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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Carrazeda de Ansiães (Distrito de Bragança)

Teve o primeiro foral concedido por D. Afonso Henriques, em 1160. D. Sancho l, deu-lhe novo foral em 1198, confirmado por D. Afonso ll, em 1219, e D. Manuela l outorgou-lhe novo foral em 1510.
A actual vila, cuja fundação é anterior à da Nacionalidade, teve vários forais que lhe começaram a ser outorgados no século lX, por Fernando Magno. Esta antiguidade deixou por aqui vestígios que ainda hoje se podem comprovar pela anta de Zedes ou a gruta da Rapa, onde ainda hoje se podem ver inscrições rupestres.
Segundo; Xavier Fernandes em Topónimos e Gentílicos (1944): “Num foral do século Xl, encontra-se Ansilanes, por Ansilanis, que é o genitivo de Ansila, isto é, Ansilanis villa, quinta de Ansila. A evolução de Ansilanis, que é o étimo, deu-lhe normalmente: queda do “l” e do “n” intervocálicos e nasalação do vocal anterior a esta última consoante. O topónimo é de origem germânica e nenhuma dúvida há quanto ao seu étimo; consequentemente, nenhuma dúvida pode haver quanto à respectiva representação gráfica. Segundo se tem afirmado, o topónimo quer dizer vila dos velhos ou vila velha”
Carrazeda de Ansiães
Carrazeda de Ansiães teve o seu próprio percurso Histórico, Administrativo, Judicial e até Religioso. Pelo que deverá conhecer-se uma síntese do mesmo, até para melhor compreensão da actual realidade daquele concelho.
É na extinta Vila de Ansiães, situada a cerca de 4 quilómetros da actual sede municipal, que começa a administração daquela zona territorial. Carrazeda era, nessa altura, um lugar com poucas habitações e pessoas, situado já na zona planáltica para norte do Castelo de Ansiães.
Assim é indicado nos Forais da Vila de Ansiães: o 1º pensa-se que tenha sido dado por Fernando o Magno, Rei de Leão e Castela no século XI, e depois confirmado por D. Afonso Henriques por volta de 1160. D. Sancho I volta a confirmar este foral em 6 de Abril de 1198. D. Afonso II reconfirma-o em Guimarães em Abril de 1219.
Mais tarde, D. Manuel I dá-lhe Novo Foral a 1 de Junho de 1510.
Em 1384 D. João I manda os moradores dos lugares de Freixiel, Murça e Abreiro "prestarem adua nos muros", ajudando a dar mais resistência com cinturas fortes e torres defensivas e usando pedra maior, pois até aí era miúda. E, em 1443 o regente D. Pedro deu aos seus moradores os "resíduos" (imposto) das Vilas de Freixiel, Abreiro e Vilarinho da Castanheira para consertar os muros, devendo auxiliar os moradores.
Os arranjos dos muros da fortaleza de Ansiães foram também efectuados às custas das terças reais em 1580 e 1591. Em 1640, quando se deu a restauração da Independência de Portugal, expulsando os reis Filipes de Espanha, o povo reforçou e arranjou partes do Castelo.
A importância do Castelo de Ansiães na defesa da região e nomeadamente da linha do Rio Douro foi assim contínua desde a Formação de Portugal até ao século XVII. Na Vila tinham os seus solares famílias importantes, como os Mesquitas, os Magalhães e os Sampaios.
É nesta altura que o povoado de Carrazeda começa a ganhar mais importância, enquanto que a Vila de Ansiães deixa de ter esse enorme valor defensivo e municipal, e entra em estagnação e até certa decadência.
Em 1721 tinha a Vila de Ansiães "2 Juízes ordinários, 3 vereadores, 1 procurador, 2 almotacéis, hum Juiz de Órfãos, 4 tabeliães... 1 escrivão de Câmara e 1 alcaide".
