a minha viagem de hoje - ou seja; o depoimento escrito de memória de eventos que marcaram a  minha pequena trajectória física rumo aos mares do sul. 
- E me vem isto a propósito de umas recentes reprimendas literárias lidas e absorvidas, como quem come a sopa ainda quente ou uns pratos de "milhos" feitos à moda Minhota, sempre com a colher pela beira do prato... e que me deu vontade de fazer mais este texto, porque achei que o autor das tais "Vergastadas" virtuais ele exagerou na dose do tempero e das "águas de bacalhau", que é o que normalmente acontece aos escritos que falam mal do bem que os outros escrevem ao falar mal do bem deles mesmos. 
- Dependurado no corrimão do "deck" inferior que levava aos aposentos da "galera de terceira classe", e para que o Ti Zé Artur não me visse de novo a chorar porque esta seria a minha última vez em vida!, eu desci à procura do meu camarote aonde permaneci deitado por uns dois dias e meio sem coragem para subir nem para o refeitório - digamos restaurante, porque ali ainda se vivia, comia e respirava um pouco da aristocracia Lusa, feito uma cópia remanescente dos grandes feitos dos Albuquerques e dos Vascos da Gama, dos Cabrais, e dos Gonzalo Zarcos, dos Bartolomeus Dias e noites a navegar lá na proa tão "emproados" que eles eram...os dos tempos dos “ir ós do maaar”!
- Foram quatorze dias de navegação, com gente que nunca mais vi no resto da minha vida!... E se algum dos leitores porventura se lembrar desta viagem, que entre em contacto. 
- Por certo ele há-de achar o caminho de volta para me encontrar!  
- E lá fui eu com vários companheiros de viagem que se aventuravam no sentido contrário da tendência natural dos movimentos migratórios daquela época, tão conturbada nos territórios Portugueses ultramarinos; - quem se aventurava a ir para Angola, Moçambique, Guiné?!... quando,  na verdade, naqueles tempos, de lá vinham tantas pessoas fugindo de situações tão absurdas criadas no pós 4 de fevereiro de 1961?,... Eu fui!...enfim, o destino é assim algo como um interregno previamente programado, e uma sublime surpresa entre os dois momentos mais importantes na vida do ser humano; o da sua nascença e o do seu passamento.  
- Depois que o útero materno solta as "águas", irremediavelmente, todos nós descemos rio abaixo em direcção ao "mar da palha" que é a esteira do esteio de cada um de nós, até ao momento derradeiro de voltarmos ao pó da essência volátil que se perde no espaço infinito do esquecimento eterno… 

(in: OS NÏZCAROS De: Silvino Potêncio)

Silvino dos Santos Potêncio, nascido a 04/11/1948, é natural da Aldeia de Caravelas no Concelho de Mirandela – Trás-Os-Montes - Portugal.
Este Autor tem centenas de crônicas, algumas já divulgadas sob o Título genérico de “Crônicas da Emigração”.  Algumas destas crônicas são memórias dos meus 57 anos na Emigração foram incluídas nos Blogs que todavia estão inacessíveis devido ao bloqueio do Portugalmail.pt, porém algumas foram já transcritas para a Página Literária. 
Presidente Fundador do Clube Português de Natal e Membro activo de várias páginas em jornais virtuais ligados ao Mundo da Lusofonia.
01 – POEMAS DE ANGOLA – “Eu, O Pensamento, A Rima!...”
02 – E-Book (Livro Electrônico): “UM CONVITE P’RA TOMAR CHÁ”
03 - CURRIÇAS DE CARAVELAS- TROVAS COMENTADAS é uma Antologia que contém  Trovas  e Textos Auto Biográficos da Aldeia Transmontana.
São livros da minha autoria já prontos para Edição e publicação brevemente.
Actualmente mantenho uma página literária própria, como Emigrante Transmontano em Natal/Brasil, no Portal Recanto das Letras. 
O sitio do Escritor Silvino Potêncio  www.silvinopotencio.net  está aberto a visitas de todos os leitores de Lingua Portuguesa.

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