Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
Perdi o sono nesta sexta-feira à noite e tu repousas nos abraços doutras terras, doutros sítios…e repetes de novo as frases que mil vezes te ouvi e que eu um dia acreditei que eram únicas e intemporais.
Sempre que regressas já não me encontras…pois tremendamente envelheço sempre…cada vez mais…em cada partida…quase na razão directa do quadrado dos tempos.
Acho que capitulei…hoje, sexta-feira à noite.
E perdi a batalha onde pelejei para que a Terra continuasse a girar à volta do Sol…
Capitulamos Galileu…hoje sexta-feira à noite…e o coro dos gloriosos, triunfantes, juram que o Sol, todos os dias, nasce perto da sua casa e caminha sem pressa para um poente luminoso sem magoas, nem tristezas…
…Eles é que têm razão Galileu Galilei…
E eu juro que já não tenho forças para abraçar as causas!
O conhecimento traiu o Filósofo quase à beira do primeiro porquê.
E eu também capitulei…hoje sexta-feira à noite…e senti uma vontade imensa de seguir o sol que nasce na minha casa e meigamente se põe na Senhora da Serra e ficar embalando a Terra que há milhões de anos repousa serenamente, sem se mexer, no mesmo lugar.
E quase todas as mulheres e homens da minha aldeia sabem isso…e acho que são felizes…
…erramos Galileu!
Por isso, tenho vontade de comprar lombadas de livros e enfeitar as estantes…e ser feliz à beira da ignorância mais tranquila…
Ouvi dizer que pensar incomoda como andar à chuva…por isso sinto os ossos a doer…mas quase feliz por ter capitulado…sexta-feira à noite.
Verdadeiramente capitulei…e na verdade estava quase à beira do conhecimento.
Sinto que o anjo de todas as partidas e das breves chegadas anda por perto.
Já ouço os silêncios e o regresso dos que partiram para casa do infinito…
Quando ouvimos os silêncios é porque as vozes se calaram e os sorrisos se perderam no horizonte onde se inventavam searas…e frutos maduros prenhes de sol.
Sexta-feira 03.45 quando virá o sol…e será Sábado…
Mas acho que o Sábado também é uma invenção para afrontar a Sexta-Feira onde morremos todas as semanas, mais um pouco…antes de regressar à casa onde se repousa de todos os cansaços.
Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança.
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.
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