E para Regimen da Milícia tem Cappitam mor e sargento mor, e cinquo Companhias com cinquo cappitans e ofticiaes, a saber a 1.ª da Vila, a 2.ª do Seixo, a 3.ª da Fonte Longa, a 4.ª do Pinhal da Ribeira e a 5.ª de Linhares". O golpe fatal é dado com o bacharel José Álvaro d'Almeida. Os nobres e homens bons tinham-se ausentado dela indo com D. Sebastião para Álcácer-Quibir (África), desaparecendo a acção das leis e da Justiça. Então era o Juiz de Fora que representava o rei e em 1734 foi nomeado aquele bacharel para Juiz de Fora. Este consegue a mudança da Vila de Ansiães para Carrazeda.
Não se fez sem oposição, pelo que o Juiz de Fora Dr. Justiniano Ferraz de Araújo e Castro, para desfazer e acabar com os prestígios e privilégios que os da Vila tinham, manda derrubar e despedaçar o Pelourinho de Ansiães que era o símbolo da autonomia judicial.
Era elegante e tinha 4 faces cada uma com as armas reais, uma Torre com duas portas, um castelo com porta e com uma chave segura por uma mão, e ainda um Velho barbado, com os braços meio erguidos e maça na mão direita, numa atitude combativa. (Seria o Velho Ansinales).
O local começa a entrar em declínio rápido e, em meados do século XIX Ansiães estava abandonada. Ficou o Castelo, muralhas e outros monumentos ao tempo, para recordar aos vindouros a heróica época da sua existência.
Simultaneamente Carrazeda passa a ser sede do município com o nome de Carrazeda de Ansiães, e ganha outro impulso, o seu desenvolvimento a partir do antigo núcleo que fica junto da Igreja Matriz que data de 1790.
Ali são edificadas construções essenciais para qualquer município da época: o Pelourinho com coluna octogonal, 3 metros de altura e assente em 4 degraus, com o escudo nacional Joanino, e a Casa da Câmara ou Paços do Concelho que ostenta a data de 1736-1737.
A primitiva Vila de Ansiães era da coroa e chamava-se concelho. Era constituído pelos seguintes lugares:
Amedo, Beira Grande, Belver, Carrazeda, Castanheiro, Fontelonga, Luzelos, Marzagão, Mogo (de Malta), Parambos, Pinhal (do Norte), Pombal, Ribalonga, Samorinha, Selores, Seixo (de Ansiães), Zedes, e ainda as Quintas de: Alganhafres, Arcas, Arnal, Besteiros, Brunheda, Campelos, Coleja, Fontoira, Felgueira, Fiolhal, Lavandeira, Misquel, Paradela, Penafria, Tralhariz, Sentrilha.
Ao mesmo tempo a Vila e concelho de Vilarinho da Castanheira era formado pelos lugares de Carvalho de Egas, Castedo, Lousa, Mourão, Seixo de Manhoses, Valtorno, e pelas Quintas de Alagoa, Gavião, Pinhal (do Douro) e São Painho.
Ora, os lugares e quintas pertencentes ao concelho de Ansiães passaram em 1734 para o de Carrazeda de Ansiães, mas Vilarinho continuou a ser concelho.
É já no século XIX com o liberalismo e as suas reformas administrativas que o concelho de Vilarinho da Castanheira é extinto definitivamente em 31 de Dezembro de 1853, passando esta Vila juntamente com Pinhal do Douro para o concelho de Carrazeda. Lousa e Castedo foram integradas no de Torre de Moncorvo, e os restantes no de Vila Flor.
Também o concelho de Freixiel foi extinto em 1836 e as freguesias de Pereiros, Codeçais e Mogo de Malta passaram a integrar o concelho de Carrazeda.
Formava-se assim o actual concelho de Carrazeda de Ansiães, que, em número de freguesias variou ao longo dos anos, pois como se sabe, até 1936 Samorinha foi freguesia, assim como Pinhal do Douro.
Em termos religiosos Ansiães tinha três Comendas: a de S. Salvador, a de S. João e a de Linhares.
