terça-feira, 22 de janeiro de 2013
Os meus 60 anos de combate Jornalístico
OPINIÃO - Barroso da Fonte
Em 24 de Janeiro de 1953 assinei no semanário a Voz de Trás-os-Montes a minha primeira notícia. Não apareceu na primeira página, não fez a manchete dessa edição, nem sequer se adivinhava que 60 anos depois seria preciso saber com antecedência quantos caracteres uma peça jornalística deve ter. Muito menos eu conhecia os requisitos a que deve responder uma notícia digna desse nome. O «quem, quando, onde, como e porque» eram questões que nada me preocupavam para que a notícia fosse verdadeira. Do lead, dos caracteres e da correspondência contextual àquele quinteto de exigências jornalísticas, só muitos anos depois vim a saber o que eram e o que significavam. Entre o abandono do seminário de Santa Clara, os dois anos de trabalho na Barragem de Pisões, a preparação militar, os 26 meses que prestei em Angola e o regresso ao meu Pátrio Barroso, semeei em jornais e revistas, centenas de artigos de opinião, recensões sobre livros que ia lendo, poemas que ia produzindo e três livros de versos que entretanto editei, nunca tive necessidade de conhecer os nomes técnicos das artes gráficas. O que posso dizer é que o jornalismo foi, para mim, um amor à primeira vista. Como nunca fumei, preferi celebrar um pacto com a escrita. De tal modo que no dia em que não escrevesse um artigo (ainda hoje assim é) não me sentia realizado. Já lá vão 60 anos! Foi esta a maneira de servir a minha Terra e as Gentes que nela nascem, vivem e morrem.
Eduardo Aroso, no seu blogue, escreveu nos primeiros dias deste ano: «Amar Portugal é ser universal no convívio, mas não ser estrangeirado na gestão da nossa casa de muitos séculos. Amar Portugal é ser, humildemente, o braço, a boca e o gesto do Arcanjo que vela por nós. Amar Portugal é perceber que cada pesadelo no sono, no trabalho ou na sociedade, é ainda o confronto final que temos com o Adamastor». O jornalismo foi para mim, nestes 60 anos de contacto com o público, uma forma de servir a minha Pátria, de dar voz à minha Gente, de lutar contra os corruptos, denunciando os vendilhões do templo, os prepotentes e os falsários de todas as origens.
Nasci no ano em que começou a II Guerra Mundial. Portugal não entrou nela mas acabou por ser estrangulado por ela. Durante e depois. Não soube reerguer-se a tempo e preferiu agarrar-se ao «Império» que se desmoronou vergonhosamente. Resta-nos o simbolismo da Lusofonia que o (des) acordo ortográfico, impiedosamente, veio estrangular.
A minha geração não foi «rasca», mas viveu «à rasca», porque aguentou com todos os males do século XX. Uma República que «matou» a monarquia e semeou infortúnios de toda a ordem, desde a Instituição religiosa, aos costumes e à libertinagem que dividiu para reinar. O Estado Novo trepou o republicanismo, fazendo-o através da escravatura. Saber a menos para fome a mais. Fome de pão, de cultura, de liberdade e de progresso.
Em Outubro de 1952 entrei no Seminário. A terra já não chegava para matar a fome a tanto esfomeado. Dez filhos num lar, sem qualquer apoio alheio, era destino a evitar.
Na década de cinquenta - que me lembre - só José Taboada e Alberto Machado colaboravam na imprensa regional. Bento da Cruz apareceu em 1959 com um livro de poemas a que chamou Hemopetise, com o pseudónimo de Sabiel Truta. A partir de 1963 e até hoje desenvolveu nos seus diversos livros e no Jornal que criou e dirige uma actividade denunciadora das injustiças sociais. Depois surgiu o Pe João Costa. Só na década de setenta as vozes de protesto aumentaram. Prezo-me de ter sido a voz rebelde e incómoda para o poder político dos meados do século XX. Nem durante a guerra do ultramar abrandei o ritmo. Quem duvidar leia os jornais: A Voz de Trás-os-Montes, a Voz de Chaves (dirigida pelo Capitão Alípio de Oliveira), o Notícias de Chaves, o Notícias de Trás-os-Montes (de Jaime Cancela), O Despertar (de Coimbra), o Jornal de Abrantes.
A censura mutilou muitos artigos meus. Antes e depois da revolução dos cravos fui um inconformista sistemático. Essa solidão de combatente destemido em cerca de duas décadas, em vez de ser aplaudida, foi silenciada, em favor de terceiros. E chegou a suscitar calúnias públicas algumas por parte de gente que já partiu. Talvez um dia conte essas facécias... E toda esta ingratidão por não cantar hossanas no dia 26 de Abril de 1974! Deixem-me celebrar sozinho 60 anos de combate por Trás-os-Montes e pelos Transmontanos!
Barroso da Fonte
in:jornal.netbila.net
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