Concelho de Bragança teve praticamente o dobro dos horários zero do que no ano passado por esta altura. Mas escolas ainda estão otimistas O concelho de Bragança teve, este ano, cerca do dobro de professores de quadro de escola que ficaram sem horários, relativamente à mesma altura do ano passado. As escolas foram obrigadas a comunicar ao Ministério da Educação as suas previsões para o próximo ano letivo até à última sexta-feira e, apesar de ainda não estarem formadas todas as turmas, os primeiros indicadores mostram um aumento de professores sem turmas atribuídas, para já. Só na Escola Secundária Miguel Torga, por exemplo, quase metade dos 78 professores do quadro (excluindo seis destacados) estão sem componente letiva. Nos dois agrupamentos da cidade, o Abade de Baçal e o Emídio Garcia, o cenário não é tão negro, apesar da fusão com outros dois agrupamentos ter aumentado os quadros de professores. De acordo com dados fornecidos pelos próprios agrupamentos, na Abade de Baçal há 11 horários zero de professores do quadro (nove na Abade de Baçal e dois na Augusto Moreno). Mas o número sobe a 30 se forem contabilizados os restantes professores (de Quadro de Zona Pedagógica e contratados).
Já no agrupamento Emídio Garcia, são 18 professores do quadro com horário zero (mais de 50 no total), quando, nos últimos anos, eram quatro (de Agropecuária). Apesar de ter sido a única escola a recusar fornecer dados, o Mensageiro apurou junto a várias fontes daquele estabelecimento de ensino que na Escola Secundária Miguel Torga há, pelo menos, 35 professores sem um mínimo de seis horas letivas, incluindo a esposa do próprio diretor da escola, quando, no ano passado, não eram mais de 25. Português e Fisico-Química, com sete cada um, são os grupos mais afetados por esta situação.
Baterias apontadas ao Governo mas não só
Para já, as direções das escolas pedem calma aos professores. José Carrapatoso, da Miguel Torga, recusa avançar dados que considera “extemporâneos nesta altura”. “Fomos obrigados a fazer este levantamento mais cedo do que no ano passado, e numa altura em que não temos as matrículas todas. Ainda não contamos com os alunos de quinto, sétimo e décimo ano”, frisa. Por isso, considera que ainda é possível, até meio de Agosto, recuperar bastantes dos horários zero agora identificados, tal como aconteceu no ano passado. José Carrapatoso alerta ainda para o facto de as escolas serem aconselhadas a darem as suas previsões “por excesso e não por defeito”. A direção do agrupamento Emídio Garcia é da mesma opinião.
Ainda não estão todas as turmas definidas, pelo que será possível recuperar alguns dos horários que agora parecem perdidos. E são várias as causas deste aumento de horários zero em Bragança. Desde logo, a reorganização escolar levada a cabo pelo Ministério da Educação, que subiu o número mínimo de alunos por turma para 26, é apontada por escolas, professores e sindicatos como uma das principais razões. Outra é a dificuldade em abrir novos cursos profissionais ou o caso dos PIEFs (ver caixa). Mas o Sindicato de Professores do Norte aponta ainda uma “reestruturação educativa mal pensada” como outro dos fatores a ter em conta em Bragança.
Dezassete PIEFs previstos para o distrito
Uma das coisas que deixa horários em suspenso é a abertura de cursos PIEF. O PIEF é o Programa Integrado de Educação e Formação, medida de exceção que se apresenta como remediação quando tudo o mais falhou para os jovens e as suas famílias. Este ano passaram para a coordenação da Segurança Social. O Mensageiro sabe que no próximo ano deverão abrir 17 cursos destes em todo o distrito, com um total de cerca de 300 alunos. A proposta apresentada contempla oito turmas em Bragança (duas na Abade de Baçal, duas na Miguel Torga e quatro na Paulo Quintela), duas em Macedo de Cavaleiros, três em Vinhais, uma em Vimioso, dias em Mirandela e uma em Torre de Moncorvo. Depois de aprovadas, poderão absorver alguns dos horários zero agora contabilizados.
Professores não querem ficar de braços cruzados
Renato Neto é professor de Físico-Química na Escola Secundária Miguel Torga há 16 anos. Pelo segundo ano consecutivo, viu-se sem horário. Diz que este foi o pior ano, até porque há vários colegas com mais de 20 anos de serviço na mesma situação. Por isso, não cala a revolta. “Os professores deviam manifestar-se. É uma situação que afeta a todos e pode acontecer a qualquer um. Tem havido alguma flexibilidade na formação das turmas, algo que este ano não existiu”, diz. Em jeito de desabafo, garante que “é desgastante estar na escola sem ter o que fazer”. Até 2010/2011, foi presidente do Conselho Geral da sua escola, o órgão máximo de gestão de uma escola “com um rácio de um professor para cinco alunos”. E assegura que uma das causas para tantos horários zero foi o facto de a sua escola ter ficado isolada. “Foi um erro terem tentado criar um agrupamento novo.
A Miguel Torga devia ter ficado ligada à Abade de Baçal, mas continuando a existir fisicamente. É que os nossos professores são mais graduados e numa lista conjunta teriam mais possibilidades de ficarem colocados”, explica. “A situação que se criou não vem trazer nenhum benefício para a escola e muito menos para o quadro docente”, acredita, defendendo que, em Bragança, só deveria haver “até só um agrupamento”. Agora, aponta baterias “à direção da escola, à DREN e à autarquia”, pois teme que, se o Ministério fizer contas, conclui que “o custo por aluno nesta escola é muito superior”, pois há menos estudantes. O que coloca dúvidas no seu horizonte.
Por: António Gonçalves Rodrigues
in:mdb.pt
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