sexta-feira, 30 de março de 2012
Ambiente - «Os portugueses estão cada vez mais sensibilizados para a importância da reciclagem»
Em 2011, a Sociedade Ponto Verde (SPV) enviou para reciclagem 711 mil toneladas de resíduos de embalagens. Luís Veiga Martins, Director Geral da SPV, entidade que em 2011 comemorou 15 anos de existência, diz que os portugueses reciclam hoje muito mais e que a consciência ambiental está cada vez mais presente nos lares nacionais. Parceiros importantes no trabalho da entidade são os municípios que, segundo o responsável, «têm sido uma peça fundamental para os resultados alcançados».
Café Portugal - Que balanço faz destes 15 anos de trabalho da Sociedade Ponto Verde?
Luís Veiga Martins - Muito se evoluiu ao nível da sensibilização dos portugueses. Há 15 anos os portugueses estavam menos atentos às questões ligadas à área do ambiente. Fruto das várias campanhas nacionais e locais promovidas pela SPV e pelos municípios, este cenário tem vindo a alterar-se significativamente. Como resultado desse trabalho, a SPV encaminhou para reciclagem, em 2011, 711 mil toneladas de resíduos de embalagens, ultrapassando a meta global de reciclagem fixada na sua licença. A taxa de reciclagem fixou-se nos 64%, sendo 55% a meta definida.
C.P. - Como tem sido essa evolução na sociedade civil, em termos de consciência para a importância de reciclar?
L.V.M. - A evolução tem sido muito positiva. Assistimos a um crescimento sustentado da participação dos portugueses no encaminhamento das suas embalagens usadas para reciclagem. Este crescimento é visível nos dados do estudo «Hábitos e Atitudes face à separação de resíduos de embalagens 2011», desenvolvido pela Intercampus para a Sociedade Ponto Verde, e divulgados no início deste ano. Dos 1075 lares observados, em 69% é predominante a prática de separação domiciliária de embalagens usadas. Do total dos inquiridos, 47% é separador total, ou seja, separa todos os tipos de embalagens usadas passíveis de separação (vidro, papel/cartão, plástico e metal), enquanto 22% é separador parcial, ou seja, separa apenas um ou dois tipos de materiais. Este é o valor mais elevado de sempre desde que o estudo começou a ser realizado em 2006, com as famílias a demonstrarem tendência para fazer a separação total. Fica demonstrado que os portugueses estão cada vez mais sensibilizados para a importância da reciclagem, aproximando-se dos valores de separação observado nos países do centro da Europa. O aumento das quantidades anualmente encaminhadas para reciclagem, comprovam também estes indicadores.
C.P. - Quais são os materiais mais reciclados pelos portugueses?
L.V.M. - Em 2001, em termos absolutos, o papel/cartão foi o material mais reciclado pelos portugueses (321.040 toneladas), seguido do vidro (217.159 toneladas).
C.P. – Como funciona a reciclagem dos resíduos das embalagens, desde a recolha até à reciclagem propriamente dita?
L.V.M. - A reciclagem começa em casa dos consumidores ao separarem as embalagens usadas. Estas são depois depositadas nos ecopontos ou recolhidas porta-a-porta: verde para o vidro, amarelo para o plástico, metal e embalagens para líquidos alimentares e azul para o papel/cartão. Posteriormente, as autarquias ou os sistemas municipais fazem a recolha e as embalagens seguem até à estação de triagem onde passam por um processo mais rigoroso de selecção e separação. Depois de devidamente tríadas, o percurso continua com o seu encaminhamento para as unidades de reciclagem consoante o tipo de material. Nessas instalações são alvo da transformação necessária para serem então incorporados em novos objectos e embalagens.
C.P. – O Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens (SIGRE) é fundamental para organizar todo o processo? Em que medida?
L.V.M.- A criação do SIGRE surgiu com a obrigação legal de todas as empresas que colocam no mercado produtos embalados de gerirem os resíduos gerados pós-consumo dos seus produtos. As empresas têm duas opções: ou criar um sistema de gestão próprio, ou aderir a um sistema integrado, transferindo para este sistema a sua responsabilidade. Compete às empresas embaladoras que são aderentes da SPV pagarem um ecovalor destinado a suportar o custo acrescido da recolha selectiva dos municípios. Significa isto que, só com a contribuição dos embaladores seus aderentes é possível à SPV pagar às autarquias de forma a garantir a recolha e a triagem dos resíduos de embalagens. Uma vez triados, estes resíduos são vendidos pela SPV em leilão para as empresas recicladoras fechando o ciclo.
C.P. – As autarquias são fundamentais neste processo de recolha? E estão sensibilizadas?
L.V.M. - O Sistema Ponto Verde desenvolve a sua actividade através do trabalho realizado com diversos parceiros, sobretudo as autarquias e sistemas municipais. São eles que asseguram a recolha dos resíduos de embalagens junto da população e posterior tratamento para envio para a indústria de reciclagem. Sem o seu contributo e empenho, o sucesso do sistema e os resultados obtidos estariam comprometidos. Também compete aos sistemas municipais sensibilizar as suas populações para a reciclagem, papel coadjuvado pela SPV. As autarquias têm sido uma peça fundamental para o bom funcionamento do sistema e para os resultados alcançados.
C.P. - Outro dos grandes objectivos da SPV é promover a sensibilização e a educação ambiental junto dos portugueses. Como e de que forma o têm feito e que resultados práticos têm obtido?
L.V.M. - Desde a sua fundação que a SPV tem realizado campanhas de comunicação com o objectivo de informar e sensibilizar o consumidor para dois aspectos fundamentais: por um lado a importância da reciclagem das embalagens usadas, e por outro, a importância da contribuição de cada cidadão para este processo. Através dos estudos de consumidor que realizamos, vamos percebendo quais as principais dúvidas dos consumidores e quais as principais razões para adiarem a decisão em colaborar. Tentamos então dar resposta a estas dúvidas, através das campanhas que realizamos e das ferramentas que disponibilizamos. Mas o trabalho de sensibilização nunca está completo. Há que lembrar constantemente as pessoas que a reciclagem é um importante contributo para a redução da deposição de resíduos em aterros, para a poupança das matérias-primas e para a poupança de energia.
Ana Clara; Fotos:
in:cafeportugal.net
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