Há quatro anos que João Pedro Marnoto percorre o nordeste transmontano «sem querer romantizar a vivencia do campo». O fotógrafo quer «entender e vivenciar» o quotidiano daquelas gentes serranas fazendo paralelamente «um confronto com a sociedade contemporânea, cada vez mais perdida num vazio moral, afastada e em conflito com o meio natural de onde somos parte integrante».
O artista ao captar o momento ambiciona «abordar questões de identidade e sustentabilidade social, económica e ambiental, que têm consequências não só na valorização como também na criação de auto-estima local. A cultura como parte integrante no desenvolvimento social e económico de um território».
A objectiva da máquina fotográfica de João Pedro tenta captar «os nossos dias e os valores, ou a crise deles. Uma situação que hoje se sente numa escala tanto global como local. É igualmente um retrato, de relevância documental, de uma forma de encarar a vida que tende invariavelmente a desaparecer e a evoluir para algo, mas que a meu ver é crucial preservar e reflectir», explica.
O título do trabalho baseia-se na própria vivência que João fotografa. Em Trás-os-Montes corre o dito popular que o clima por ali se caracteriza por «Nove meses de Inverno e três de Inferno» devido à grande variação térmica anual. A Primavera e Outono, estações de temperatura amena, são muito breves neste cantinho nordeste do país. O Verão é rigoroso com temperaturas superiores a 35ºC e, no Inverno, os termómetros facilmente registam temperaturas negativas.
João Pedro tem reunido algumas fotografias, mas gostaria de dedicar um ano exclusivamente ao projecto. Para isso necessita de um fundo de financiamento. João Pedro estipulou um valor de cinco mil euros. «Noves meses de Inverno e três de Inferno» está presente na plataforma CrowdFunding de Jornalismo, na área de apoio denominada Emphas. João Pedro explica: «Esta é uma plataforma internacional dedicada em exclusivo a trabalhos de fotojornalismo e documentário visual».
João Pedro Marnoto confessa que «gostaria de capturar o período de produção que vai de Outubro de 2011 a Setembro de 2012», comenta. Ao longo desse ano dedicado em exclusivo a «Noves meses de Inverno e três de Inferno», irá publicar fotografias, vídeos e sons num site. No final será lançado um livro e DVD.
«Crowd» é uma palavra inglesa que significa «multidão». «Funding», igualmente de origem inglesa, significa «financiamento». Assim juntam-se público e financiamento. João Pedro pormenoriza: «É uma forma de financiamento colectivo, onde o grande público pode não só apoiar o desenvolvimento dos trabalhos que acha mais prementes, como também pode acompanhar e opinar sobre a forma como os mesmos são desenvolvidos num contacto directo com os autores».
Se o projecto não alcançar o financiamento a 100% no prazo que varia entre 60 a 90 dias, quem investiu vê o seu dinheiro novamente depositado na conta.
Contribuir para a concretização do projecto «Nove meses de Inverno e três de Inferno» é necessário inscrever-se na plataforma Emphas, clicar no projecto de João Pedro Marnoto e, através, de uma conta PayPal fazer uma doação mínima de dez dólares, sensivelmente oito euros.
Sara Pelicano; foto - João Pedro Marnoto
9 Months Of Winter & 3 Of Hell
Beyond the slopes of Portugal’s Douro River, people’s lives are intertwined with the land that sustains their hunger and a faith that points towards the skies. This attitude is reflected in a popular expression from this Northeast region, where this project gets its name: “Nine Months of Winter and Three of Hell.”
While this region is celebrated by Portugal’s aristocracy for its beloved Port wines, it is simultaneously denounced as one of the country’s most underdeveloped. What many fail to see here is one of Western Europe’s last vestiges of truly rural life, where locals’ lives depend mostly on land and animal farming, and ties to nature and religion are still strong and visible.
Like many rural oases, this one is threatened. As roads and dams move closer, desertification plagues the land. Due to new economic, political, and social developments, it is a land threatened to be replaced by more urban landscapes, and its culture might only be remembered in romanticised tourist brochures.
This project intends to present the raw reality of daily life here, a vanishing culture confronting pitiless advance of “modernity.” It also will create an anthropological document crucial to recording of a way of life that is rapidly disappearing.
It takes time to dig deep into this land and its people, so I hope to secure enough funds to devote a full year to the project, capturing the production cycle from October 2011 to September 2012. During that time I will create stories that blend photography, video, and audio, and post them periodically, along with my experiences, on a multimedia website. Ultimately the work will become a book and DVD publication.
I moved to this region more than six years ago, and in that time I have developed relationships with the local community, through a photography workshop with young kids and collaborating with a local environmental association that aims to protect the indigenous donkey breed. I believe my intimate connection to this land and its people will allow me to present a more honest account of it than the romantic views of those who observe it only in brief passing.
More than a geographical portrait, this project is a visual representation of the often-forgotten side of “progress,” which too often means the loss of past values and entire stockpiles of human experience.
in:www.emphas.is
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