domingo, 10 de março de 2013

Associativismo - enfoque no exemplo transmontano


Através do enfoque no exemplo transmontano, constatou-se que o associativismo regionalista português articula quatro dimensões principais (a assistencial, a social, a cultural e a política), frequentemente indissociáveis. 
Nesse sentido, cumprem distintas e complementares funções de teor mediador e integrador. Além disso, a proporção de cada qual varia no tempo e no espaço de inserção. Assim, a dimensão assistencial foi, inicialmente, muito premente (incorporando a matriz do associativismo primevo), sobretudo onde a imigração económica foi mais acentuada (é o caso do Brasil, mas também em Lisboa até à II guerra mundial).
Vinha amiúde combinada com uma vertente social, pelo convívio na sede, excursões, entretenimento, festas, formação. Esta, por sua vez, associou-se à dimensão cultural, na construção da regionalidade, através de conferências, exposições, na busca e divulgação de tradições populares regionais, reforçando-se assim a entreajuda, a confiança interpessoal e institucional, a identificação cultural e a intervenção pública.
Quanto às principais dimensões do capital social (Putnam, 2002: 9-11), o associativismo regionalista transmontano configura um caso relativamente híbrido.
Assim, ele promove o capital formal (assente em líderes reconhecidos, requisitos para filiação, encontros regulares, etc.), embora possibilite ambientes lúdicos mais próprios do capital informal (como o convívio num bar ou restaurante); combina uma sociabilidade densa com outra fluida, pois tanto permite um convívio regular quotidiano socialmente mobilizador e colectivamente protector como possibilita contactos esporádicos com amigos/ conhecidos e vantagens materiais (ver ex. luso-brasileiro); tem uma incidência interior, patente no seu carácter subétnico, ainda assim não descurando a filantropia, patente sobretudo no apoio material (dinheiro, roupas, resoluções burocráticas, agência de emprego, etc.); constitui ainda um capital social vinculativo (bonding), dada a premência das afinidades subétnicas (embora
entre os associados possam constar familiares africanos, americanos e outros, este enquanto sócios “honorários” ou “beneméritos”), mas também promovendo o cruzamento de distintos grupos socioeconómicos.
O capital social, ao materializar redes de associações empenhadas, estimulou grandemente a vocação reivindicativa junto das autoridades públicas, cuja permeabilidade foi qualitativamente inferior durante a ditadura, denotando uma resistência estrutural no relacionamento com o associativismo voluntário civicamente mais dinâmico.
O associativismo regionalista ligado à imigração para as grandes urbes também pretende valorizar os indivíduos que se inserem num contexto socio comunitário mais complexo: não é só uma questão reivindicativa ou de representação; os indivíduos que se unem em torno destas instituições, ao promoverem um certo regionalismo, estão também a defender-se a si próprios e a dar sentido às suas vidas, pois é um modo de conhecerem outras pessoas, de aprofundarem as suas identificações, de retirarem benefícios da rede de contactos de cada qual e de outras instituições em que os seus interlocutores estão inseridos.Em suma, contribui para a integração social e serve para aumentar o capital social de cada um, ao mesmo tempo
que reforça uma certa pertença identitária e que dá influência a uma comunidade subétnica relativamente delimitada. 
Tal tendência afigura-se tão mais central quanto mais distante se está do ponto de origem regional.
A componente política e cívica é, assim, estruturante: mesmo que a ideia de se resgatar uma autonomia político-administrativa para a região de origem não vingue, afirma-se um espaço de intervenção pública (influenciando a decisão pública, mediando interesses), reforçam-se os vínculos sociais e institucionais (integração e aprendizagem da actuação democrática) e promove-se uma identidade cultural mais complexa, que vai além do exclusivismo (nacional ou outro). 
Além disso, a união tem vindo a aperfeiçoar-se, globalizando a comunidade imaginada, possível pela consolidação das comunidades diaspóricas e das internas ao estado-nação, pelo reforço das plataformas unitárias (simultaneamente representativas e de pressão: federações, participação no Conselho das Comunidades Portuguesas), pela intensificação dos fluxos electrónicos e pelo carácter congregador de alguns destes fluxos (ver os sítios e portais específicos de internet).

Daniel Melo
AQUÉM DO MARÃO
O associativismo regionalista transmontano em Portugal e na diáspora

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