A Comenda de S. Salvador de Ansiães era da apresentação paroquial do reitor de Ansiães e englobava os seguintes lugares: Alganhafres, Ansiães, Beira Grande, Belver, Besteiros, Coleja, Fontelonga, Lavandeira, Mogo de Ansiães, Pena Fria, Samorinha, Seixo de Ansiães, Selores, Seixo das Carvas e Vale de Pedro.
A Comenda de S. João Baptista era apresentada pelo respectivo reitor e incluía os seguintes lugares: Amêdo, Areias, Brunheda, Carrazeda, Felgueira, Fontana, Luzelos, Marzagão, Paradela, Pinhal do Norte, Pombal, Sentrilha e Zêdes.
A Comenda de Linhares era também da Ordem de Cristo, do padroado real e tinha os seguintes lugares: Arnal, Campelos, Carrapatosa, Castanheiro, Fiolhal, Foz Tua, Linhares, Misquel, Parambos, Ribalonga e Tralhariz.
Pereiros, Codeçais e Mogo de Malta eram ramos da Comenda da Ordem de Malta. Vilarinho da Castanheira e Pinhal do Douro, de outro concelho na altura, eram do Cabido da Sé de Braga.
Com a redução de abadias em reitorias, veio também a reduzir-se e a limitar-se a de S. Salvador que se estendeu somente até Lavandeira e seu arrabalde, desanexando-se os outros lugares. Em 1556 funda-se a Igreja Paroquial de Santo António de Beira Grande. Em 1569 é a vez da de Selores a Igreja de S. Gregório e com a anexa Alganhafres. No reinado de D. João III funda-se a de Belver com Mogo de Ansiães, a Nossa Senhora das Neves. E a de Santa Cruz da Samorinha que até então era sujeita a Fontelonga.
Também a Comenda e a Paróquia de S. João se desanexou no Reinado de D. Sebastião: Luzelos e Quinta de Fontoura passou a ser a Igreja de Santo Amaro de Luzelos; a de Santa Águeda para Carrazeda; a de S. Gonçalo para Zedes desanexando-se da de S. Tiago de Amedo; a de Nossa Senhora das Neves de Pinhal do Norte também se desanexa de S. Lourenço de Pombal e ficando com as anexas Brunheda, Sentrilha e Felgueira. Não são referidas a de Castanheiro e Ribalonga, pelo que devem ser anteriores.
Em 11 de Setembro de 1833 a Junta do Exame do Estado Actual e Melhoramento Temporal das Ordens Religiosas propôs que as dioceses fossem reduzidas, em harmonia com as divisões administrativas.
Estava-se no período Liberal em que as reformas se sucediam com frequência. No entanto, aquela proposta não se concretizou devido a factores diversos, dos quais se destaca a interrupção das relações do governo português com a Santa Sé que só se restabelecem em 1841.
Depois disso os governos continuaram a pensar nessa redução das dioceses religiosas, mas a intenção de conservar a de Bragança manteve-se sempre.
Através das Letras Apostólicas do Santíssimo Padre Leão XIII - Gravíssimum Christi Ecclesiam Regendi et Gubernandi Manus, de 30 de Setembro de 1881, que foram executadas a 4 de Setembro de 1882 pelo Cardeal Bispo do Porto, D. Américo, as freguesias do concelho de Carrazeda de Ansiães passavam definitivamente para o Bispado de Bragança em termos religiosos.
Nas questões judiciais, nos séculos XVI e XVII os concelhos de Ansiães, Vilarinho da Castanheira e Freixiel aos quais pertenciam as freguesias que hoje constituem o actual concelho de Carrazeda, eram todos da Comarca de Moncorvo.
Em 1706 eram da Comarca e Provedoria da Vila de Torre de Moncorvo. Em 1734 pertenciam à Correição de Torre de Moncorvo e em 1762 o concelho de Carrazeda de Ansiães fazia parte ainda daquela Correição. Em 1864 era ainda da Comarca de Torre de Moncorvo.
