Isabel Mateus, a residir e a trabalhar no Reino Unido, conta ao Café Portugal porque decidiu abordar o assunto da emigração para França nesta obra lançada em Junho deste ano. «Este é um tema da realidade portuguesa, pois somos um país de diáspora desde a época dos Descobrimento», começa por dizer.
O facto de ser filha de ex-emigrantes em França, tendo estes emigrado «a salto, em finais dos anos 60, como tantos na mesma época», ajudou Isabel Mateus a avançar com o livro.
«A Terra do Chiculate» aborda a emigração rural masculina, numa primeira fase, seguida do reagrupamento familiar, adianta Isabel Mateus. Tratam-se de relatos ficcionados, havendo, segundo a autora, «grande fidelidade à realidade do testemunho». «São várias vozes, vários registos de linguagem, vários “eus” consoante os relatos e que a partir do individual retratam sempre o todo colectivo, o plural. Há criação, há invenção e intertextualidade, inclusive, com a Literatura de Viagens Portuguesa», explica.
«É uma emigração do trabalho e com preocupações económicas. Saía-se “por uma vida melhor, para dar uma vida mais digna aos filhos”. Por isso, todos aqueles que partiam à aventura, de forma ilegal e sem trabalho, são retratados com muito respeito. Neste livro pretende-se homenageá-los, ressaltando daqui um certo ar de epopeia», acrescenta.
A obra constitui também um retrato nacional, centrando-se nas regiões onde «a sangria foi ainda maior»: Trás-os-Montes e Alto Douro e o Minho.
O livro chega ao leitor através da visão de uma criança - a estudiosa Ângela Nunes - na diáspora portuguesa, e que achou inovador e relevante o facto de o livro «A Terra do Chiculate» dar, pela primeira vez, voz à criança na saga da nossa emigração. A par disso é também transmitido na obra o olhar dos adolescentes e jovens que ficaram e «os outros que andaram no vaivém entre França e Portugal».
«Penso que era muito importante dar voz a esta vertente da emigração, a de cá e a que não teve qualquer escolha», salienta.
A própria autora foi uma dessas «meninas d’avó», como faz questão de se intitular, já que ficou também ela entregue aos cuidados da avó materna, como retrata também em «Outros Contos da Montanha», de 2009, e mais concretamente no conto «Os Meninos da Avó», e em que estas crianças «ficavam, inclusive, com vizinhos».
Esta realidade, que materializa a emigração clandestina nos anos 60 e princípio dos anos 70 do século XX em Portugal, está bem patente no relato «Passador e Contrabandista», onde se evidencia «o risco a vários níveis: o de serem apanhados e de não chegarem ao seu destino, da própria vida, porque alguns morreram, sobretudo no início, e quando a viagem era maioritariamente feita a pé e a vergonha de terem de regressar sem o sucesso que inicialmente se previa».
E porquê «A Terra do Chiculate»? Isabel Mateus explica que, para a criança, França é sinónimo de «chiculate», «dizia-se assim na ruralidade e, certamente, em Trás-os-Montes», afiança. Já para os adultos significava «terra da oportunidade».
«A inspiração para o título surgiu pelas fotos dos bidonvilles, em Paris, de Gérald Bloncourt, visto que frente a esses bairros de lata onde habitaram os portugueses, nos primeiros tempos, tinham durante os meses de Inverno terra amassada, em vez de ruas, e essa terra amassada lembra a própria pasta/massa para fazer o chocolate», vinca.
«Memória viva»:
Para Isabel Mateus, lembrar a emigração portuguesa nos anos de 1960 e de 1970 «é extremamente importante», visto que «grande parte da população na actualidade é fruto desta história memória viva muito recente».
«Porque os portugueses continuam a emigrar em força, espera-se que após a leitura do livro, se reflicta nos diferentes aspectos da sua temática e que, por exemplo, se tenha doravante, mais cuidado com o desmembramento familiar», alerta.
Com uma primeira tiragem de 1000 exemplares, «A Terra do Chiculate» foi lançada a 3 de Junho no Consulado Geral de Portugal em Paris, com apresentação de Maria Fernanda Pinto e participação de Nathalie de Oliveira, autarca de Metz (França) e autora do prefácio.
No dia 4 do mesmo mês foi apresentada no Consulado Geral de Portugal, em Estrasburgo, no âmbito das Comemorações do Dia de Portugal.
Em Portugal, o livro foi lançado a 12 de Agosto em Fafe, no Museu das Migrações e das Comunidades, e no dia 27 e Agosto, na Biblioteca Municipal de Torre de Moncorvo. Para o início de 2013 está prevista a saída do livro em versão francesa.
O facto de ser filha de ex-emigrantes em França, tendo estes emigrado «a salto, em finais dos anos 60, como tantos na mesma época», ajudou Isabel Mateus a avançar com o livro.
