A crise duplicou o número de idosos vítimas de violência no distrito de Bragança, com a maioria dos casos associados a famílias que estão a retirar os mais velhos das instituições para usufruírem das reformas.
Esta realidade foi detectada pelas autoridades "numa parte muita significativa" dos 29 casos de maus-tratos denunciados até Setembro de 2012, o dobro dos sinalizados em todo o ano de 2011, nesta região, segundo dados divulgados esta terça-feira, em Bragança, num seminário sobre a Violência na Terceira Idade.
"Muitos idosos, que estavam a frequentar respostas sociais, seja apoio domiciliário, seja centro de dia ou mesmo lar residencial, estão a ser retirados das instituições e levados para casa para usufruírem (as famílias) desses mesmos rendimentos", constatou Teresa Fernandes, do Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência Doméstica do distrito de Bragança.
Os que trabalham neste organismo têm observado nos últimos meses que "a sociedade mudou com a crise, as relações humanas são desprovidas de afectividades, sentimentos, companheirismo e solidariedade", o que leva a que haja "idosos a viverem situações muito complicadas".
À solidão e isolamento, típicos de uma região despovoada e envelhecida, junta-se agora outro tipo de violência, gerada pela crise que, segundo aquela responsável, "deixa de ser tão física e passa a ser mais psicológica e financeira, sobretudo financeira".
Segundo adiantou Teresa Fernandes, os 29 casos que o núcleo distrital está a acompanhar estão todos relacionados com violência doméstica, não havendo registo de qualquer situação ao nível das instituições.
A maioria dos idosos vítimas de maus-tratos são viúvos, que vivem sozinhos ou na presença de algum prestador de cuidados familiares, "mas que não é um prestador de cuidados muito assíduo e afectivo".
Os 29 casos sinalizados entre Janeiro e Setembro de 2012 chegaram ao núcleo distrital através das forças de segurança e denúncias anónimas ou de familiares e vizinhos dos idosos.
De acordo com a responsável por este organismo, todos estes casos encontram-se em fase de inquérito nos tribunais.
Todos os 15 casos registados em 2011 foram concluídos, a maioria com a aplicação aos agressores de penas de prisão suspensas ou pagamento de coimas.
Apenas "uma minoria" das situações que chegaram à Justiça foram arquivadas, segundo ainda Teresa Fernandes.
in: Correio da Manhã
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