sexta-feira, 19 de outubro de 2012

A DEPRESSÃO DA VILARIÇA


A  depressão  da  Vilariça  corresponde  a uma  fossa tectónica, delimitado por falhas com direcção NNE-SSW. 
A  estas  falhas  associa-se  um  importante movimento de componente horizontal, com deslocamento esquerdo;  esta movimentação  terá  formado  bacias  de desligamento fini-cenozóicas, relacionadas com a zona de falha de Bragança-Vilariça-Manteigas (Cabral el ai., 1983-85;  Cabral,  1985,  1986,  1987,  1989,  1995).  Pereira & Azevêdo  (1993;  1995)  e  Pereira (1997)  fizeram  uma  análise geomorfológíca da  depressão da Vilariça,  que se resume nos parágrafos seguintes. 
O aplanamento no bloco oriental da Vilariça posiciona-se pelos 540 m de altitude, como se exemplifica no maciço de Junqueira, a norte de Torre de Moncorvo.
A escarpa oriental impõe um desnível de 300 a 400 m entre o vale e a superficie aplanada do maciço granítico situado a leste do acidente. A sul  o desnível ultrapassa 600 m, se confrontada a superficie do vale com a superfície definída no maciço granítico de Lousa (a cerca dos 800 m de cota),embora,  nesse  caso, o  declive  seja  mais  suave.  
A morfologia da região que envolve o vale da Vilariça resulta, essencialmente,  de  uma  tectónica  de blocos,  grande condicionante  do  vale  actual.  A  linha  de relevos  dos quartzitos  ordovícicos  é também cortada  pela  falha  da Vilariça  e  verifica-se  que,  num  contexto mais  amplo,  a superfície inicial definida pelos seus cumes aplanados se mantém  quer  a  norte  de  Vila  Flor,  quer  na serra  do Reboredo (imediações de Torre de Moncorvo). 
A assimetria do  vale deve-se quer à diferente amplitude  de movimento  das  diversas falhas,  quer  à natureza Iitológica  do  substrato;  as  fácies  de  filitos  e metagrauvaqucs do Câmbrico (Grupo do Douro ou CXG), menos resistentes à erosão, encontram-se profundamente dissecadas,  proporcionando  vertentes mais  suaves  e o alargamento  do  vale  nestes  sectores,  em  comparação com  os  afloramentos  quartzíticos  do  Ordovícico  e Silúrico.  Sobressaem  igualmente  os  maciços  graníticos, com  mode lado  arrasado,  demonstrando  nos  dois flancos  do  vale  o  rejeito  de  componentes  verticais  e horizontais. 
O  estrangulamento  do  vale  é  evidente  na  passagem dos alinhamentos quartzíticos. Nos sectores em que o vale se  alarga,  os  depósitos  sedimentares  tomam  maior expressão, dispostos sobre o substrato  com  predomínio de  filitos,  a  leste  de  Sampaio e  de Horta  da Vilariça. 
A norte (Sampaio) é mais  nítida a relação  dos sedimentos com  as  cristas  quartzíticas  das  vertentes;  aí  observa-se também  o  pronunciado  entalhe  das  linhas  de  água, dispostas  transversalmente  ao  vale  principal.  Nas proximidades de Horta da Vilariça, o modelado é diferente do  observado  a  norte.  No  bloco  ocidental,  o maciço granítico situado mais a sul, pouco dissecado, mantém-se em posição dominante próximo dos 800 m,  constituindo um  vestígio da superfície da Meseta.  
O  contacto  com o Grupo  do  Douro  é  saliente  a  meia  encosta,  com abaixamento claro e abrupto da superficie devido à erosão mais  profunda  das  fácies  metamórficas  e  provável existência de falha. 
No seu limite sul, a depressão da Vilariça é ocupada pelo rio Douro, após acentuada inflexão do seu curso Alguns  vestígios  de  terraços  conglomeráticos testemunham o processo de encaixe deste rio, e situam-se a cerca de +55 m no Pocinho e +35 m (acima do nível de estiagem) entre o Pocinho e a foz do Sabor, ao último dos quais  se  atribui  uma  idade  Plistocénico  médio,  por correlação com terraços e jazigos arqueológicos da bacia do  Douro  em  território  espanhol  (Molina &  PérezGonzález,  1989).  Em  relação  com  estudos  recentes enquadrados no projecto do Parque Arqueológico do Vale do  Côa,  divulgou-se  a  presença  de  artefactos  líticos do tipo Acheulense integradas no terraço +35 m da margem  direita do Douro (no Pocinho), para os quais foi sugerida uma  idade  de  Plistocénico  médio  (informação  oral de Thierry Aubry  &  Jorge  Sampaio,  1997):  Níveis  de inundação  mais recentes ocupam algumas superfícies, a mais ampla das quais se situa na margem da pronunciada curvatura do  Pocinho,  entre  20  a  30 m  acima  do  nível actual do rio Douro (Pereira,  1997, 1998).

P.  Proença Cunha II &  D. Insua Pereira

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