Em 1940 Carrazeda de Ansiães era Julgado Municipal. As freguesias de Beira Grande, Carrazeda de Ansiães, Castanheira, Lavandeira, Linhares, Parambos, Seixo de Ansiães e Vilarinho da Castanheira pertenciam à Comarca de Moncorvo. As restantes eram da Comarca de Vila Flor.
A LENDA DAS SETE SENHORAS
[O narrador/informante]
O informante, Sr. Macieira é, com a vasta experiência dos seus 71 anos, um notável contador de estórias, como outros naturais da sua terra, a aldeia de Misquel, e diz tê-la lido num livro que encontrou no monte quando era pastor. Antes de pela primeira vez ter saído da terra para cumprir o serviço militar, terá escondido esse livro em buraco aberto numa das paredes da casa dos pais, que na sua ausência fora reparada, não tendo por isso conseguido dar depois com esse esconderijo. Hoje, com a idade de 71 anos, reformado e residente na sua terra natal, o sr. Macieira, “endireita”(compõem ossos partidos e deslocados das pessoas), foi vagoneiro nas minas de Volfrâmio na Pranheira (Amedo) , por ocasião da II Guerra Mundial, emigrou depois para Angola onde viveu e trabalhou no porto de Luanda de 1954 a 1974, “retornado” e depois funcionário administrativo na Câmara de Carrazeda de Ansiães e durante 20 anos massagista no Clube de Futebol de Carrazeda de Ansiães.
[Transcrição da Narrativa Oral]
A história das sete senhoras… li-a num livro que encontrei debaixo de uma pedra quando andava no monte a guardar o gado, numa altura em que para me distrair andava à procura de lacraus… a capa tinha as letras em chumbo… as letras eram repetidas… dois pp, dois ll… fixei e vi que era uma história. Foi no morro onde esteve a Senhora da Assunção, em Parambos. Onde eles acampavam… os cavaleiros e outros homens que acompanhavam as Senhoras ainda hoje lá estão ciganos… por exemplo os ciganos da Pranheira por onde passou a Srª da Graça que pertence à Samorinha ou os de Penude em Lamego… distrito de Viseu… onde está a Senhora dos Remédios… até os farrapeiros do Moinho do Vento no fundo da vila vieram de lá… ah! não sabia ?... pois era… a Srª dos Remédios... tinha outros nomes… ervas do chá são remédios… no morro dela… cortou umas ervas para curar os da caravana que já vinham doentes…foi a primeira a dizer “eu já fico aqui…”
a caravana das sete senhoras saiu dos lados lá de Castro Daire, Viseu, passou por Lamego e outras terras até chegar a Mirandela….
seguiram caminho, passaram o Marão, desceram, desceram e tinham de fazer a travessia do Douro… foram então até ao lugar mais estreito onde hoje é a Ponte Nova… Como passar?…” lindo serviço”… então os homens especializados - pedreiros, carpinteiros e outros - que vinham na caravana das senhoras irmãs e primas… sim elas também levavam primas… puseram uns vimeiros – um pau direito mais uns vimes - ao longo do rio e dois deles, um puxava para um lado e outro para o outra… mas o vimeiro inclinava-se e a senhora que ia na frente gritava “socorro socorro” enquanto os que faziam de barqueiros diziam um para o outro “faz peso na régua”e lá acabaram por chegar… ficaram acampados onde passa a Ponte Nova e onde estão os ciganos que são descendentes dos árabes… a Senhora do Socorro que estava abalada da viagem disse “eu já fico aqui”e ainda hoje lá está no Peso da Régua que ficou a chamar-se assim por causa disso…
