quarta-feira, 26 de junho de 2013

Lenda do Verão de São Martinho

Local: Sambade, ALFÂNDEGA DA FÉ, BRAGANÇA

S. Martinho antes de ser Santo foi soldado do Imperador. Uma vez ia montado no seu cavalo num dia tempestuoso de chuva e vento muito embrulhado na sua capa de soldado. 
 Surgiu-lhe num caminho um pobrezinho de mão estendida muito magra semi-nu a tremer de frio e também de fome. O Moço cavaleiro ficou abalado, e depois de dar umas moedas ao pobre desceu do cavalo e com a própria espada cortou a capa que trazia ao meio dando uma parte ao pobre, para ele se cobrir e ficando com a outra metade para si. Passados momentos o temporal amainou as nuvens foram desaparecendo, transformando-se a tempestade num dia de sol brilhante, raro na estação do Outono. 
 Eis a Lenda do Verão de S. Martinho, Santo que é comemorado no dia 11 de Novembro, geralmente com um serão de família e amigos. 
 Diz o ditado. No dia de S. Martinho, prova o teu vinho. 
 Usança — Junta-se a família, convidam-se os amigos e todos se reúnem à lareira, ao redor de uma boa fogueira. É o tempo da apanhadas castanhas e nesse dia, assa-se uma grande porção num assador próprio, feito já para tal, em latão com buracos no fundo. Põe-se dependurado em cima da fogueira e enquanto assam, uns conversam, outros vão buscar o vinho. 
 As castanhas depois de assadas, deitam-se num cesto que se coloca ao centro, para todos lhe chegarem. 
 Come-se com fartura, bebe-se bem, juntando-se mais uns petiscos 
que haja na ocasião. Há risos histórias e anedotas de varias espécies.
Uma para exemplo: 
Havia uma mulher que gostava muito de vinho e todos os dias ia à pipa, mas às escondidas do marido. 
 Este, um dia morreu e então a mulher fez-lhe um grande pranto e nos dias a seguir, a vida dela era acocorada na lareira coberta com um chaile e com uma bota de vinho, sempre metida no regaço. 
 As vizinhas vinham vê-la e ela sempre a lamuriar-se. Estas diziam-lhe: 
 — Sai daí mulher! Agora queres passar a vida a prantecer!?... Ela respondia: 
 — Sem secar estes courinhos não apago as minhas penas, não saio daqui. Ia bebendo sempre, até a bota ficar vazia e só assim as penas se apagavam.

Fonte:AFONSO, Belarmino Raízes da Nossa Terra Bragança, Delegação da Junta Central das Casas do Povo de Bragança, 1985 , p.116-117

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