domingo, 9 de setembro de 2012
Milagres ou alucinações
O tema mais polémico que se aflorou no último congresso de Medicina Popular de Vilar de Perdizes foi suscitado pela Biografia do Padre Fontes, escrita pelo paroquiano, João Sanches e ali apresentado pelo autor deste apontamento. Essa biografia aborda a actividade multifacetada do mais conhecido clérigo de Barroso acerca do qual se criou o provérbio: «O Padre reza; o Mercedes, benze». Este aforismo traduz o mais avançado modelo que fez parte da vida irrequieta do Padre que aceita tudo com a maior incredulidade religiosa. «Não sei o que as pessoas pensam de mim ou dos meus poderes. Alguns vêm ver-me e ficam surpreendidos por eu não fazer absolutamente nada e apenas lhes explicar que as acções do Diabo ou dos espíritos malignos estão apenas na cabeça deles. Eu nunca utilizei o método clássico do exorcismo. Não acredito em bruxas e também não tenho explicações muito firmes para acreditar em aparições, nomeadamente de Fátima».
Nesse capítulo o biógrafo fala de várias aparições marianas, desde o ano de 1833, em Calvão, freguesia de Chaves. Fala de Lurdes (França), onde em 11 de Fevereiro de 1858, uma jovem de nome Bernardette vê a Senhora que ficou conhecida pela Senhora de Lurdes. Essa jovem que nascera em 7/1/1844, morreu em 16/4/1879 e foi declarada Santa pelo Papa Pio XI. Em 1933, viu, por diversas vezes, Aquela que em 25/3/ desse mesmo ano lhe disse: «Eu sou a Imaculada Conceição». A última aparição foi em 16/7/1858, no local onde o abade Peyramale mandou construir a capela que é hoje a Basílica de Lurdes. Em 13 de Maio de 1917 aparece na Cova da Iria aos três pastorinhos Aquela que deu origem ao actual Santuário de Fátima.
Temos assim, três lugares distintos, onde o culto Mariano se impôs por vontade popular. Mas João Sanches ainda cita nesta biografia a Senhora da Abadia, no concelho de Amares, onde também terá aparecido. Conforme afirmámos, dia 1 do corrente, em Vilar de Perdizes, em 13 de Maio de 1757, a mesma Senhora apareceu na freguesia de Folhada, do então concelho de Marco de Canavezes. Igualmente a três pastoras, nas mesmas circunstâncias, em que aparecera em Fátima.
Este aparecimento foi relatado pelo Padre desse tempo José Franco Bravo que fez o resumo no âmbito das 60 questões colocadas no formulário que o Marquês de Pombal inseriu e fez chegar a todos os párocos do País. Só com a publicação dessas memórias Paroquiais de 1758, pela persistência do Prof. Doutor José Viriato Capela (UM) e Henrique Matos, se conclui que afinal estas e, provavelmente outras aparições similares se terão dado, ainda que não registadas, um pouco por todo o lado, ainda que verdadeiramente só em dois casos (Lurdes e Fátima), essas manifestações tenham vingado. São imparáveis as romarias marianas porque a voz do povo é a voz de Deus.
Como o espaço desta crónica ainda não dá para esmiuçar mais pormenores, insistimos em remeter o leitor para o Vol. V dessa monumental obra de que já se editaram sete volumes. Procurar em Freguesia de Folhada, distrito do Porto». Encontra lá esse relato redigido pelo pároco do tempo: José Franco Bravo.
Por feliz coincidência na edição do Expresso dessa mesma data (1-9-2012), p. 30 do 1º Caderno, publicou-se um texto assinado por Rossend Domènech, correspondente do Vaticano em Roma : internacional@expresso.imprensa.pt , sob a epígrafe: «Aparição ou delírio de crente», ilustrado com a foto do papa Bento XVI, em cuja legenda se afirma que «não tem mãos a medir com tantas aparições da Virgem». Nessa fonte se escreve «ninguém sabe quantas aparições se deram desde que o Cristianismo surgiu. O dominicano Manes Chizzardi afirma que em dois mil anos, houve cerca de mil aparições e que metade se deu no século XX. René Lamertin - lê-se nesse artigo – catalogou à volta de 2450 aparições em 20 séculos, debatendo-se a dúvida se estas aparições ou hierofanias como lhes chamou Mircea Eliade (1907- 1986), são alucinações ou instrumentos para manipular o povo. Freud atribuiu-as a distúrbios mentais e a problemas da sexualidade, lê-se nesta fonte.
Na edição de A Voz de Trás-os-Montes, de 6 do corrente, o Bispo Emérito de Vila Real, D. Joaquim Gonçalves, invocando S. Bernardo, escreve que «de Maria nunca se dirá demais». Antevendo o Cinquentenário do Concílio e a título de preparação, começa por afirmar que neste início de Setembro se fazem por toda a parte romarias em honra de Nossa Senhora, invocada sob os mais diversos títulos: Senhora da Graça, Senhora da Pena, Senhora de Almodena, Senhora da Saúde, Senhora dos Remédios, Senhora da Ajuda, Senhora da Penha, Senhora da Aparecida, Senhora do Alívio. Na base de todas estas festas está o nascimento de Maria celebrado em 8 de Setembro». Como fica claro Maria está no meio de nós. Nem todos a ouvem ou a sentem. Mas ela está presente.
Barroso da Fonte
in:jornal.netbila.net
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