...só cheira a alhos quem os come
Portugal nasceu na tarde de 24 de Junho de 1128. Mas só em 1179 viu reconhecida a independência.
Nesses 884 anos de monarquia e 102 de república, não houve paz social, progresso bastante para contentar a todos, reconciliação entre todos. Se a monarquia pariu a república, não foi a filha mais eficaz do que a mãe. Foi em função deste binómio que o Estado Novo geriu o país. Não havia interesse em educar o povo, reconhecendo-lhe os direitos humanos. Portugal que tinha dado novos mundos ao mundo, deslumbrou-se com a chegada ao desconhecido. Os que resistiam às tormentas do chefe e às dificuldades do tempo, acabavam por morrer, onde quer que fosse, uns por esforços excessivos, outros à míngua de alimentação, quando não eram abatidos por velhice, raiva ou mero embaraço social. Do sonhado Quinto Império que Pessoa sonhou, até à redução a este palmo de terra que somos, tudo se diluiu, por ânsia desmedida entre os poderosos e os incapazes. Depois de terem os nossos bravos conquistadores, sempre recrutados de entre a plebe, chegado ao extremo Oriente e ao ponto mais ocidental da Terra, cruzando os mares e sobrevoando os ares, tudo se foi, em nome de ideologias inconciliáveis com o interesse de todos. Mataram a agricultara, a pecuária, a pesca, o artesanato, os usos e costumes de terras fartas que, durante séculos, alimentaram os seus cultivadores que voltaram à fome das grandes crises mundiais. Se nem a Monarquia, nem a República foram capazes de satisfazer a justiça, a ordem e a paz social, quem vai repor aqueles valores supremos que uma sociedade justa e coerente exige?
A democracia raiou em 25 de Abril de 1974. Viveram-se tempos dramáticos com a descolonização «exemplar». Os armazéns que guardavam as barras de ouro que o Estado Novo amealhou, mesmo que à custa da fome por que passaram as populações, deram para erguer impérios como a TAP, a RTP, a REN (com outro nome), as cimenteiras, tanta empresa pública que se herdou e que alguns políticos têm vindo a triturar como caroços de azeitona. Tínhamos a Bandeira Nacional que fazia arrepiar os cabelos. Ficámos com a Bandeira desfraldada em cada avião da TAP que nos levava aos longes do Oriente ao Ocidente. Mas até essa vai deixar de ondular nos ares...
Foram episódicos os tempos bons da democracia. Serviram para testar a esperança de alguns portugueses. A adesão à União Europeia contribuiu para alentar os mais tímidos. As auto-estradas, as carruagens cheias de euros para os dez estádios de futebol, as pontes faraónicas, a proliferação de universidades, institutos, escolas superiores a granel, os programas de formação (fictícia), empresas públicas e cooperativas como cogumelos para empregar os votantes mais zelosos, resultaram nesta bandalheira a que chegámos. Perdemos autonomia, o crédito, a honradez, o valor da palavra que valia mais do que a escritura, como por exemplo em Barroso.
Será esta a minha primeira crónica do ano, neste jornal. Talvez a mais dolorosa de muitos milhares delas que escrevi em dezenas de jornais e revistas, ao longo de 60 anos de jornalismo militante que completo daqui a três semanas. Pensei que elas contribuíssem para fazer pedagogia nos meios rurais, visto que as gentes do interior do país, nunca tiveram tanto acesso à informação escrita como nos meios urbanos. Enganei-me redondamente, como me tenho enganado com políticos que ajudo a eleger para me roubarem e à classe média a que pertenço. Sou dos que posso garantir a esses imberbes de corpo e alma que a reforma que recebo é justa, séria e foi ganha com sangue, suor e lágrimas. Como a de muitos milhares de cidadãos da classe baixa e média que a partir de Janeiro vão ver consumado mais um roubo descarado. Parodiando Jerónimo de Sousa confirmo que nem Salazar que me levou à guerra sem saber porquê, era capaz de tanta roubalheira...
Quanto ao jornalismo que virou escola de mal-feitores, basta citar o exemplo mais recente na RTP.
Tudo por causa de imagens televisivas cedidas pela estação pública à PSP, relacionadas com uma greve justa, ainda que com desagradáveis incidentes..
Não venho em defesa de Relvas ou do Governo em geral. Eles são todos iguais. Venho deplorar a astúcia do director de Informação, Nuno Santos, que teve a deslealdade de ceder as polémicas imagens da RTP. De acordo com os colegas de trabalho, Ana Pitas, Luís Marinho e Luís Castro. Bastam estes três profissionais da casa para confirmar que o «chefão» autorizou o crime do qual veio proclamar-se inocente, alegando que fora vítima de um saneamento político. Veio Nuno Santos vangloriar-se para as televisões, rádios e jornais de que «os seus 13 anos de RTP mereciam outro cuidado». Direi eu ao jornalista Nuno Santos que outro cuidado deveria ter ele, quando chamou «mentiroso e miserável» ao seu adjunto Luís Castro. Sou jornalista como eles, muito mais antigo do que eles, não me cruzei com eles nas escolas novas, porque eu aprendi nas escolas velhas. Aufiro, ao fim de 37 anos de descontos para a Segurança Social e a ADSE, com 73 anos de vida dura, agravados pela guerra, 1/5 do que eles recebem do mesmo patrão que é o Estado. Quem comete um crime profissional como Nuno Santos e de imediato o nega, insultando quem o testemunhou, não pode, por mais tempo, ser director da informação em qualquer canal televisivo. A sua postura demonstra que passou 13 anos a servir-se do canal público, satisfazendo os seus apetites partidários. Porque só cheira a alhos quem os come.
OPINIÃO: Barroso da Fonte
in:jornal.netbila.net
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