Eu, no papel do Fidalgo, no final dos anos 70. A representação teve lugar no Cine-Teatro Torralta e... estava apinhado de público, como sempre, nesses tempos. |
domingo, 26 de janeiro de 2014
Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente
Anjos e diabos fazem parte da cultura popular, seja ela portuguesa ou de outra geografia qualquer. Depois deste Auto da Barca do Inferno, também uma Alcoviteira, um Judeu, um Magistrado, um Fidalgo e um inesquecível Parvo passaram a estar presentes nas bocas de todos.
Numa época em que a arte literária se começava a apurar (século XV e o arranque da aventura dos Descobrimentos serviam de inspiração), Gil Vicente era uma voz única e sonora quanto baste na corte portuguesa. As suas peças de teatro são um quadro apurado de um outro Portugal, em que as personagens-tipo conseguiam concentrar em si todos os defeitos e todas as ( poucas, segundo Gil Vicente) qualidades das várias classes sociais. Neste Auto atingiu o zénite e a história é tão simples, quanto os diálogos são influentes... e contundentes. Na travessia de barca que sucede o último fôlego, um Anjo e um Diabo preparam o julgamento e é nestas argumentações, por vezes ridículas, por vezes sérias demais, que descobrimos os destinos dos personagens. No fim, porque a moral é implacável e os pecados têm que ser redimidos, o destino de quase todos é o mesmo: as portas do Inferno abrem-se para a maioria. Cinco séculos depois da sua primeira apresentação pública, o Auto da Barca do Inferno continua a cumprir o seu objectivo de moralizar, de ensinar e de, porque afinal de contas Portugal continua o mesmo, satirizar a realidade.
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