sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Cordeiro ou canhono?

OPINIÃO
Jorge Lage
Os produtos de denominação de origem protegida (DOP) são uma interessante e necessária realidade no Portugal da União Europeia (UE). 
Só assim é possível protegermos os nossos produtos genuínos contra a zurrapa que nos chega da europeização e globalização. Em Mirandela, serão os Azeites DOP, de Trás-os-Montes, os que mais nos podem beneficiar e que têm feito um percurso notável e, aos poucos, vão amealhando prémios de qualidade. Só assim poderão afirmar-se no mercado global como produtos de excelência. 
Recentemente veio a público a classificação de origem protegida, pela UE, ao «Cordeiro ou Canhono Mirandês». Esta designação, «cordeiro ou canhono» vai ser confusa ou deturpadora do que o cliente pedir, a não ser que seja uma habilidade citadina de marketing, o que será penalizadora para uma marca que se quer de qualidade excelente. 
Os alentejanos são mais práticos e chamam aos cordeiros crescidos borrego e, pelo meio, podem meter carneiro ou ovelha, isto é, na nossa linguagem transmontana (pelo menos mirandelense, temos muito vocabulário rural em comum) canhono e canhona. Isto intriga-me tanto mais que a língua minoritária mirandesa, tal como nós tem a denominação de cordeiro ou anho para os ovinos mais novos, borrego para os mais crescidos, malato para as reses entre um e dois anos e só depois vem o canhono ou carneiro. 
Será que quem faz esta classificação já não conhece bem o significado das palavras? Ou será que assim também se pode vender carneiro ou canhono por cordeiro? 
Outra situação original é a classificação «ovinos de raça churra galega mirandesa». O correcto para mim seria «ovinos de raça churra galega» dos criadores de Miranda do Douro. 
Por este caminho temos tantas raças quantas as quintas. Contudo, quintas que tenham dado origem a uma raça só ainda conheço a Quinta da Terrincha que deu nome à «ovelha terrincha». Já viram os nossos agricultores a dizerem que têm bovinos da «raça mirandesa mirandelense»? Para esta minha discordância apetece-me citar a expressão que a minha saudosa mãe usava: - está boa a canhona, o que tem é pouco molho! Neste país em que abrasileiramos ou rebaixamos a língua de Camões já pouco me espanta e na designação acima vejo um cobrir com um vocábulo o que, porventura, as rações «plásticas» deixem a descoberto. 
Cordeiro ou cabrito só de confiança porque outras histórias já vêm de longe, pelo menos conheço-as há mais de quarenta anos. Se estivesse por aqui o Toninho Feliz criador de cordeiros certificados não me deixaria ficar mal. Por isso, não se esqueçam que do cordeiro ao canhono, tem pelo caminho o borrego e o malato.

Jorge Lage
in:jornal.netbila.net

Sem comentários:

Enviar um comentário