… as outras seguiram à margem do Douro…olharam em frente para os lados de Carrazeda e viram uns morros muito altos e desanimaram..."onde paramos?" perguntavam umas às outras … olharam para o lado e disseram …"para ali já"… daí vem o nome de Alijó… Alijó já é do distrito de Vila Real… e perto, num morro, a Senhora dos Prazeres… que era prima familiar das sete senhoras disse …"fico já aqui, estou cansada" e lá ficou para toda a vida…
…as outras seguiram pela linha de água…queriam vir para os nossos morros altos, para as serras mais altas… mas tinham que fazer a passagem do rio Tua… desceram então para o Amieiro, ali onde depois fizeram a ponte que veio hoje abaixo… entre o Amieiro e o Pombal há um lugar mais estreito… foi assim que encontraram S. Lourenço [em versão anterior era o S. Bartolomeu e o barco era de cortiça e andava à pesca no ribeiro do Amedo e Paradela que passa no Frarigo] que andava a pescar com um cesto de vimes… pois S. Lourenço é pescador… então não vê que no andor dele leva sempre o barco…?! … mas na altura dele o barco era um cortiço e ele ia remando com a mão…passaram duas de cada vez dando ao pé… [em versão anterior passou uma de cada vez]… continuaram viagem… queriam ir para os morros mais altos porque nos baixos era húmido… nos sítios altos eram secos e as culturas não secam nos morros altos… demoraram um tempo imenso… foram ao longo do ribeiro… viraram mais à direita onde chegaram onde hoje é Paradela… e uma das senhoras foi ali fazer xixi e as outras disseram “esperemos aqui par ela”… daí o nome de Paradela … umas continuaram pela Lama Grande entre Paradela e Amedo e quando chegaram lá em baixo disseram “isto aqui mete medo”… daí o nome Amedo… mas como iam muito cansadas… aguentaram muitos sacrifícios … foi por isso que foram santas… fizeram umas barracas com paus e giestas ou árvores ou escolhiam uma gruta que fazia uma espécie de cabana… onde estavam os mantos?... não havia… eram do tempo de Adão e Eva… ficaram então lá sete dias e sete noites… daí o nome ainda hoje de Sete Amedos… a origem?... sabe-se lá andou por aqui tanta gente….!...então uma das senhoras viu um morro alto ali perto e disse eu vou para ali e já lá fico… foi a Senhora da Graça… as outras viraram à direita… não havia caminhos… então por onde passava a caravana delas que agora já vinha muito mais pequena… as ervas não nasciam e assim por aí se faziam os caminhos…a Senhora da Graça estava sempre a rir, sempre com chalaças..não foi capaz de parar num sítio só… andava de um Amedo para o outro até que ao sétimo dia subiu e foi para o morro da Samorinha… mas ela pertencia ao Amedo…
…viraram entre Paradela [versão anterior era Parambos] e Castanheiro e acamparam aí, no lugar onde estão hoje as Alminhas ou Cruzeiro que ficou a assinalar onde morreu um homem da caravana que ia com elas… as Alminhas estão ao pé do lagar de azeite, onde hoje ainda lá estão…o Castanheiro é frio… e a Santa Marinha que era prima das senhoras queria ir mais para baixo, para os lados da Ribalonga, onde a temperatura é maior…acampou para os lados da Lavandeira, na “lameira de ferro” … tem lá uma fonte de águas férreas mas as formigas apoderaram-se dela e ela só gritava “vou-me deitar ao Douro…” deitou a correr e as formigas despegaram-se dela na Ribalonga… e é por isso que as formigas ainda hoje lá estão… Ribalonga é a terra das formigas porque lá ficaram e os terrenos ainda hoje se chamam de Santa Marinha são dos de Parambos…
As outras que ficaram para trás vamos ver por onde seguiram…?
