terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Será que venceremos a crise?

    OPINIÃO - Jorge Lage
Estamos numa situação de dependência quase total do exterior, devido a uma política irresponsável, fraudulenta e criminosa, sobretudo dos últimos seis anos. Como é possível sermos tão estúpidos e mantermos um demagogo no desgoverno do país enquanto nos arrastava para o precipício?
Estamos como uma bicicleta velha presa por arames que ao mínimo solavanco se desfaz.
Mas, adiante. O que eu vos queria contar é a visão do sábio Luís, que tem a experiência de uma vida já com muitos outonos. Em tempo de castanhas, sentei-me ao lado do Luís para ouvir os seus saberes sobre castanhas mas antes desabafou: - senhor Lage, não vamos vencer a crise! Não vamos lá!
Mas, eu que tenho visto o actual Primeiro-Ministro determinado achava que o velho Luís estava a ser pessimista e perguntei-lhe: - Não? Então porquê, senhor Luís?
- As silvas continuam por aí a crescer. – Respondeu ele.
Achei curioso tomar como indicador da nossa vontade o crescimento das silvas nos soutos, nos caminhos e nos campos cultivados. Mas, fiquei sem argumentos, porque sei bem o estado de abandono dos campos agrícolas. Medida talhada, há três décadas, pelo actual Presidente da República, que, quando Primeiro-Ministro fez o papel de «prostituto» dos interesses dos senhores da Europa avarenta.
Andava a pregar que para sermos um país evoluído tínhamos de abandonar os campos e o mar que sempre foram a base do nosso sustento. Foi, também, com a passividade dele que começou a grande corrupção que hoje grassa e que os remediados vão pagar.
Depois foi a demagogia guterrista a instituir o rendimento mínimo para todos os mandriões e não, apenas, para os que não podem trabalhar.
Por isso, quase não há nas nossas aldeias quem queira ganhar uma geira porque ao fim do mês lá vem contadinho. Há gente que indica um sem número de filhos, que não possui, e até dá para comprarem bons mercedes e andares a render (sem passarem recibo, claro).
Mas, vamos ao momento que atravessamos e que nos está a empurrar, principalmente aos remediados, para a pobreza. Os Alemães levantaram-se, a seguir à Segunda Grande Guerra, dos escombros e são, novamente, a economia mais forte da zona euro. Nós que estamos com a corda no pescoço, não se houve falar aos trabalhadores em mais produtividade. Só em ganhar mais, como se o dinheiro viesse de algum poço sem fundo.
Todos queremos ganhar mais. Nós, os reformados, dava-nos muito jeito um pequeno aumento, em vez de nos ser retirado algum do pouco a que temos direito. Mas, entre recebermos algum e um dia próximo chegarmos ao mês seguinte e não termos lá nada, é melhor irmos andando.
Custa-me a crer que os muitos dos dirigentes políticos, sindicais e corporativos sejam honestos e sinceros, com eles próprios, quando reivindicam melhores salários ou regalias. Só se ouve falar em direitos e nada em deveres. Ninguém fala em querer ajudar a levantar o país e dando algo mais de si para bem de todos.
Cada vez que se faz uma greve, na conjuntura de rotura financeira actual, damos um passo atrás. Por isso, repito, que não percebo muitos dos dirigentes políticos, sindicais e corporativos quando deviam mostrar vontade de colaborar, preferem o caminho da miséria para os mais pobres, talvez para um dia poderem vir com a ideológica tigela de caldo de uma teoria económica refalida.
Li no jornal «O Sol», a um seu quadro dirigente a dizer que só fez greve numa greve geral de outrora. O curioso da sua greve foi que trabalhou como nos outros dias e recusou-se a receber o salário desse dia. Parece-me que era um bom mote para uma greve geral consciente podia ser trabalhar e fazer greve ao salário, entregando-o ao Estado ou a uma instituição de solidariedade social para valer a quem, desesperadamente, precisa de uma pequena ajuda.
Estou reformado há três anos e continuei a trabalhar gratuitamente (mais que alguns que recebiam o salário), até há pouco, por que me foi solicitado, para o Ministério da Educação, sem, no final, haver um obrigado. Mas, se me fosse pedido mais trabalho voltá-lo-ia a fazer. Por que a ingratidão não é do país mas dos que se servem dele e nem sabem dizer obrigado ou uma palavra de estímulo.
Ainda não «arrumei as botas» estou há mais de quinze anos no Projecto Educativo dos Clubes da Floresta das Escolas à espera de quem, voluntariamente, queira ocupar o meu lugar.
Mas temo que o desabafo do velho amigo Luís Alves seja uma sentença condenatória para os que vivemos do magro salário ou da parca reforma. Afinal, as silvas continuam a crescer em Lebução ou em qualquer outra aldeia da nossa região. Ninguém, oposição, dirigentes sindicais e dirigentes partidários, mesmo os da nossa praça, fala em trabalhar mais e produzir mais para que nós, os mais novos e Portugal tenhamos um futuro sem as privações que nos começam a assustar. Ninguém deve gastar mais do que o que ganha.


in:http://www.jornal.netbila.net

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