Alegre, faceto, bem disposto e, melhor ainda, amante da família, assim era o senhor Nazaré Barreira. A Dona Piedade, sua mulher secundava-o nas ingentes tarefas de dar de comer a quem tinha fome e de beber a quem tinha sede.
À custa de muito trabalho, de engenho e paciência e senhor Nazaré, transformou a casa de pasto em afreguesado restaurante.
Nos dias de feira e nas tardes domingueiras de emocionantes relatos futebolísticos até a cozinha se enchia de barulho e de gente. Pais de filhas, a Dona Piedade e o seu marido, ficaram ébrios de felicidade, quando lhes nasceu um varão – o Lézinho -, de seu nome: António José Barreira. Menino da sua mãe e das irmãs, o Lézinho mal começou a andar, livre passou a ser o seu caminho no vai e vem entre o antigo quartel dos bombeiros e o comércio do senhor Cândido Parente, extremoso e paciente benfiquista.
Saí de Bragança, os anos correram, quando voltei a encontrá-lo, pelo seu natural vigor era homem feito. Tinha-se transformado numa figura popular cujos chistes e apartes eram (e são) glosados sem malícia ou falsa virtude.
Dos seus tempos de adolescente recordo-me de ele ser uma espécie de passarinho a avisar o guarda Alfredo, exuberante sinaleiro, da chegada dos superiores. E porquê? Porque a linguagem gestual e, os estridentes silvos do apito provocavam irritante secura na boca do cívico. A fim de aplacar a megera, , o eficaz disciplinador de trânsito saltava da peanha e entrava no átrio das instalações da negregada Legião Portuguesa, a fim de se dessedentar. Se o Lézinho presenceava o refrescar da garganta, implacável dizia: “Alfredo, se o chefe te apanha estás tramado”. O tramado era dito no mais puro vernáculo.
Nos últimos tempos encontrei-o nas imediações da Igreja da Misericórdia, a paredes meias da sua residência. Conversei com ele uma vez ou duas, e falou-me serenamente, dizendo-me, várias vezes, com uma certa insistência, que ocupa o tempo a levar a cruz nos funerais. Sempre são uns euros a chocalharem na algibeira. No café Chave D´Ouro, pediu-me para lhe tirarem a fotografia, pois também queria sair no “Mensageiro”. Sem qualquer tipo de reserva ou precaução prometi-lhe da sua pretensão dar conta ao director do jornal. Os seus olhos admitiam a esperança em tal? Claro que sim. O seu desejo é agora satisfeito, ou não fosse este jornal um farol de: “fé, esperança e caridade”.
in:Figuras notáveis e notórias bragançanas
Texto: Armando Fernandes
Aguarelas: Manuel Ferreira
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