Júlio Moreira Fragata nasceu em Seixo de Anciães, concelho de Carrazeda de Anciães, no distrito de Bragança, a 17 de Abril de 1920.
Em 1932 começou os estudos preparatórios no Seminário da Costa (Guimarães). Entrou no noviciado da Companhia de Jesus em 1937, onde efectuou os estudos de Humanidades Clássicas, vindo depois para Braga, para o Curso de Filosofia. Obteve a Licenciatura em 1947, ano em que deu início aos estudos de teologia na Universidade de Granada, prosseguindo-os, em 1949, na Faculdade de Teologia da Universidade de Innsbruck (Áustria), onde teve como professor o célebre teólogo Karl Rahner, S. J.. Licenciou-se em teologia em 1951.
Defendeu depois, em 1954, em Roma, na Universidade Gregoriana, a tese de doutoramento sobre A Fenomenologia de Husserl como Fundamento da Filosofia, escrita num estilo simples e muito claro. Após o doutoramento veio ensinar História da Filosofia Moderna e Contemporânea na Faculdade de Filosofia de Braga. Desde essa data e até 1960, ministrou vários cursos no Centro de Estudos Humanísticos, anexo à Universidade do Porto, sobre História da Filosofia Moderna, nomeadamente do Renascimento a Kant, Fenomenologia de Husserl, Filosofia da Existência e Materialismo Dialéctico.
A partir de 1965, ficou incumbido da Regência da Cadeira de História da Filosofia Moderna na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (Diário do Governo de 2.2.65). Entretanto, a convite da Faculdade de Filosofia de Nova Friburgo (Brasil), aí passou 3 meses a dar um curso de História da Filosofia Contemporânea e proferiu várias conferências no Rio de Janeiro sobre « Fenomenologia e Filosofia da Existência ».
Desde 1962 fez parte da Direcção da secção de Filosofia da VERBO – Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, na qual colaborou assiduamente. Foi membro fundador do Centro de Estudos Fenomenológicos, fundado em Coimbra, de cuja Direcção fez parte de 1965 a 1985, Presidente da Assembleia Geral da Associação Jurídica de Braga, Director da Faculdade de Filosofia de Braga da UCP de 1968 a 1971 e de 1978 a 1985, Superior Provincial da Província Portuguesa da Companhia de Jesus de 1971 a 1977.
Além de Professor de História da Filosofia Moderna e Contemporânea na Faculdade de Filosofia de Braga e na Faculdade de Letras do Porto, teve também a seu cargo a leccionação das cadeiras de Ontologia e Metafísica, Filosofia Teológica e Metodologia.
Orientou várias teses de Mestrado e de Doutoramento e fez parte de numerosos júris de doutoramentos, de concursos e agregações de professores nas Universidades Portuguesas.
Deu retiros espirituais a bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas, jovens e proferiu inúmeras conferências de índole filosófica, pastoral e cultural. Contam-se por milhares as cartas a seus correspondentes que iam da gente simples a bispos e catedráticos.
Teve um papel preponderante no lançamento da secção de Viseu da Universidade Católica Portuguesa e na extensão madeirense (Funchal) desta Universidade, tendo sido Director de uma e de outra.
Em colaboração com os Catedráticos Alexandre Morujão, Francisco da Gama Caeiro e António Paim, orientou os trabalhos preparativos da Enciclopédia de Filosofia Logos, que actualmente se compõe de 5 volumes.
A Câmara Municipal de Braga, em reunião de 17.10.1985, atribuiu-lhe a Medalha de Mérito da Cidade, cuja entrega foi feita no anfiteatro da Faculdade de Filosofia, pelo Presidente da Câmara, Francisco Soares Mesquita Machado, a 25.11.1985, numa sessão em que estavam presentes o Senhor Arcebispo Primaz de Braga, D. Eurico Dias Nogueira, os Reitores da Universidade do Porto e da Universidade Católica Portuguesa, o Reitor em exercício da Universidade do Minho, o ex-reitor da Universidade do Minho e actual Director da Faculdade de Filosofia, Lúcio Craveiro da Silva, professores e alunos da Faculdade de Filosofia da UCP e de outras Universidades e alguns dos muitos amigos do homenageado.
Além da Medalha de Mérito, a Comissão de Toponímia da Câmara Municipal de Braga atribuiu o nome do P. Júlio Fragata à Avenida situada em frente do hipermercado Feira Nova.
