quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Cada vez mais transmontanos chegam aos 100 anos

Festa dos 100 anos de Elisa Rei
Elisa dos Anjos Rei, natural de Souto da Velha, no concelho de Torre de Moncorvo, completou um século de vida no passado dia 18. A família preparou-lhe uma festa, convidou amigos e a população da aldeia para o aniversário. A festa foi grande e arrojada. Cantaram-lhe os parabéns no final da missa de Domingo, voltaram a cantar-lhos mais tarde, em casa, já com o bolo e as respectivas velas acesas. O momento foi de celebração pois chegar aos 100 anos não é para todos.
Não se sabe ainda qual o segredo da longevidade de alguns, mas no caso de Elisa Rei não foi certamente pelas facilidades que a vida lhe trouxe.
Com apenas quatro anos emigrou com a família para os Estados Unidos da América, numa longa viagem de barco. Os primórdios da crise económica mundial dos anos 20 acabaram por trazer a família de volta a Portugal e à aldeia natal em 1920, quando contava oito anos. Após a morte da mãe criou 15 irmãos, cinco dos quais acabaram por morrer. Depois criou os dois filhos e mais tarde ajudou na educação das três netas. “Sempre trabalhou muito. Andava atrás das cabras e das ovelhas para ajudar o pai a criar os irmãos”, explicou a filha Adelaide Barreira.
Agora vive no lar de idosos de Carviçais, onde gosta de estar. Conserva a simpatia, o sorriso e ficou emocionada com a festa e com o reencontro com muitos dos amigos que há muito não via. É muito crente e agradece a Deus a possibilidade de viver tantos anos. A saúde tem falhado, mas a idosa tem resistido a tudo. Cortaram-lhe uma perna por causa de problemas relacionados com a diabetes, move-se agora em cadeira de rodas, há uns anos sofreu um AVC que lhe reduziu a capacidade de falar, mas não lhe afetou a memória, nem a lucidez. É um exemplo de persistência. “Como tem corrido tudo bem, esperávamos que ela chegasse longe e durasse muitos anos”, contou a filha.
Elisa Rei foi a segunda habitante de Souto da Velha a chegar aos 100, a outra foi a sogra que viveu até aos 101 anos. Viver até aos 100, há uma ou duas décadas era coisa rara. Agora é cada vez mais frequente. Só na região no espaço de um mês são quatro os casos. A Elisa Rei, junta-se Alberto Correia, residente em Justes, no concelho de Vila Real, celebrou o aniversário dos 100 anos no dia 17 de Novembro. Antes disso, no dia 8, Carmelina Augusta Delgado, residente em Vimioso, completou 112 anos, sendo apontada como a pessoa mais velha a residir no país. A idosa ainda está lúcida e mantém a mobilidade, “umas vezes com andarilho outras sem ele”, conta Fátima Roxo, a neta com quem vive em Vimioso. Nascida em 1900, Carmelina conseguiu assistir a todo o desenrolar do século XX e já leva uns anos do século XXI.
Quem a conhece garante que mantém uma enorme vontade de viver, aliás tão grande que chega a ficar triste por ter tanta idade com medo que a vida se acabe. “Nunca a ouvi dizer porque Deus não me leva como a outros idosos. Ela gosta de viver”, conta Fátima Roxo.
A 4 de Outubro, foi Isaura da Conceição Torrão, que apagou 100 velas. A junta de freguesia de Cicouro, a sua terra natal, fez-lhe uma homenagem, assim como o autarca de Miranda do Douro, Artur Nunes. A idosa, solteira, foi responsável pela residência da Fundação Calouste Gulbenkian de Bragança durante muitos anos. Agora vive numa família de acolhimento e perdeu a mobilidade este ano. “Ela está bem de saúde, não tem doenças. Está muito lúcida. Aliás, sempre teve saúde e até há 6 anos viveu sozinha”, contou Zulmira Antão, familiar. Mesmo que os casos sejam cada vez mais, os 100 ainda são motivo para as populações festejarem, ou não fosse esta uma barreira difícil ou quase impossível de alcançar noutros tempos.
Segundo as estatísticas estima-se que em 2012 vivam em Portugal 1791 idosos com 100 anos ou mais. Este número triplicou na última década. De resto, a esperança média de vida no país deu um salto qualitativo nos últimos anos. Em 1960 era de apenas 61 anos para os homens e 67 anos para as mulheres, enquanto que em 2005 atingia 81 anos para as mulheres e 75 para os homens.
Segundo a PORDATA, em 1971 eram 836.058 os habitantes com mais de 65 anos. Em 2011 esse número subiu para os 2.031.822. Em 1960 o índice de envelhecimento era de 27,3; em 2001 subiu para 102,2 e em 2011 para 129,6. O índice de longevidade aumentou de 33,6 para 41,4 e em 2011 para 48,1.
O acréscimo da esperança média de vida resulta, entre outras razões, da melhoria das condições de vida, dos progressos na medicina, da melhoria da assistência médica, do alargamento dos sistemas de proteção social, da alteração de hábitos alimentares e outros.

Glória Lopes
in:mdb.pt

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