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| O BOGUEIRO - Abril de 1985 |
Chamavam-lhes tontinhos, maluquinhos, líricos...não têm mais que fazer.
Outros chamavam-lhes cabeludos, outros chamavam-lhes fundamentalistas, outros nem lhes chamavam nada.
Uns não entendiam, outro sentiam-se incomodados. Mas esses rapazes e sei do que estou a falar, estavam-se literalmente cagando (queria dizer borrifando, perdão), para essas opiniões dos engravatados.
Esta dúzia de rapazes falava de coisas que não interessavam a ninguém. Do tipo...é preciso e imperativo preservar a natureza, (o termo biodiversidade ainda não se utilizava), devemos legar às gerações futuras um planeta, no mínimo, com a qualidade que tinha quando nós chegámos. Só diziam parvoíces. Líricos.
Colocavam ninhos artificiais, faziam recenseamentos de espécies animais, utilizavam binóculos ao invés de espingardas e pescoçeiras, faziam anilhagem..., levavam para casa animais feridos, pela insensibilidade dos "outros" e tratavam-nos como se tratam os bebés e, ficavam até de madrugada, a fazer boletins informativos em serigrafia a expensas próprias..., já faziam uma espécie de autocolantes que lá iam distribuindo como podiam e com critério, o dinheiro era escasso, limpavam as margens e os leitos dos rios...TONTINHOS.
Passadas umas décadas, os tontinhos verificam que, as parvoíces que diziam e que serviam de chacota aos ilustres...fazem agora parte dos grandes debates da humanidade. Fazem parte das políticas dos governos de todo o mundo, das autarquias locais, pelo menos na teoria, fazem parte dos programas dos partidos políticos, fazem parte das prioridades da ONU e de todas as organizações internacionais.
Surgiram entretanto milhares, milhões de ONGs na área do ambiente. Estas parvoíces fazem parte dos curriculuns escolares, com doutoramentos na área, estas parvoíces...AFINAL, não eram parvoíces assim...TÃOOOOO GRAAAANNNNDEEEES.
Valeu a pena?
Tudo vale a pena se a alma não é pequena...
A LUTA CONTINUA!
Só o futuro é que poderá dizer se uma luta foi, ou não, inglória, por isso e na dúvida, vale sempre a pena lutar por convicções.
Assina: Um dos parvos.
Sempre assim foi. A sociedade sempre criticou e chamou tontinhos àqueles que têm uma visão mais à frente.
ResponderEliminarÉ a reacção à mudança dos valores e dos comportamentos instituídos.
Quando nos desviamos da normalidade passamos a ser anormais!!!!.
O tempo acaba sempre por repor a verdade e dar valor a estes "tontinhos"
em sofreu Galileu. Continuamos na mesma senda, não contrariar os comportamentos, os actos institucionalizados.
É bem verdade que muita gente olhava de “esguelha” esses rapazes de então. Mas esse olhar de reprovação ou, na melhor figura, de incompreensão, era largamente compensado pelos olhares das gentes das nossas aldeias e lugarejos onde esses “tontinhos” se deslocavam para seguir a sua paixão: preservar as espécies mais ameaçadas e seu património genético para as gerações futuras.
ResponderEliminarInolvidável o olhar clemente de um punhado de mulheres que, com os seus cântaros, faziam “bicha” na fonte de Cércio, quando dois desses “tontinhos” , depois de passarem um dia inteiro observar e contar as rapinas nas tórridas arribas do Douro e com as parcas reservas de água dos seus cantis esgotadas, chegaram com um ar tão “saudável “ que elas disseram em côro :” ai senhores, bebam, bebam depressa senão inda nos vão s’falecer aqui”.
Soberbo aquele “pôr de sol” junto ao ninho da cegonha da lagoa de Malhadas!
É claro que hoje, esses “tontinhos” já não possuem a mesma agilidade para trepar a um “negrilho” (ainda abundantes naquele tempo) com uma serra “manhosa” ou um partelo enferrujado a tiracolo para cortar alguns “galhos” que impediam as cegonhas de se reinstalar nos seus ninhos ancestrais, ou “plantar” alguns ninhos artificiais para aves insectívoras no tronco de um velho carvalho.
E creio bem que, mais de três décadas passadas, a geração dos filhos desses “tontinhos” poderá orgulhar-se dos resultados das “bizarrices” desse punhado de rapazes de então . As cegonhas voltaram a dizer presente por todo o distrito, encantando todos com o “clotorar” das suas paradas nupciais, os voos circulares e observadores das diversas espécies de rapinas são bem mais visíveis agora nos céus do nossos campos.
Assina: un desses ‘tontinhos”
Pelo conteúdo do comentário é, para mim, extremamente fácil saber quem és.
ResponderEliminarEspero sinceramente que esteja tudo bem contigo.
Grande abraço Velho Amigo.
Claro que que te é bem fácil, pois tu viveste estes momentos comigo.
EliminarAgora quero felicitar-te por este teu excelente blog, de que eu tive conhecimento, por acaso, há apenas alguns dias.
Não imaginas como foi reconfortante ler estes "post's" no meio de uma exploração petrolífera em plena selva indonésiana onde estou desde há alguns dias. Juro-te que o velho "bichino" continua cá dentro e tenho conseguido convenver algumas das pessoas que aqui trabalham em permanência (eu venho cá apenas de vez em quando) que, com pequenas mudanças de hábitos, pequenas atitudes, podemos fazer muito para prezervar o mais possível este belo habitat.
Um grande abraço, quasi avô !!! Parabéns
Ainda andam por aí, alguns desses parvinhos a chatear muita gente, só que agora teem um nome mais pomposo.
ResponderEliminar"Teóricos da Conspiração".