(É com a Lei das Sementes que a União Europeia pretende que as sementes tradicionais passem a obedecer a critérios industriais.
Trata-se de uma cedência aos interesses das multinacionais agro-alimentares que têm como objectivo padronizar o paladar a nível global.
Um atentado aos patrimónios rurais e culturais dos países membros)
As multinacionais agro-alimentares, ligadas a fortíssimos interesses económicos, e que pretendem padronizar o paladar do planeta de forma a globalizar a venda dos seus produtos, estão de novo ao ataque.
Desta vez a atenção recaiu sobre as sementes, como origem e génese de cereais, frutos e outros vegetais, que estão na base da alimentação diversificada no planeta e da cultura própria de cada povo.
Há milénios que as sementes são transaccionadas de mão em mão, numa actividade que suplanta as necessidades alimentares de cada povo, e atinge o gabarito de actividade cultural tradicional. As sementes são um bem universal que, até hoje, se tem regido pelo princípio da necessidade, pelo que se tem diversificado, trocado e aperfeiçoado milhares de sementes que constituem um espólio natural património do Homem.
Entre nós, as sementes são manipuladas por mãos de gente do campo, que as lança à terra em rituais que remontam a tempos longínquos, com a única regra de serem úteis e cumpridoras da sua dupla função: deleitar o paladar e saciar a fome. Assim, durante séculos, foi sendo arrolada uma infinita variedade de espécies vegetais que constituem hoje a biodiversidade fantástica do mundo rural e natural.
Longe de constituírem somente um meio para a sustentabilidade do ser humano, as sementes são hoje das poucas marcas de origem que podem identificar os povos e a sua cultura. São um bem inestimável e perene, que não só é urgente preservar, como essencial defender, pois tão importante como uma obra literária, uma peça de música, uma dança ou um poema, são as sementes, exemplos de vida lactente que sustenta gerações.
Mas estão agora em perigo, por via de uma deliberação da União Europeia, também vulgarmente já conhecida como Lei das Sementes, e que tem como objectivo a obrigatoriedade de registo de todas sementes que se possam trocar de mão em mão, mesmo que de forma gratuita. Registo esse que é, tecnicamente complexo, burocraticamente enfadonho e financeiramente impossível de suportar pelos pequenos e médios agricultores que os manuseiam e usam. De outra maneira: pretende-se que estas sementes ancestrais obedeçam a critérios estabelecidos para as sementes industriais.
Resumindo: o objectivo é acabar com milhares de sementes, reduzindo o leque a meia dúzia, cuja produção e transacção (não é difícil de imaginar) ficará nas mãos das tais multinacionais. Não tarda, em todo o planeta se consumirá o mesmo tipo de pão, o mesmo tipo de fruta, a mesma qualidade de alface, de tomate ou de limão. As espécies autóctones ficam assim, arredadas da legalidade e, como tal, em rápida extinção.
Esta decisão de uma União Europeia que foi criada com o espírito de unificar um Continente, preservando as raízes culturais de cada país, vai assim caindo por terra, dia a dia, de cada vez que os interesses das poderosíssimas empresas mundiais fazem valer os seus “argumentos” junto dos responsáveis da Europa. E estes, quais cordeiros de quem já se tem a certeza de não o serem, mas sim lobos esfaimados por comissões chorudas de corrupção, a tudo dizem que sim, porque os altos valores europeus de nada valem se comparados com os seus umbigos e as suas insaciáveis contas bancárias.
A Europa enterra-se dia a dia, caminhando rapidamente para a sua desagregação. A sua moeda (o tal Euro malfadado que nos enganou as contas) está por um fio, a desigualdade de tratamento impera, a nova ordem, que já fez com a Europa sangrasse em duas Grandes Guerras, aproxima-se aceleradamente. A Europa está doente, e o mal está na hierarquia, composição e políticos que governam em Bruxelas, a União Europeia.
Já nem as pobres das sementes escapam. Nada escapa à voragem dos que têm o domínio do mundo como objectivo final.
Esta Lei, digo seguramente e em nome da minha identidade como português, de costelas rurais, de defensor das tradições culturais do seu país, ciente do crime que a mesma Lei traduz, não deverá nunca ser aplicada, quanto mais cumprida. A sua violência e consequências negativas são de tal monta, que deve ser renegada para o caixote do lixo donde nunca devia ter saído.
Porque esta Lei constitui, de facto, uma proibição. Hedionda e revoltante, mas uma proibição. Proibição de que cada país preserve a sua identidade cultural.
Ficamos a aguardar o que os nossos responsáveis políticos, nomeadamente o Ministério da Agricultura, vai fazer mediante este crime de lesa
Pátria. De igual modo ficaremos atentos ao que vão decidir outros países, especialmente os mediterrânicos (mais ricos nesta matéria), sobre este assunto.
Estou expectante para ver como vai reagir este Portugal subserviente e envergonhado, a estas novas instruções de uma União Europeia que tresanda.
nota: relevo aqui, com a devida vénia, o Dr. Alexandre Parafita e o notável artigo que sobre o assunto (mas numa outra perspectiva) publicou no Diário de Trás-os-Montes, e que me serviu de alerta e de inspiração para este que escrevi.
Por Francisco Gouveia, Eng.º
in:dodouro.com
http://www.mst.org.br/Governo-dos-EUA-ajuda-Monsanto-vender-transg%C3%AAnicos-no-exterior
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