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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 10 de dezembro de 2011

O “LÉZINHO”


Alegre, faceto, bem disposto e, melhor ainda, amante da família, assim era o senhor Nazaré Barreira. A Dona Piedade, sua mulher secundava-o nas ingentes tarefas de dar de comer a quem tinha fome e de beber a quem tinha sede.
À custa de muito trabalho, de engenho e paciência e senhor Nazaré, transformou a casa de pasto em afreguesado restaurante.
Nos dias de feira e nas tardes domingueiras de emocionantes relatos futebolísticos até a cozinha se enchia de barulho e de gente. Pais de filhas, a Dona Piedade e o seu marido, ficaram ébrios de felicidade, quando lhes nasceu um varão – o Lézinho -, de seu nome: António José Barreira. Menino da sua mãe e das irmãs, o Lézinho mal começou a andar, livre passou a ser o seu caminho no vai e vem entre o antigo quartel dos bombeiros e o comércio do senhor Cândido Parente, extremoso e paciente benfiquista.
Saí de Bragança, os anos correram, quando voltei a encontrá-lo, pelo seu natural vigor era homem feito. Tinha-se transformado numa figura popular cujos chistes e apartes eram (e são) glosados sem malícia ou falsa virtude.
Dos seus tempos de adolescente recordo-me de ele ser uma espécie de passarinho a avisar o guarda Alfredo, exuberante sinaleiro, da chegada dos superiores. E porquê? Porque a linguagem gestual e, os estridentes silvos do apito provocavam irritante secura na boca do cívico. A fim de aplacar a megera, , o eficaz disciplinador de trânsito saltava da peanha e entrava no átrio das instalações da negregada Legião Portuguesa, a fim de se dessedentar. Se o Lézinho presenceava o refrescar da garganta, implacável dizia: “Alfredo, se o chefe te apanha estás tramado”. O tramado era dito no mais puro vernáculo.
Nos últimos tempos encontrei-o nas imediações da Igreja da Misericórdia, a paredes meias da sua residência. Conversei com ele uma vez ou duas, e falou-me serenamente, dizendo-me, várias vezes, com uma certa insistência, que ocupa o tempo a levar a cruz nos funerais. Sempre são uns euros a chocalharem na algibeira. No café Chave D´Ouro, pediu-me para lhe tirarem a fotografia, pois também queria sair no “Mensageiro”. Sem qualquer tipo de reserva ou precaução prometi-lhe da sua pretensão dar conta ao director do jornal. Os seus olhos admitiam a esperança em tal? Claro que sim. O seu desejo é agora satisfeito, ou não fosse este jornal um farol de: “fé, esperança e caridade”.


in:Figuras notáveis e notórias bragançanas
Texto: Armando Fernandes
Aguarelas: Manuel Ferreira

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