«A Terra do Chiculate» aborda a emigração rural masculina, numa primeira fase, seguida do reagrupamento familiar, adianta Isabel Mateus. Tratam-se de relatos ficcionados, havendo, segundo a autora, «grande fidelidade à realidade do testemunho». «São várias vozes, vários registos de linguagem, vários “eus” consoante os relatos e que a partir do individual retratam sempre o todo colectivo, o plural. Há criação, há invenção e intertextualidade, inclusive, com a Literatura de Viagens Portuguesa», explica.
«É uma emigração do trabalho e com preocupações económicas. Saía-se “por uma vida melhor, para dar uma vida mais digna aos filhos”. Por isso, todos aqueles que partiam à aventura, de forma ilegal e sem trabalho, são retratados com muito respeito. Neste livro pretende-se homenageá-los, ressaltando daqui um certo ar de epopeia», acrescenta.
A obra constitui também um retrato nacional, centrando-se nas regiões onde «a sangria foi ainda maior»: Trás-os-Montes e Alto Douro e o Minho.
O livro chega ao leitor através da visão de uma criança - a estudiosa Ângela Nunes - na diáspora portuguesa, e que achou inovador e relevante o facto de o livro «A Terra do Chiculate» dar, pela primeira vez, voz à criança na saga da nossa emigração. A par disso é também transmitido na obra o olhar dos adolescentes e jovens que ficaram e «os outros que andaram no vaivém entre França e Portugal».
«Penso que era muito importante dar voz a esta vertente da emigração, a de cá e a que não teve qualquer escolha», salienta.
A própria autora foi uma dessas «meninas d’avó», como faz questão de se intitular, já que ficou também ela entregue aos cuidados da avó materna, como retrata também em «Outros Contos da Montanha», de 2009, e mais concretamente no conto «Os Meninos da Avó», e em que estas crianças «ficavam, inclusive, com vizinhos».
Esta realidade, que materializa a emigração clandestina nos anos 60 e princípio dos anos 70 do século XX em Portugal, está bem patente no relato «Passador e Contrabandista», onde se evidencia «o risco a vários níveis: o de serem apanhados e de não chegarem ao seu destino, da própria vida, porque alguns morreram, sobretudo no início, e quando a viagem era maioritariamente feita a pé e a vergonha de terem de regressar sem o sucesso que inicialmente se previa».
E porquê «A Terra do Chiculate»? Isabel Mateus explica que, para a criança, França é sinónimo de «chiculate», «dizia-se assim na ruralidade e, certamente, em Trás-os-Montes», afiança. Já para os adultos significava «terra da oportunidade».
«A inspiração para o título surgiu pelas fotos dos bidonvilles, em Paris, de Gérald Bloncourt, visto que frente a esses bairros de lata onde habitaram os portugueses, nos primeiros tempos, tinham durante os meses de Inverno terra amassada, em vez de ruas, e essa terra amassada lembra a própria pasta/massa para fazer o chocolate», vinca.
«Memória viva»:
Para Isabel Mateus, lembrar a emigração portuguesa nos anos de 1960 e de 1970 «é extremamente importante», visto que «grande parte da população na actualidade é fruto desta história memória viva muito recente».
«Porque os portugueses continuam a emigrar em força, espera-se que após a leitura do livro, se reflicta nos diferentes aspectos da sua temática e que, por exemplo, se tenha doravante, mais cuidado com o desmembramento familiar», alerta.
Com uma primeira tiragem de 1000 exemplares, «A Terra do Chiculate» foi lançada a 3 de Junho no Consulado Geral de Portugal em Paris, com apresentação de Maria Fernanda Pinto e participação de Nathalie de Oliveira, autarca de Metz (França) e autora do prefácio.
No dia 4 do mesmo mês foi apresentada no Consulado Geral de Portugal, em Estrasburgo, no âmbito das Comemorações do Dia de Portugal.
Em Portugal, o livro foi lançado a 12 de Agosto em Fafe, no Museu das Migrações e das Comunidades, e no dia 27 e Agosto, na Biblioteca Municipal de Torre de Moncorvo. Para o início de 2013 está prevista a saída do livro em versão francesa.
Isabel Mateus nasceu em 1969 em Torre de Moncorvo, no distrito de Bragança. Licenciada na variante Português-Francês pela Universidade de Évora, leccionou durante 10 anos em várias escolas secundárias em Portugal.
Amante da literatura, essa paixão levou a nossa interlocutora a Birmingham onde tirou o Doutoramento de Literatura Portuguesa na Universidade daquela cidade britânica, tendo neste estabelecimento leccionado língua e literatura.
Ana Clara
in:cafeportugal.net
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