…iam cansadas porque era a subir e perguntaram umas para as outras “onde paramos?” então disseram “paramos já aqui”… donde, Parambos… o pai de S. Bartolomeu era barbeiro… estava a sair da igreja e ao ver a caravana das senhoras disse “já tenho namorada para o meu filho”…. S. Bartolomeu foi morto e esfolado vivo e mesmo sem pele aguentou e fugiu … para ao pé de uma fraga que ainda hoje tem lá a forma de uma cadeirinha… uma espécie de francela de fazer o queijo… no dia da Assunção do Senhor faziam lá festa… em Maio… em dia conforme a Páscoa… a fraga quando o dia estava limpo pingava e curava os olhos… se chovia não pingava… as pessoas iam lá lavar as vistas…
…a Senhora da Assunção fugiu de noite para Vilas Boas, por causa do pai de S. Bartolomeu… a Senhora da Assunção e a Senhora da Paixão seguiam juntas e deixavam os caminhos sem erva… a erva não nascia mais por onde elas passavam… foram de Parambos até à Venda Nova… a Senhora da Paixão virou para Arnal e passou pela Fonte Bieita… a burreca onde ela ia parou e ali bebeu… então a Senhora disse “ficaste satisfeita”… daí “Fonte Bieita”… a água ficou benzida pela Senhora da Paixão… a Fonte Bieita era onde iam lavar os engegados … os que lá vão têm que seguir para a frente e lavar-se e beber lá… tem que ser no local... é a fonte dos engegados… dos que não estavam nutridos, que passavam fome… se a criança que era lá lavada chorava na água saía curada, se não chorava estava morta …
… a Senhora da Paixão continuou caminho e ao passar pelas lameiras que tem sempre muita água, a burrita queria comer “arre burra que esta água faz-te mal”... lá está Arnal e a Senhora da Paixão…
… a Senhora da Assunção e a Senhora do Amparo que ficaram para trás…estiveram ali uma noite ou duas ao pé da irmã…. “Eu vou para aquele cabeço além” disse a Senhora da Assunção …desceu a Cabreira, passou por Freixiel e seguiu para o Vieiro … passou no caminho num sítio onde não havia água mas apareceu depressa uma bica na estrada que vem de Vila Flor para o Vieiro que está sempre a correr e seguiu então para o que é hoje Vilas Boas…há por ali muitos cruzeiros altos… são dos homens que iam na caravana das senhoras … e quantos dias eles não estiveram ali acampados…!... ao chegar a Vilas Boas descansaram puseram as burras a pastar…”prado é livre, não tem dono”… ficou o terreiro já na povoação das Vilas Boas … hoje ainda lá está…na escadaria que vai da povoação para o cabeço da Senhora da Assunção, esta bebeu na fonte que aí há e disse “ai que águas tão boas”… ficou no morro e lá está…
… a Senhora do Amparo viu os morros em frente ao passar o rio do Cachão, viu as serras do lado esquerdo e disse …"temos de pássaro rio para o lado de lá no lado mais estreito ao pé do Vilarinho das Azenhas"… até que chegou a Mirandela ao lugar de Golfeiras onde hoje está o hospital… ali morreu o pessoal todo que ia com ela… não podia passar para o outro lado do rio que era longe… e disse “não faz mal daqui já miro ela”… a irmã … e ficou ali… e lá ficou também a nossa Mirandela….
[ respostas a uma pergunta minha, já que ao longo da narrativa referiu as propriedades milagrosas e curativas das águas, sobre as ervas medicinais mais usadas em terras do concelho de C. de Ansiães e suas aplicações, para além das referidas pelo pároco redactor das Memórias Paroquiais para a aldeia de Marzagão e que lhe citei…“… tem… e árvores medecinais, como ruda nemeada violeta, funcho ou fiolho, tamaris, tamargueira e outros a que nom sei os nomes…” ]... a ruda é para defumar as pessoas, para cortar o mau olhado…o fiolho penso que é uma erva boa para o fígado… mas depois há mais… o freixo fêmea é boa para tirar as gorduras do corpo, para o clorestrol e para as tensões… como se distingue se o freixo é fêmea ou macho?... ah! a freixa bota flores… a salgueira fêmea dá flores… o macho tem a folha mais larga…semearam-na ao longo de Luzelos…a oliveira é boa para as tensões mas tem que se saber cortar… a carqueja, as azedas e o alecrim são para os temperos da comida… as águas de Coleja da fonte santa são boas para o reumatismo… ao fim de 2 dias lá já vinham curados…

[A narrativa ainda prosseguiu mas por outros veios da tradição e história oral de C.Ansiães]
(Maria Otília Pereira Lage. Guimarães, Abril 2003)

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