quarta-feira, 24 de outubro de 2012

No Leste transmontano a história é acarinhada e preservada

Castelos medievais, igrejas, uma sé, o rio Douro, um miradouro, 16 pinturas quinhentistas e uma vila amuralhada. Jornalistas portugueses e de outros países travaram conhecimento directo com esse património numa viagem recente de 3 dias pelo Nordeste transmontano. O P24 participou nesta “visita educacional” organizada pela Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP) e a Direcção Regional de Cultura do Norte (DRC-N).
As 2 entidades juntaram-se, assim, para “promover um conhecimento aprofundado da oferta turística da região, com especial destaque para o Património Monumental”, sem esquecer a mais-valia natural, paisagística e até gastronómica que a região possui, desde Bragança, a Norte, até Carrazeda de Ansiães, a Sul e já em pleno Douro vinhateiro.
De acordo com a responsável máxima da DRC-N, Paula Silva, esta entidade – que abrange diversos municípios a Sul do Douro – tem vindo a fazer “intervenções de conservação, valorização e requalificação do património desta região”, ao abrigo de vários quadros comunitários de apoio, estando previstas novas intervenções a prazo. Entre os próximos alvos contam-se a Igreja Matriz de Vila Nova de Foz Côa e a Igreja de Almendra, no mesmo concelho, já no distrito da Guarda, exemplifica Paula Silva.
Na Régua, refere a mesma responsável, estão “a terminar” escavações arqueológicas na Fonte do Milho, uma estrutura da época romana. Paulo Silva realça que os vestígios encontrados ali provam que na altura já se produzia azeite e vinho no Douro, ou seja, muitos séculos antes do Marquês de Pombal e da demarcação daquela região, no século XVIII.
“Produto turístico estruturante”
Com estas intervenções – umas concluídas, outras em curso e algumas previstas –, a DRC-N afirma estar a criar “um conjunto de sítios monumentais que as entidades ligadas ao turismo, públicas ou privadas, possam usar como um produto turístico estruturante para o desenvolvimento da região”. Este ano, aquela direcção regional destinou 1,5 milhões de euros para a conservação, valorização e restauro de património”.
Um dos sítios monumentais visitados foi o Castelo de Algoso, no concelho de Vimioso. Não é um castelo grande. Impressiona, isso sim, pela sua localização, na ponta de “um promontório rochoso rodeado de vales”. Dali pode observar-se, numa dia límpido, o Castelo de Penas Róias e deste, por sua vez, vislumbra-se, alguns quilómetros para Sul, outro castelo. Pertencem ambos ao concelho de Mogadouro. Todos podem ser visitados. Todos fizeram parte da estrutura defensiva regional criada nos séculos XI e XII.
O Castelo de Algoso foi a etapa final do primeiro dia da visita em que o P24 participou e que começou pelo emblemático Domus Municipalis e pelo Museu Ibérico da Máscara, este um espaço que é fruto de uma parceria entre o município local e o congénere espanhol de Zamora. Pelo meio, o grupo visitou Outeiro, ainda em Bragança, uma aldeia onde se destaca uma igreja do século XVII, com elementos decorativos maneiristas, manuelinos e renascentistas.
Miranda, o Douro e o IC5
Para o dia seguinte, estava reservado um passeio Douro acima, a partir de Miranda do Douro. Foram 2 horas pelas águas tranquilas do rio, entre margens escarpadas que em alguns sítios são quase verticais. Algumas erguem-se até aos 250 metros. Vivem ali abutres, águas e cegonhas negras. Estes passeios são uma das atracções de Miranda, uma cidade visitada anualmente por 120 mil turistas. Antes, a esmagadora maioria deles eram espanhóis. Este ano, porém, os portugueses dominaram, aparentemente devido à abertura recente do IC5. A viagem até ao Porto anda agora pelos 250 quilómetros; há alguns anos, pelas velhas e sinuosas estradas nacionais, eram 310 quilómetros!
Depois de o autarca local, Artur Nunes, e o seu antecessor e actual presidente da TPNP, Júlio Meirinhos, terem recebido os jornalistas envergando a capa de honras – um traje tradicional feito de burel que só pode ser usado por homens; uma capa pode pesar cerca de 16 quilos e custar 500 euros –, o almoço foi em Mogadouro.
No Restaurante A Lareira, do chefe Eliseu Amado, comeu-se posta mirandesa, tal como no jantar da véspera, em Miranda, no Mirandês. A gastronomia nordestina continua presa a esta iguaria, tirando partido da elevada qualidade da carne bovina local. Consulte-se a ementa de um restaurante daquela região e, claro, a posta mirandesa tem presença obrigatória, ao lado de outras abordagens carnívoras tradicionais.
Penedo Durão: obrigatório visitar
A tarde ficou para uma visita ao Penedo Durão, em Freixo de Espada à Cinta. Trata-se de um dos mais apreciados miradouros do vale do rio Douro. Seguiu-se uma passagem pela sede daquele concelho e pela igreja matriz, do século XVI. Trata-se de uma construção de 3 naves, que faz lembrar o Mosteiro dos Jerónimos, segundo notou o guia, o arqueólogo Nélson Rebanda. Conhecedor profundo do património regional, Rebanda tem o seu nome intimamente ligado à descoberta das gravuras rupestres de Vila Nova de Foz Côa. Na igreja de Freixo encontram-se patentes 16 pinturas quinhentistas restauradas pela DRC-N.
Depois de uma noite passada em Barca d’ Alva, no Hotel Bago d’ Ouro, a comitiva viajou para Moncorvo, ao encontro da sua igreja-património e do posto de turismo, que outrora foi a casa roda desta vila transmontana. Seguiu-se o castelo e a vila amuralhada de Ansiães, no município de Carrazeda de Ansiães. No que resta desse antigo povoado medieval sobressai uma pequena igreja românica, que a DRC-N restaurou. Um almoço de peixe frito no restaurante Calça Curta, em Foz Tua, no mesmo concelho, encerrou esta incursão através de alguns dos melhores exemplares do património monumental de 7 concelhos do Nordeste transmontano.

Por António M. Moura
in:porto24.pt

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