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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Lenda dos Sete Infantes de Lara

Local: Parada, BRAGANÇA
Informante: Neuza da Conceição Estevinho (F), 50 anos

Há muitos e muitos anos, houve na aldeia de Parada [de Infanções], concelho de Bragança, uma mulher, chamada Dona Sancha, que teve sete filhos de um só ventre. E viu-se tão envergonhada com isso que combinou com a criada para que lhe fosse afogar seis, tendo escolhido um para criar. Quando a criada ia com os meninos metidos numa canastrinha a caminho do rio, encontrou o patrão, o famoso Conde Gonçalves, que andava à caça. Ao vê-la, perguntou-lhe: 

    — Que levas nessa canastrinha? 
    E a criada respondeu: 
    — Levo cãezinhos de uma cadela que pariu lá em casa. A senhora apenas quis um e mandou afogar estes. 
    Diz-lhe então o Gonçalves:
    — Pois não quero que os afogues. Volta para casa com eles e diz à senhora que fui eu que mandei. 
    A criada alterou-se contra o patrão, e não lhe queria obedecer. Dizia que eram ordens da patroa. E essas é que valiam. Então o conde, mais arreliado ainda, tira-lhe a canastrinha das mãos e vê lá os meninos. E diz-lhe: 
    — Valha-me Deus, mulher, que isto é parte do meu coração! 
    E assim o conde salvou os filhos. Mandou então a criada embora, dizendo-lhe que guardasse segredo junto da patroa. Que ele faria igual. A seguir foi espalhar os seis irmãos pelas aldeias das redondezas, para que lhos criassem. Quando atingiram a idade de sete anos, resolveu juntá-los novamente e apresentá-los à mãe. Vestiu-os todos de igual e meteu-os numa sala, juntamente com o que ela tinha. Depois chamou a mulher e disse: 
    — Vai visitar o teu filho. E vê se o reconheces entre os demais. 
    Mal a mulher olhou para eles, caiu redonda no chão, desmaiada. Quando acordou pediu perdão ao marido e aos filhos e passaram a viver unidos e felizes. 
    Os anos correram e, num certo dia, o Conde Gonçalves, a mulher e os sete infantes, foram convidados pelo Rei Blasques, para o casamento de uma filha. Como eram família, lá foram então ao casamento. E quando estavam na festa, um dos sete infantes, que era o mais brincalhão, atirou uma pulha à noiva. Ela não gostou e foi queixar-se ao rei, pedindo-lhe vingança. E o rei para se vingar resolve esperar por melhor ocasião. Dali a dias, mandou o Conde Gonçalves com uma embaixada ao rei mouro. Fez uma carta, fechou-a, e disse ao conde que fosse levá-la a Córdova, ao rei mouro. E que esperasse pela resposta. 
    O conde assim fez. Levou a carta, só que não sabia o que ela dizia. Por isso não lhe passava pela cabeça que a carta o denunciava como traidor. E que pedia ao rei mouro que castigasse o mensageiro com a morte. O rei mouro, ao ler a carta, mandou logo encerrar o Conde Gonçalves nas masmorras, esperando mandá-lo matar na hora própria.
    Entretanto, o tempo passou, e, como o conde nunca mais regressava a sua casa, os sete irmãos, desconfiando que tivessem feito mal a seu pai, foram lá para o resgatar. E travaram uma batalha, sozinhos, contra quinze mil mouros. Uma batalha que não puderam vencer. Acabaram todos eles mortos e degolados. 
    Depois o rei mouro mandou pôr as sete cabeças numa bandeja e deu ordens para que as levassem às masmorras, ao pai dos infantes. A vida do Conde Gonçalves, depois disto, foi terrível no cativeiro do rei mouro. Valeu-lhe uma filha deste que, sabendo do sucedido, teve pena do prisioneiro e afeiçoou-se a ele. Às escondidas do rei, a jovem protegeu-o como pôde. E um dia disse-lhe: 
    — Se negares a tua religião e professares a minha, posso salvar-te. 
    Ao que o conde lhe respondeu: 
    — Antes sofrer mil mortes! 
    A princesa moura, ao aperceber-se da força tamanha que tinha a fé do prisioneiro, dispondo-se a dar por ela a sua própria vida, ainda se afeiçoou mais a ele. Passou a ser mais que sua protectora. Enamoraram-se. E com isto arranjaram um filho, ao qual puseram o nome Mudarra. Quando ele cresceu e soube a verdade sobre o seu pai e sobre a morte dos seus irmãos, resolve vingar-se, matando o Rei Blasques e outros que com ele colaboraram. 
    Depois, procurou nas masmorras o Conde Gonçalves. Como não o conhecia, perguntou a um homem velho e cego que encontrou: 
    — Há aqui um tal Gonçalves? 
    O velho respondeu: 
    — Eu lhe darei razão dele. Fale-me aqui ao ouvido, e diga-me o senhor quem é. 
Tornou-lhe então Mudarra: 
    — Sou filho duma moura, mas por Gonçalves fui gerado! 
    O velho conde, comovido, abraçou-se ao jovem e disse: 
    — Sou esse que procuras! 
    Mudarra tirou o pai da prisão e levou-o para a sua casa em Parada. E ali passou a viver com ele, sob as leis do cristianismo. A casa ainda lá existe. E a aldeia é conhecida como Parada de Infanções, em memória dos sete infantes.

Fonte:PARAFITA, Alexandre A Mitologia dos Mouros: Lendas, Mitos, Serpentes, Tesouros

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