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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Usos Alternativos da Cortiça


Embora a imagem da cortiça esteja intimamente ligada às rolhas, as utilizações desta matéria prima natural não se esgotam por aqui. Pelo contrário, as características únicas da cortiça potenciam usos alternativos que nem imagina!
A cortiça é um material que tem acompanhado a Humanidade desde tempos imemoriais, tendo já assumido, ao longo desta história comum, as mais diversificadas utilizações. As primeiras referências às suas aplicações remontam a mais de 3000 anos a.C., em regiões como a China e o Egipto, nomeadamente como vedante ou aparelhagem flutuante, seguindo-se aplicações em calçado, isolamento de habitações (por exemplo, no Convento dos Capuchos em Sintra), sendo ainda referenciadas aplicações em utensílios domésticos e mesmo com fins terapêuticos. Depois do início da utilização das rolhas na vedação do vinho engarrafado, com o surgimento do champanhe, e do aparecimento dos primeiros aglomerados simples ou compostos, foram também surgindo diversas aplicações, como em coletes salva-vidas, em isolamentos na indústria da guerra, em filtros de cigarros, como fonte de determinados compostos químicos, em aeronáutica espacial, na indústria dos transportes, no desporto, na construção civil e numa infinidade de outras utilizações. 
De uma maneira geral, qualquer pessoa, mesmo sem dominar o que se passa no sector corticeiro, identifica, à partida, duas aplicações da cortiça: as rolhas e os aglomerados para revestimentos. Algumas pessoas com maior conhecimento poderão indicar aplicações mais pormenorizadas, como as rolhas de cortiça natural, as de cortiça aglomerada e as rolhas para champanhe, os revestimentos de piso e de parede, os solados de calçado, as juntas para motores e os isolamentos térmicos em derivados de cortiça. A estes usos, os mais conhecedores adicionarão ainda as rolhas mais recentes do tipo “1+1”, os isolamentos acústicos e vibráticos, as aplicações nos volantes de badmington ou em bolas (críquete, hóquei…), as juntas de dilatação e os “underlays”. Os peritos e especialistas poderão ainda referenciar as aplicações em isolamentos em mísseis, foguetões e submarinos, a obtenção de produtos químicos para fins farmacêuticos, peças de instrumentos de sopro, marroquinaria e muitas outras.
Verifica-se assim, desde já, que existe um grande número de usos alternativos da cortiça, mas este número não pára de crescer, muito devido ao esforço em I&D (projectos de Investigação e Desenvolvimento) efectuado pelos vários intervenientes, empresas, instituições de investigação e universidades. Assim, é possível fazer uma pequena resenha de alguns dos novos usos alternativos para a cortiça, desenvolvidos nos últimos anos, a nível mundial e internacional. Saliente-se que numa pesquisa de patentes a nível mundial relacionadas com a cortiça, para o período 1996-99, o país que mais registos de patentes apresentava era Portugal, seguido do Japão.
Deste modo, como usos alternativos de cortiça, já desenvolvidos ou em desenvolvimento, a maior parte patenteados, mas sem estarem disponíveis no mercado, temos: 
1 – Painéis rígidos, peças rígidas para divisórias amovíveis, painéis de portas e mobiliário, com características diferenciadas em relação aos materiais tradicionais, quer técnicas quer estéticas. Estes aglomerados rígidos de cortiça podem ter várias origens, como sejam a densificação irreversível do aglomerado expandido de cortiça ou aglomerados compostos com termoplásticos. Estes produtos permitem uma trabalhabilidade similar à da madeira e podem, inclusive, ser usados como bases de pisos flutuantes.
2 – Uso de granulados e/ou desperdícios da trituração da cortiça para limpeza de peças e/ou estátuas e/ou fachadas expostas à poluição ambiental. Este sistema tem sido aplicada à limpeza dos isoladores eléctricos dos postes de alta tensão e permite a substituição de materiais importados e o regular fornecimento em função das necessidades. As partículas de cortiça são projectadas contra a superfície a limpar, mas a sua constituição não degrada o material que se limpa, sendo, por isso, particularmente indicadas para a limpeza de superfícies sensíveis.
3- Um dos resíduos do fabrico do aglomerado expandido são os condensados do seu vapor de cozimento. Estes podem ter uma utilização em bruto para a preparação de soluções, em solventes para aplicação em madeira, permitindo conferir uma maior estabilidade dimensional, uma maior resistência ao ataque dos fungos e mesmo colorações interessantes para determinadas aplicações (mobiliário). Prevêem-se também aplicações na protecção de toros cortados e em árvores. 
4- Este resíduo pode também ser uma matéria prima muito importante para a obtenção de produtos para química fina e farmacêutica. Após purificação e separação química são obtidos compostos com aplicações diversas, entre as quais um adjuvante de vacinas. Houve, inclusive, estudos em tratamentos anti-cancerígenos e como anti-fágicos para insectos.
5- Com base no pó de cortiça podem ser obtidos uma série de compostos químicos, por extracção directa ou indirecta após reacção química. Por exemplo, podem ser obtidos hidroxiácidos com interesse para fins medicamentosos.
6- Embora a cortiça já seja usada na indústria automóvel em juntas (cabeça do motor, caixa de velocidades etc.) e em pisos de transportes públicos, foram estudadas aplicações de produtos de cortiça no interior do habitáculo, por exemplo, em apliques, nos punhos do travão de mão e da alavanca de velocidades, no revestimento do volante e tablier, etc.. 
7- O poder de auto-adesividade do pó de cortiça, devido à existência das resinas naturais da própria cortiça, permite o fabrico de aglomerados de cortiça por prensagem a quente, a frio ou por extrusão, permitindo a obtenção de painéis (com eventual incorporação de outras partículas), de pastilhas de alta densidade e de briquetes para fins diversos. 
Para além destes usos alternativos, estão ainda previstos ou referenciados o estudo do fabrico de perfis de compósitos cortiça/plástico, contraplacados com lamelas de derivados de cortiça, discos de embraiagem com incorporação de cortiça, usos em pout-pourris, enchimentos, etc., ou seja, uma panóplia de aplicações em que a cortiça ou é o componente principal ou participa para conferir especiais características aos produtos que integra. 
Concluindo, foram desenvolvidas novas utilizações e/ou aplicações para a cortiça e derivados que, nos casos em que ainda não estão em produção, podem vir a inovar um sector industrial tradicional que se encontra ainda muito ligado a produtos e técnicas existentes há muito tempo, salvo algumas excepções, que felizmente vão aumentando. 
Isto torna possível quase inúmeras possibilidades de evolução, faltando apenas que se aposte mais fortemente nos resultados de I&D existentes e a obter. Paralelamente, a cortiça tem vindo a ser vista, e deve ser cada vez mais, como um material estratégico com enormes potencialidades e múltiplos usos, devendo este sector ser especialmente “acarinhado” pelas entidades que de alguma modo “cruzam” esta fileira, apostando nomeadamente nas capacidades de I&D nacionais e no apoio e encorajamento do tecido industrial, para a implementação das tecnologias que permitam promover os usos alternativos da cortiça.


Luís Gil
in:naturlink.sapo.pt

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