quarta-feira, 27 de maio de 2015

Os Lagares de Azeite e de Vinho

Lagar de Azeite
Como elemento essencial da alimentação mediterrânica, o azeite acompanhou a expansão e a consolidação do império Romano, tendo chegado à Lusitânia antes do início do I Milénio. A Trás-os-Montes a oleocultura chega muito mais tarde, talvez já no final da Idade Média. Contudo, o "Azeite de Trás-os-Montes", pela sua genuinidade e excepcional qualidade, beneficia já de Denominação Registada e de Marca de Certificação e está inscrito desde 1996 no registo comunitário das Denominações de Origem.
Na TFT esta cultura tem algum significado na parte meridional do planalto mirandês, nas áreas protegidas dos talvegues dos principais rios, onde se faz sentir ainda a influência climática da Terra Quente. Nas proximidades de Izeda, de Santulhão e de Picote existem ainda alguns lagares tradicionais, anteriores à mecanização operada com as prensas hidráulicas e as correias de transmissão.
Estes lagares artesanais, hoje impedidos de laborar pela regulamentação comunitária, se incólumes, são já muito pouco frequentes e constituem testemunhos culturais de excepção, evocando uma actividade que teve muito peso na economia local e que atravessa actualmente uma fase recessiva. Por isso mesmo está em curso, em Izeda, a recuperação de um antigo lagar para aí se instalar o Museu do Azeite.
São construções geralmente isoladas, de planta quadrangular e paredes de alvenaria resistente. Interiormente, dispõem-se os lagares, construídos com enormes monolitos de granito, onde a separação do azeite e da água ruça se faz por aperto contra seiras de esparto encapachadas, operado por varas ou malhais de madeira, que são troncos de castanheiro ou freixo de grande dimensão, com um topo articulado numa parede em rotação cilíndrica e o outro vazado verticalmente por um fuso de sobreiro encastrado num peso (quintal) de granito, constituindo uma prensa de alavanca. Para realizar a primeira trituração, de onde se obtém o bagaço, existe uma espécie de tanque circular em granito, inteiriço - a moenda ou pio - onde giram as galgas, espécie de mós, também de granito, articuladas com um eixo vertical de sobreiro - o balugo - que gira pela transmissão de um engenho hidráulico accionado por uma levada de água, num sistema idêntico ao das azenhas vulgares.
Os lagares de vinho são construções em tudo semelhantes aos de azeite, mas em muito maior número, não se circunscrevendo apenas a uma determinada área, já que a vinha, independentemente das características fitoclimáticas que condicionam a qualidade do vinho, se cultivava em todas as aldeias.
São construções rústicas, integrando o conjunto edificado do assento de lavoura, geralmente adjacente à própria casa de habitação, ou independentes quando são comunitárias, preferindo locais frescos e arejados, muitas vezes até com o piso inferior à cota de soleira.
Lagar de Vinho
Edificados com paredes espessas e resistentes de xisto ou granito e desprovidos de vãos para além de porta de acesso, apresentam no interior dois níveis. Um, superior, totalmente ocupado pelo lagar, à vezes dois, constituido por grandes monólitos solidamente amarrdas e até chumbados para não verterem. Outro, inferior, onde gira um peso grande em pedra que tem encastrado um fuso roscado de madeira rija (carvalho ou sobreiro), como o dos lagares de azeite e como nestes atravessando uma imensa vara de madeira que em posição horizontal cobre o lager. A rotação manual do peso movimenta a vara que esmaga as uvas no lagar que escoa o vinho por uma bica para uma lagareta de pedra de onde se trasfega para os tóneis.
O vasilhame quando não se acumula no próprio local está na adega, geralmente contígua. De realçar porém, que nalgumas aldeias do planalto mirandês onde a vinha é extensiva e as condições climáticas menos conformes à conservação do vinho, se encontram adegas enterradas, no solo, correntemente designadas por bodegas.

in:rotaterrafria.com

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