PONTOS FORTES
1. A diversidade da paisagem resultante das características morfológicas, hidrográficas e climáticas da TFT, aliada à elevada riqueza do património natural (expresso na qualidade e diversidade dos recursos naturais e na riqueza das diversas áreas protegidas que a região oferece, designadamente ao nível dos Parques Naturais de Montesinho, das Arribas do Douro ou do Douro Internacional e zonas da Rede Natura 2000) e do património de fauna e flora existente na TFT, constituem factores de atracção numa época em que, a procura turística valoriza cada vez mais a convivência com a natureza e em que, a oferta turística procura corresponder a estas expectativas desenvolvendo produtos turísticos adequados às necessidades detectadas.
2. A riqueza cinegética da TFT, expressa na existência de 24 zonas de caça, representa um elevado potencial no âmbito do turismo cinegético.
3. A certificação de diversos produtos locais, garante da qualidade e autenticidade regional, são um dos cartões de visita para o visitante e/ou turista que visita o Nordeste Transmontano, constituindo um factor atractivo e diferenciador da região.
4. A diversidade do artesanato regional constitui outro elemento diferenciador da identidade da TFT.
5. Alguns projectos de valorização dos produtos regionais, como sendo o das "Cozinhas Tradicionais de Fumeiro", poderão representar uma mais-valia na dinamização e promoção do turismo da TFT, cuja importância, não somente em termos económicos, importa maximizar, através da adopção de práticas que tornem esta iniciativa turisticamente viável (como sendo através da produção de materiais turístico-promocionais, da sinalização da localização destas cozinhas e do alargamento/divulgação dos seus horários de abertura).
6. A existência de um rico e diversificado património histórico-cultural que testemunha a passagem do tempo e reflecte a evolução sócio-económica do território da TFT.
7. O património etnográfico da TFT representa um dos seus mais importantes recursos turísticos, de que são exemplos a riqueza, a variedade e a genuidade dos costumes e tradições da expressão folclórica associada às festividades religiosas e profanas e à própria expressão línguistica que resiste de tempos imemoriais num reduto do planalto mirandês.
8. Bragança como principal núcleo urbano da TFT apresenta comparativamente com os restantes concelhos, uma vasta oferta de alojamento turístico, quer em termos quantitativos, como qualitativos, merecendo destaque, contudo, a generalização de inicativas de Turismo em Espaço Rural.
9. A placidez e a tranquilidade da região e lhaneza de trato da população garantem a região como um destino seguro.
10. A variedade de itinerários temáticos e lúdicos possiveis, muitos deles já estudados, com particular relevância para o Caminho Português de Santiago, um dos braços da Vía de La Plata, que deve ser convenientemente recuperado, sinalizado e promovido.
PONTOS FRACOS
1. Apesar da TFT dispor de importantes eixos viários, a sua localização periférica no contexto nacional, em termos de distância-tempo, representa um entrave ao desenvolvimento turístico no segmento de short-breaks e weekend-breaks, reflexo das actuais tendências de repartição do período de férias.
2. A ausência e deficiente sinaléctica turística e direccional existente em todo o território da TFT é um problema que urge resolver, enquadrado numa estratégia de desenvolvimento turístico.
3. Os impactes ambientais resultantes da indústria extractiva de massas minerais, e da poliferação de lixeiras descontroladas ou clandestinas constituem um entrave ao desenvolvimento de um Turismo de Natureza.
4. Está em causa o respeito, conservação e valorização da identidade cultural dos aglomerados urbanos que caracterizam a paisagem transmontana, pelo estado de degradação da generalidade dos núcleos rurais, por deficiente integração das construções mais recentes e a falta de critérios rigorosos na recuperação e restauro das construções mais antigas. Estas circunstâncias, que poderão ter múltiplas explicações, expressam bem o descuido e falta de interesse em valorizar este importante factor de atractividade turística, quer por parte das populações, que cada vez se revêm menos na sua cultura ancestral, quer por parte das autoridades competentes que não disponibilizam meios para controlar a situação.
5. O abandono das práticas agrícolas e rurais representa um enorme risco na manutenção da paisagem que, em alguns locais do território da TFT já é visível, apresentando-se abandonado e vulnerável a instrusões e roturas de carácter irreversível.
6. A concentração da oferta de restauração e de alojamento quase exclusivamente nas sedes dos concelhos dificulta a difusão e dispersão dos eventuais fluxos turísticos que afluem ao Nordeste Transmontano pelo menos enquanto não for constituida uma rede TER qualificada e competitiva.
7. A riqueza do património gastronómico da TFT carece de maior oferta em termos de restauração e de maior e melhor promoção no mercado, valendo-se das classificações de qualidade controlada e de denominação de origem.
