sábado, 3 de março de 2012

Não temos vergonha das nossas matrizes culturais!


Rui Dias José

«Durante mais de 20 anos percorri o país, concelho a concelho. Emocionei-me com tocadores e cantadores, aprendi a admirar o trabalho dessa gente nova».
Devemos ser a única nação da Europa que tem vergonha da sua música étnica. Atingimos até o nirvana bacoco quando – sem conhecimento, aprendizagem ou experimentação das sonoridades tradicionais das diversas regiões do país - se desata a dar ares de entendido e a manifestar agrado pela música étnica… irlandesa (!?).
Estou à vontade para rotular algumas destas reacções como singelamente provincianas. Durante mais de 20 anos percorri o país, concelho a concelho. Emocionei-me com tocadores e cantadores, aprendi a admirar o trabalho dessa gente nova que faz viver bandas e filarmónicas, percebi o que, de doação, empenho e sacrifício pessoal, significa o trabalho de defesa de valores que são nossa identidade e diferença, associado à preservação e registo de raízes etno-musicais, de formas de diálogo com os instrumentos e de afirmações vocais colectivas.
Foram anos cheios de descobertas, de chegadas e partidas, de encontros e reencontro, de longas conversas e profundas libações. Acabaria afastado da Rádio Pública, Estranhamente, não conservo mágoas: os tribunais deram-me razão (a RDP viu-se obrigada a uma indemnização de interessante e razoável montante), e eu não tenho tempo que chegue para o «Café Portugal» (uma revista electrónica de enlevos e paixões), a revista em papel Epicur (cuja qualidade é preciso manter e reforçar), o Grupo «Descobrir Portugal» (no Facebook, quase com 400 mil membros) e muitos outros projectos e iniciativas a que tenho de acudir.
Não perco de vista, no entanto, os deslumbramentos por todas as formas de arte popular. Ainda em relação à música, uma palavra para sublinhar o que de válido, coerente e consistente está a construir o Tiago Pereira com «A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria» (podem procurar assim mesmo na internet e acabarão numa página do Facebook ou num canal do Vimeo, onde se acolhem muitos dos sons que resultam deste trabalho andarilho. Que não tem apenas característica étnicas mas percorre outras estradas da música portuguesa. Uma aposta denodada e rigorosa.


Rui Dias José
in:cafeportugal.net

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