O Ministério da Educação (Gabinete do Ministro) emitiu o seguinte louvor :
« Considerando os altos serviços prestados à causa do ensino em Portugal pelo Prof. Doutor Júlio Moreira Fragata, director da Faculdade de Filosofia de Braga, da Universidade Católica Portuguesa ; considerando o seu excepcional valor como profundo e original pensador nos domínios filosófico e humanístico ; considerando a excelência da sua vasta obra científica e de investigação; considerando o seu grande contributo para a expansão do ensino superior universitário em Portugal : louvo publicamente o Prof. Doutor Júlio Moreira Fragata pelos assinaláveis serviços prestados a este Ministério e ao País ».
30-10-85. – O Ministro da Educação, João de Deus Pinheiro – (Diário do Governo, II Série - N.º 267 - 20-11-1985 10 861).
Na Assembleia da República, O Sr. Deputado Dr. Agostinho Domingues teve uma intervenção para pôr em relevo a personalidade invulgar do Prof. Júlio Fragata, pela profundidade do seu saber e da sua cultura, mestre e pedagogo, de uma simplicidade e de uma disponibilidade cativantes, marcando indelevelmente todos quantos puderam beneficiar um pouco da sua lição de ciência e vida e lamentou a perda de um dos raros filósofos do nosso tempo. E transcreveu um pequenino excerto de um poema que uma aluna do P. Fragata lhe dedicara :
Era a lição ao vivo da simplicidade,
Que decorria sem filosofemas
E o professor não preparava esquemas,
Só a trazia consigo simplesmente,
Nesse modo de ser condescendente,
Que marca quase sempre o homem superior.
(Diário da Assembleia da República, 1 Série, N0 28, Reunião Plenária de 30.1.1986)
A Câmara Municipal de Viseu, na reunião de 6.11.1985 deliberou prestar Homenagem « ao insigne Professor Doutor Júlio Moreira Fragata, Director da Faculdade de Filosofia de Braga da Universidade Católica Portuguesa pelos extraordinários serviços desenvolvidos a favor de Viseu, designadamente a sua valiosa e relevante acção, que, inequivocamente contribuiu, para a criação e implementação nesta cidade da Secção da Universidade Católica, estabelecimento de ensino superior, de iniludível valor social e cultural para esta região beiraltina do interior do País. Mais deliberou dar o nome a uma artéria da cidade, do cidadão ilustre, que à cultura do nosso País dedicou sempre a sua invulgar inteligência, perpetuando, assim, o reconhecimento justo dos Viseenses como preito de indelével gratidão... »
Nos últimos seis meses de vida, foi vítima de um câncro maligno, dando provas, durante a doença, de uma virtude heróica e de uma fé amadurecida.
A 27 de Dezembro de 1985, despediu-se desta vida a cantar com os que o acompanhavam na última agonia : « In manus tuas, Domine, commendo spiritum meum » – « Nas tuas mãos, Senhor, entrego o meu espírito ».
Bernardino Fernandes, S. J.
A sua obra escrita compõe-se de: Livros : A Fenomenologia de Husserl como Fundamento da Filosofia ; Problemas da Fenomenologia de Husserl ; Noções de Metodologia. Para a elaboração de um trabalho científico (com 3 edições e editado também no Brasil) ; Vivências cristãs ; Mais forte que a morte – reflexões cristãs (obra póstuma) ; História da Filosofia Moderna (Apontamentos das aulas coligidos pelos alunos e revistos pelo autor) ; Problemas da Filosofia Contemporânea (obra póstuma – colectânea de artigos publicados, alguns deles difíceis de encontrar).
Inúmeros artigos publicados em diversas revistas, muitos deles na Revista Portuguesa de Filosofia, de que foi Director ; 65 vocábulos na Enciclopédia Verbo de Cultura. Colaborou ainda em livros escritos por diversos autores, em Jornais e Prólogos a diversos livros.
Tomou parte em diversos Congressos em Portugal e no estrangeiro.
Foi-lhe dedicado um número especial duplo da Revista Portuguesa de Filosofia no ano seguinte ao seu falecimento (R. P. F. 42 (1986-3/4) 225-493).
(Texto cedido pela Faculdade de Filosofia)
Sinto-me orgulhoso quando vejo um Transmontano a ser reconhecido pelos seus méritos.
ResponderEliminarEste nosso conterrâneo de Carrazeda de Ansiães merece as honras de publicação que o Henrique Martins faz aqui no seu blogue.
Os bons exemplos, as boas práticas e os homens que contribuíram para valorizar o País, não podem ser esquecidos.