8. Ausência de uma estratégia de desenvolvimento turístico uníssona que represente os interesses de todas as entidades que desenvolvem iniciativas relacionadas com a actividade turística (associações de desenvolvimento, associações empresariais, entidades ligadas à promoção turística, entidades relacionadas com a gestão do património com utilização turística, etc.). Um exemplo desta falta de coordenação de esforços e de estabelecimento de parcerias é a existência de iniciativas semelhantes, que se fossem associadas ou integradas resultariam na criação de sinergias, e ao serem promovidas individualmente no mesmo território, representam esforços individuais e por isso mesmo, com sucesso limitado. Ilustrando esta constatação podemos referir a duplicidade dos esforços feitos isoladamente e quase em concomitância pela Associação de Munícipios da TFT e da CORANE na Caracterização da TFT e na definição de Rotas Turísticas.
9. Falta de recursos humanos qualificados no sector, tendo implicações a vários níveis, designadamente na engenharia e concepção do produto turístico, prestação de serviços de informação turística, hotelaria e restauração.
10. Estrutura hoteleira tradicional sem evolução significativa, resultando em alguns casos no envelhecimento, degradação e desactualização dos equipamentos.
11. Na oferta de alojamento têm maior peso as de categorias inferiores com consequências determinantes no nível do tipo de turista que a região atrai, bem como ao nível da despesa média por turista e, consequentemente, na arrecadação de receitas.
12. Oferta reduzida de equipamentos e espaços para o acolhimento de Congressos, Convenções e Seminários - aspecto crucial para o segmento de turismo de negócios.
13. Em termos gerais, a TFT apresenta elevados défices em quase todas as variáveis do marketing-mix:
- Promoção/ Comunicação:
- Ausência de uma marca/ identidade que seja apelativa e representativa do potencial turístico que a região encerra.
- Ausência de uma estratégia de Comunicação e Promoção que congregue todos os esforços empreendidos, pelas várias entidades/ organizações, neste âmbito;
- Vimioso, apesar de, no conjunto da TFT, apresentar um leque dos mais variados de brochuras e de desdobráveis de promoção e informação turística (rotas, informação de interesse turístico por freguesia, etc.), não dispõe de um Posto de Informação Turística (PIT) e as solicitações dos visitantes/turistas são atendidas na Câmara Municipal daquela cidade por uma funcionária (sendo este procedimento pouco usual no mercado turístico e por isso mesmo desconhecido da grande maioria dos visitantes/turistas que aflui a Vimioso);
- Os centros urbanos de Vinhais e de Miranda do Douro, contrariamente à de Vimioso, estão dotadas de PIT's, mas não dispõem de material turístico-promocional para distribuição pelos visitantes/ turistas que visitam esses mesmos PIT's. Reconhecendo os custos associados à produção destes materiais, a maioria das Instituições Municipais/ Regionais e Nacionais do Turismo, a nível europeu, têm recorrido à cobrança de uma simbólica contribuição por parte dos visitantes/ turistas e ao co-financiamento por parte dos privados, que obtêm a contrapartida da promoção dos seus serviços.
- Produto:
- Neste âmbito, a TFT precisa de desenvolver a engenharia do produto turístico. A título de exemplo, nenhum dos concelhos da TFT é identificado com algum produto turístico, e mesmo ao nível dos Parques Naturais, a estratégia de desenvolvimento turístico só agora está a ser iniciada, através da implementação dos programas de Turismo Natureza.
- A ausência da integração da oferta turística implica a falta de pacotes turísticos variados e consistentes, com potencial de atracção de fluxos turísticos.
- Preço:
- Sendo a oferta turística da TFT pouco integrada (salvo as excepções em que um mesmo empresário é detentor de vários serviços que constituem uma cadeia de produto turístico) os preços praticados não possuem escala, isto é, não possuem "value for money" para a maioria dos visitantes/ turistas.
- Place ou Distribuição:
- Os circuitos de comercialização e distribuição do turismo, sendo actualmente acessíveis a todos os destinos e serviços turísticos, geram nos consumidores e restantes stakeholders alguma confusão e portanto, têm pouca notoriedade no marketplace turístico. A ausência de uma só "voz" que represente toda a oferta turística da TFT é portanto limitativa à afirmação deste território como destino turístico.
- A actividade de Incoming está ainda pouco desenvolvida.
OPORTUNIDADES
1. O território da TFT tem um elevado potencial turístico, validado pelas razões apresentadas no diagnóstico efectuado e pelos pontos fortes identificados na presente análise SWOT, que poderá ser potenciado pela existência de boas ligações rodoviárias e ferroviárias e pela eventual exploração do aeródromo de Bragança, através da realização de voos comerciais.
