O níscarro e a repólvora do castanheiro eram dois ingredientes sazonais que apareciam após as primeiras chuvas de Outono e mantinham-se até finais de Dezembro. Quando se apanhavam as primeiras castanhas, já a terra se empolava do esforço dos cogumelos a pôr o chapéu ao ar e escasseando o dinheiro para comprar vitela, os níscarros disfarçavam-na muito bem. Chamavam-lhe comida de pobre, nessa altura. Ironia do destino: hoje os pobres apanham-nos, vendem-nos aos ricos e com o dinheiro que deles fazem compram o que os ricos comiam na altura!
Dos cogumelos mais utilizados distinguem-se os níscarros (boletus edulis), as cardielas (lactarius deliciosus), as repólvoras dos castanheiros e os roques (macrolepiota procera). Os roques ou frades, frequentes nas vinhas, eram assados, sobre as brasas, apenas com sal.
Os restantes preparavam-se da seguinte forma:
Depois de bem limpos da terra e restos de folhas, partiam-se em tiras e lavavam-se bem. No caso dos níscarros, se já tivessem o chapéu aberto, retirava-se previamente a parte inferior onde se encontravam os esporos.
Num pote refogavam-se, em azeite, uma colher de pingo, sal, uma folha de louro e uma colher de colorau doce, duas cebolas cortadas em tiras finas, dois dentes de alho e uma malagueta. Com a cebola já alourada, juntavam-se os níscarros. Afastava-se o pote e deixava-se frigir em lume brando até o molho engrossar.
Servia-se com batata cozida acabada de escoar.
in Quem Me Dera Naqueles Montes...
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(Henrique Martins)
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