segunda-feira, 26 de março de 2012
Produção nacional de amêndoa decresce mais de duas mil toneladas num ano
Em 2010 a produção de amêndoa a nível nacional rondou as 7012 toneladas, menos duas mil toneladas do que no ano anterior. Ao facto não são alheias as condições meteorológicas, embora os produtores também apontem o dedo à falta de rentabilidade e ao abandono dos amendoais. Turismo e gastronomia são caminhos alternativos que as regiões produtoras querem seguir para assegurar um futuro para a amêndoa portuguesa.
Entre Fevereiro e Abril as amendoeiras florem compondo nos campos um espectáculo que atrai milhares de visitantes às terras produtoras de amêndoas. A natureza torna-se um atractivo turístico. Vila Nova de Foz Côa, Torre de Moncorvo, entre outros municípios transmontanos, convidam por esta época a ver as amendoeiras em flor e aproveitam a oportunidade para promover os produtos regionais. Os visitantes contribuem ainda para incrementar as vendas no comércio, na hotelaria e restauração.
«As festas da amendoeira em flor de Vila Nova de Foz Côa vão já na 31ª edição. É um certame que criou raízes em todo o país e Espanha. É reconhecido. Tem muita importância, além da divulgação do concelho, é uma maneira de ajudar o comércio local, hotelaria e restauração. A festa prolonga-se por duas, três semanas. Há sempre um retorno grande face ao investimento», diz o presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa, Gustavo Sousa Duarte.
No entanto, os produtores alertam que a amêndoa não pode ser apenas sinónimo de turismo. Segundo o Observatório dos Mercados Agrícolas e Importações Agro-Alimentares (OMAIAA), em 2010, Portugal tinha uma área de amendoal de 26,842 hectares, registando um ligeiro crescimento face a 2009, quando se analisou existirem 26,839 hectares de amendoal.
Contudo a produção baixou e a produtividade por hectare também diminuiu. Em 2010, a produção rondou as 7012 toneladas, sendo que em 2009 tinha sido de 9145. Na mesma tendência de decréscimo esteve a produtividade dos terrenos. Em 2010, produziu-se 261 quilogramas por hectare, contra os 341 quilogramas por hectare de 2009.
«Apesar das ajudas ao sector, cerca de cinco milhões de euros por ano, com início em 2004, vem-se acentuando uma quebra de produção; passámos de duas mil e quinhentas toneladas de miolo por ano para menos de metade, ao contrário de Espanha que, com as ajudas, mais que duplicou», afirma Joaquim Grácio, presidente da direcção da CoAmêndoa, uma organização de produtores com sede em Freixo de Numão, no concelho de Vila Nova de Foz Côa.
De acordo com o OMAIAA, a região Norte manteve em 2009 e 2010 a mesma superfície plantada (17.310 hectares), no entanto a produção decresceu. Em 2010 produziram-se 5601 toneladas de amêndoa mas em 2009, a produção tinha sido de 7735 toneladas.
Joaquim Grácio adianta ainda que «há agricultores que receberam mais de trezentos mil euros desde 2004 até 2011 e que deixam a produção nas árvores, obrigando a que o país tenha de importar mais de duas mil toneladas de miolo da Califórnia».
Os Estados Unidos da América (EUA) ocupam o primeiro lugar na lista dos principais produtores de amêndoa (Portugal está em 21º). No ano de 2010, os EUA produziram 1.413.800 toneladas de amêndoa, imediatamente seguidos pela Espanha, com 221 mil toneladas.
Actividade é pouco lucrativa
Na balança comercial de 2010, a amêndoa com casca teve um peso de 347,683 mil euros em importação, sendo a exportação um valor ligeiramente superior: 361,607 mil euros, o equivalente a 450 toneladas de amêndoa exportada. Contas feitas, na amêndoa sem casca, a importação é muito superior à exportação. O OMAIAA revela que, em 2010, foram importadas 2217 toneladas de amêndoa sem casca (mais de oito milhões de euros). A exportação da amêndoa sem casca foi de 292 toneladas, pouco mais do que um milhão e meio de euros. Os principais países de destino da amêndoa nacional são o Brasil e Espanha. Quanto à importação, a amêndoa chega-nos sobretudo dos Estados Unidos e Espanha.
O presidente da direcção da CoAmêndoa teme que o cenário venha a agravar-se com a entrada em vigor, no próximo ano, do Regime de Pagamento Único (RPU). «Com base no histórico dos anos 2005/2008, os cerca de cinco milhões de euros provenientes de Bruxelas (destinados a pouco mais de dez mil hectares) passam a ser distribuídos directamente pelo IFAP [Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas]. Estamos a falar de cerca de 490,00 euros por hectare que, sendo dinheiro a mais, continua a criar autênticos profissionais do subsídio».
As amendoeiras este ano estão muito floridas, «se chover o ano será bom», comenta Bruno Cordeiro, membro da direcção de uma outra organização de produtores transmontanos, a Cooperativa Agrícola de produtores de Amêndoa de Trás-os-Montes e Alto Douro. Segundo este responsável, o Estado vai pôr fim ao «subsídio para frutos de casca rija que tem contribuído para que, nestes últimos anos, muitas pessoas plantassem novos amendoais. A actividade é pouco lucrativa e estes subsídios compensavam um pouco isso. Com o seu fim haverá um decréscimo de amêndoa».
«O preço que se pratica hoje é quase o mesmo de há 20 anos. Temos de ter em conta que o custo de vida aumentou, assim como os impostos», adianta. No ano passado, esta cooperativa que tem 1700 associados (num total de cinco mil hectares de amendoal) recebeu «um milhão e duzentas toneladas de amêndoa». Bruno Cordeiro, diz que se chover por estes dias «voltaremos a atingir esses valores ou mesmo ultrapassar». Uma produção que encontra mercado na vizinha Espanha. «Na produção de 2011 vendemos 50% para uma fábrica local, outros 50% para Espanha. Mas ao abrigo de acordos comunitários, para Espanha temos IVA de 0%, em Portugal passou dos 13% para os 23%, não compensará vender por cá», remata.
Já Joaquim Grácio diz que a produção da CoAmêndoa, associação que preside, é «essencialmente destinada ao mercado interno, não mais de 500 toneladas de amêndoa sem casca, (à volta de cem toneladas de miolo) para que as duas maiores empresas de transformação/britagem, uma em Pinhel e outra em Alfândega da Fé, continuem a trabalhar».
Aplicar amêndoa na cozinha é futuro
A gastronomia portuguesa contém, muitas vezes, a semente nascida em árvores de flores brancas e cor-de-rosa. Amêndoas caramelizadas, tortas, bolos, amêndoas cobertas de açúcar. Estas últimas são tradicionais em Torre de Moncorvo, um município liderado por Fernando Ferreira. O autarca defende que o futuro das produções de amêndoa na região passam por uma maior ligação à agro-indústria «um pouco à semelhança do que já se faz com a castanha», diz. «Uma das hipóteses para a continuação do amendoal é as próprias cooperativas evoluírem para manufactura de produtos com amêndoa. Pode haver investigação culinária. Temos produtos como o borrego, posta mirandesa, o chouriço doce que se calhar podiam combinar-se com a amêndoa. E depois há a parte da doçaria artesanal que nos últimos anos tem vindo a crescer».
Fernando Ferreira aponta novos caminhos para uma actividade económica que «tem um peso importante na economia local». Contudo, começa a verificar-se «algum abandono do amendoal, sobretudo porque não conseguimos ter preços competitivos com outros países produtores como Estados Unidos da América, a Espanha», afirma.
in:cafeportugal.net
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