2. O modelo de desenvolvimento turístico de grandes destinos turísticos, sobretudo do Mediterrâneo, assente no Modelo dos 3 S's - Sun, Sea and Sand (Sol, Mar e Areia) encontra-se esgotado e estudos recentes da Organização Mundial do Turismo (OMT) e do Conselho Europeu da Indústria das Viagens e Turismo (WTTC - World Travel and Tourism Council) têm apontado como tendência emergente o modelo dos 3 L's - Lore, Landscape and Leisure (Tradições, Paisagem e Lazer), sendo certo que, neste domínio da valorização das tradições, da paisagem e do lazer, a TFT, com a sua bem marcada identidade cultural de matriz rural, encerra um imenso potencial.
3. Um estudo desenvolvido pela OMT identificou como uma das grandes tendências que determinam o turismo europeu a "saúde e espiritualidade", o que reflecte a importância crescente atribuída a uma vida mais saudável e à necessidade de "retiro" para recuperar as energias dispendidas no dia-a-dia. Acresce a estes dados que o inquérito anual realizado pela European Travel Monitor concluiu que o turismo de saúde (excluindo as viagens realizadas por razões médicas) representa, na Europa, cerca de 20 milhões de deslocações, sendo um dos segmentos mais importantes do mercado turístico. Ora, a TFT, através das suas condições naturais, nomeadamente, da exploração das nascentes de águas minero-medicinais existentes, encerra um grande potencial neste segmento do turismo de saúde (termalismo, hidroterapia, climatismo…).
4. À semelhança do que se tem verificado noutras regiões do Norte de Portugal, como o entre Douro e Minho, nomeadamente o Vale do Lima, a recuperação de aldeias para o turismo através do recurso a fundos comunitários (LEADER, AGRIS) representa uma oportunidade para o relançamento do desenvolvimento do Nordeste Transmontano que urge aproveitar.
5. A promoção de iniciativas de cooperação transfronteiriça, (ex.: Interreg), através da realização de projectos de comunicação e promoção conjunta com Espanha, sobretudo com as regiões cuja afinidade cultural é mais evidente.
6. Existência de vários incentivos e apoios financeiros do III QCA poderão contribuir para a qualificação e desenvolvimento do turismo na região, que deverá estar preparada para aceder com maior celeridade às comparticipações do Fundo de Desenvolvimento Rural que deverá ser criado no âmbito do IV QCA.
7. O Pacto de Desenvolvimento da TFT, cujo objectivo principal é a criação e execução de um conjunto de iniciativas que apoiem a implementação da Rota da TFT, assenta, essencialmente, na descoberta, salvaguarda, promoção da natureza e no desenvolvimento de um espaço de desenvolvimento integrado.
AMEAÇAS
1. Perda de competitividade relativamente a destinos/ regiões concorrenciais, com a mesma tipologia de oferta, podendo resultar num decréscimo na quota de mercado de toda a Região Norte e, concretamente, da TFT.
2. As assimetrias de desenvolvimento do território da TFT face às Regiões Autonómicas de Castilla-Léon e Galiza poderão representar um risco de influências não-recíprocas no que concerne ao potencial de desenvolvimento turístico. Apesar de tradicionalmente distintas (quando comparadas com a TFT) as regiões espanholas apresentam um potencial de desenvolvimento turístico semelhante ao do Nordeste Transmontano mas, devido à maior capacidade de investimento espanhol, a TFT poderá vir a sofrer uma perda de competitividade ao nível da atractividade turística.
3. Persistência dos principais estrangulamentos ao nível de infra-estruturas básicas de suporte à actividade turística, nomeadamente em acessibilidades, ordenamento paisagístico, qualidade ambiental, entre outros.
4. O não aproveitamento e boa aplicação dos fundos estruturais do III QCA, quer por ineficácia de gestão, quer por desconhecimento e apatia dos potenciais usufruentes. Em suma, uma política deficiente de gestão de recursos financeiros, que têm prazos limitados de aplicação e exigem uma fiscalização e acompanhamento permanentes.
in:rotaterrafria.com
Saúdo e felicito o autor deste texto pela sua publicação. No entanto, devo alertar para uma imprecisão e para alguns aspetos menos conseguidos do mesmo.
ResponderEliminarAssim, contrariamente ao que se lê no texto, a vila de Vimioso ainda não alcançou a categoria de cidade.
Também não me apercebi que faça referência à extinção do lagostim ("carangueijo") de pata branca que, ainda não há muito tempo, proliferava no Rio (ribeira de) Angueira e que, especialmente em Angueira, constituía um atrativo para muitos visitantes. Atualmente, o que nela se pode encontrar é uma outra variedade de lagostim, esta de cor avermelhada e que infesta esta ribeira e que alguém teve a péssima ideia de nela a lançar.
A meu ver, mereceria ainda ser referido o mirandês, língua que era falada e, hoje, passou também a ser escrita, pela gente das "Terras de Miranda" e constitui um elemento central do património cultural próprio das gentes das aldeias do "Praino Mirandés", isto é, do concelho de Miranda do Douro e ainda das aldeias de Vilar Seco, Caçarelhos e Angueira, estas do concelho de Vimioso.
António Preto Torrão