quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A Guerra de 1908 e O Bombeiro Voluntário - Raul Solnado

Raul Solnado morre aos 79 anos Humor nacional perdeu o mestre. Costumava dizer que uma piada levava horas a ser feita e se esgotava num instante. Aos 79 anos, Raul Solnado parou de rir: morreu vítima de doença cardiovascular grave, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. A gargalhada foi a sua arma em mais de meio século de carreira, com marcas fortes na televisão, teatro e cinema. As piadas fintaram a censura, brincaram com a guerra, entraram na farsa, na revista e no concurso popular. Lisboeta de gema, do bairro da Madragoa, conservou sempre o ar traquina de miúdo e começou no teatro amador, em 1947, onde disse ter sido o actor António Silva quem puxou por si. Depois de se estrear no palco do Maxime, Solnado marcou o humor graças ao monólogo.
A Guerra de 1908, depois editado em disco e que se tornou êxito em 1962. Foi o começo de uma forma de humor satírica e sem nunca recorrer ao palavrão, opção que Raul Solnado sempre rejeitou nos seus números. Hoje muitos consideram as suas rábulas percursoras do popular género da stand up comedy. Ainda antes da televisão, com Zip-Zip (1969), Solnado usou o teatro para vincar o seu nome, ao ponto de se lançar na abertura do Teatro Villaret, que abriu em 1965, tendo-o como protagonista em O Impostor-Geral. Mais tarde, luta pela classe e cria em 1999, com Armando Cortez, a Casa do Artista, de que era director, para apoio na terceira idade.
Embalado pelo sucesso televisivo ao lado de Carlos Cruz e José Fialho Gouveia, também já desaparecido, entrou na revista Há Petróleo no Beato (1986) e na série Lá em Casa Tudo Bem (1987). Experimentou ainda a telenovela, seja com A Banqueira do Povo (1993), na RTP 1, ou breves participações em Morangos Com Açúcar (2005) ou Ilha dos Amores (2007), ambas na TVI. No cinema, o papel de inspector Elias em A Balada da Praia dos Cães (1987), de José Fonseca e Costa, foi o ponto mais alto.
Em 1991, pela mão da ex-mulher Leonor Xavier, lança a biografia A Vida não se Perdeu. Ao lado do humorista Bruno Nogueira, Solnado gravou já doente a série As Divinas Comédias, que a RTP 1 começou a exibir ontem e analisa a evolução do humor, que conhecia como ninguém. Está ainda em pós-produção o filme América, de João Nuno Pinto, derradeiro papel do homem que repetia: 'Façam o favor de ser felizes.' VIDA E OBRA DE RAUL SOLNADO Teatro, discos, programas televisivos e filmes serviram para demonstrar o talento de quem tem a Casa do Artista como o seu grande feito. 1929 - Nasce em Lisboa 1953 - Estreia-se no teatro de revista com Viva o Luxo, no Teatro Monumental 1960 - Recebe o prémio de Melhor Interpretação Masculina do SNI graças ao filme As Pupilas do Senhor Reitor 1962 - Disco com sketches como A Guerra de 1908 e A História da Minha Vida bate recordes de vendas em Portugal 1969 - Grava o primeiro programa Zip-Zip, com Carlos Cruz e Fialho Gouveia, que ainda hoje é um dos símbolos da RTP 1977 - Repete o sucesso na televisão graças ao concurso A Visita da Cornélia 1987 - Interpreta um memorável detective em A Balada da Praia dos Cães, em que José Fonseca e Costa adapta o livro de José Cardoso Pires 1993 - Participa na telenovela A Banqueira do Povo, protagonizada por Eunice Muñoz 1995 - Interpreta O Avarento, de Molière, no Teatro Cinearte 1999 - Inauguração da Casa do Artista, um dos seus grandes projectos 2001 - Regressa pela última vez aos palcos em O Magnífico Reitor, peça de Diogo Freitas do Amaral. 2007 - Contracena com a neta, Joana Solnado, na telenovela A Ilha dos Amores.
 A televisão portuguesa mudou em 1969 com a forma de fazer rir ao vivo de Raul Solnado. Em apenas sete meses, Zip-Zip tornou-se um clássico da RTP, graças à boa disposição do artista, à crítica social e à cumplicidade com os apresentadores e amigos Carlos Cruz e José Fialho Gouveia, também já desaparecido. Solnado volta ao registo cómico no concurso A Visita da Cornélia (1977), no qual contracenava com um boneco em forma de vaca. De novo ao lado de Cruz e Fialho Gouveia, aparece ainda no programa E o Resto São Cantigas (1981).

1 comentário:

  1. Um homem de grande sensibilidade e generosidade.
    O humorista que em tempos mais distantes, nos fazia rir atraves da rádio e nos dava momentos de grande divertimento.
    A guerra do Solnado fez furor e é sem dúvida uma das suas grandes obras humorísticas.

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