Barroso da Fonte |
Soube por uma amiga (lisboeta) de Mondim que Barroso da Fonte ia fazer dentro em breve (24 de Janeiro) 60 anos de escrita e fiquei um pouco agitado com a minha consciência porque este «Golias» do Barroso, de Trás-os-Montes e Alto Douro e do Norte é credor de um muito obrigado.
Não é mais um que esteve na política em lugares de destaque e continua a saber estar na cultura. É um dos mais destemidos, herdeiro de muitos outros heróicos combatentes ao longo da nossa História.
A vida dura difícil na meninice no Barroso foi um pouco amenizada na vida austera de seminarista em Vila Real.
Depois, foi a prova da resistência física e mental com o serviço militar como Ranger em Lamego e na linha da frente de um dos mais duros teatros de guerra portugueses do século XX, o Norte de Moçambique. Esta duríssima prova, em que o fio da vida e da morte se emaranham poderá ter sido mais um tempero para um dos mais duros e destemidos combatentes da escrita no último quartel do século XX e esta primeira dúzia de anos do século XXI.
Tanto é capaz de despir a camisa ou esvaziar a carteira por um amigo como partir a louça toda ou revirar bronze se a voz da sua consciência lhe diz que tem de ir em frente, contra tudo e contra todos.
Seguindo o pensamento de Ortega y Gasset em que o «ser de direita ou de esquerda foi uma das mil e uma maneiras que o homem inventou para ser imbecil», não foi HOMEM de se acobardar porque a extrema esquerda estava a um passo de tomar o poder e era muito perigoso assumir uma posição moderada.
Foi neste clima político e social que ele encabeçou o movimento que veio a criar a «Associação de Combatentes do Ultramar».
Mas, a sua mais temível espada foi a da escrita. Um dia, arrastava-se uma contenda académica sobre os falares do Barroso (quem conhece melhor este típico e riquíssimo linguajar se não os barrosões?) e manifestei-lhe a minha solidariedade e indignação.
A resposta foi breve e não deixava dúvidas: - Oh, Dr. Jorge Lage! Não se incomode, porque eu até gosto de polémica!
Esta luta prosseguiu quando alguém por calculismo ou oportunismo decidiu adulterar a única fonte histórica credível sobre o local em que nasceu D. Afonso Henriques: GUIMARÃES!
Só uma voz se indignou e revoltou: a de Baroso da Fonte.
Não se calou e como um grande cavaleiro com código de honra em que é capaz de defender a sua dama até à morte, esgrimiu a espada dos argumentos e pelejou contra amodorradores da nossa História. Obrigou a consciência do maior medievalista potuguês de todos os tempos, José Mattoso, a explicar-se bem, para que a verdade histórica fosse reposta e a Academia Portuguesa de História ir ao rego da verdade.
Este episódio foi sublime em que um solitário barrosão foi capaz de enfrentar as ondas avassaladoras e turvas dos «donos do saber histórico». Argumentou, facsimilou e engrossou a sua tese na obra: «D. Afonso Henriques».
Jorge Lage e Barroso da Fonte, na Casa Regional dos Transmontanos e Alto-Durienses do Porto |
O Município de Montalegre, a quem ele doou um pequena fortuna em livros, documentos e obras de arte soube homenageá-lo. Aguardamos que, em espaço digno, saiba potenciar o seu doado documental e artístico em prol do barroso e da cultura.
Da minha parte sinto-me honrado e orgulhoso em o ter por amigo e para Trás-os-Montes e Alto Douro homens como ele fazem falta.
Mais que os 60 anos de escrita devemos celebrar o seu percurso como homem e homem de letras e de causas de honra da província esquecida. Tem sabido ser a voz sonante dos que não têm voz, até dos humildes e esquecidos poetas.
Deus e a Nossa Sra. da Saúde lhe dêem muitos mais anos de vida e a força para continuar a ser um dos defensores da nossa região e da nossa gente! Obrigado João Barroso da Fonte!
Por: Jorge Lage
in:jornal.netbila.net
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