Local: Vilas Boas, VILA FLOR, BRAGANÇA
Era na noite de S. João. Nessa altura não tinham relógio na torre, não tinham nada e nunca sabiam as horas. Passou-se com uma tia-avó minha, quando era pequenina, isto em Meireles. O pai viu um luar muito bonito, isto na noite de S. João, e disse:
— Ai que já é de madrugada! Ó Júlia, põe-te a pé. Anda comigo regar.
Ele lá foi e levou a garota. Chegou lá e disse:
— Júlia, vai lá tirar o pau à poça.
Este poço ficava no ribeiro do Faro, que deita pró Cachão. Antigamente, havia esses poços que tinham um trapo com um pau a pegar na água. Ela chegou lá, tirou o pau ao poço e começou a gritar:
— Ai, pai! Ai, pai! Ai, pai!
— Que é que foi? — disse-lhe o pai.
— Está aqui uma cobra muito grande! Uma cobra muito grande!
E ele lá foi e não viu nada. E pensou: “Estás com o sono, estás meia atrapalhada com o sono”. A rapariga foi outra vez e tornou:
— Ó pai! Ó pai, anda cá!
— Que é que foi? Que é que foi?
— Olhe que não é uma cobra, é uma menina! É uma menina!
A cobra apareceu agora em menina para que lhe não tivesse medo, porque ela tinha medo à cobra. Era uma menina toda vestida de branco. O pai foi lá e não viu nada. Então, acabam de regar e disse:
— Fecha o poço, Júlia. Vá, vamos embora.
Mas isto ainda alta madrugada. E foram-se embora. Então a menina olha pra trás e dizia:
— Ó pai, a menina está a chorar! Quer que a leve!
E o pai pensava: "Estás tonta com o sono”. E tornava ela:
— Ó pai! Está a chorar lá no alto! Está a chorar lá no alto!
Chegaram a casa e o pai, quando viu que ainda era de noite e se lembrou que era noite de S. João, voltou atrás mas já não viu mais nada. Então é que percebeu que a menina era um encanto e que podia ter ficado rico.
Fonte:PARAFITA, Alexandre Património Imaterial do Douro (Narrações Orais), Vol. 2 Peso da Régua, Fundação Museu do Douro, 2010 , p.286
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(Henrique Martins)
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terça-feira, 4 de agosto de 2015
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