LÁGRIMAS DE MISÉRIA
Com as mãos a tremer, na solidão desta minha triste vida, grito num tom silencioso, tão forte que os meus pés parecem pisar um gelo glaciar. Hoje, disse-me um senhor que aqui passou, é o dia internacional de Irradicação da Pobreza. Ele foi embora e as lágrimas cairam-me, pois apesar de jamais me ter queixado nesta minha miserável vida, tenho consciência da pobreza em que sobrevivo, ou melhor, da insignificância do ar que respiro. Sinto que meto nojo a esta sociedade de engravatados, que, certamente, meto nojo àqueles senhores que falam lá naquelas bancadas que nos governam, meto nojo aos comentadores das televisões, meto nojo até à mãe da solidariedade. Sinto-me um nojo humano, neste país miserável que despreza quem trabalhou desde que nasceu, quem nunca reclamou, quem sempre labutou em prol deste país que um dia prometeu um futuro melhor. Nojo, é o que sinto por estas lágrimas que me molham o rosto, pois este meu corpo, que tanto foi escravizado, merecia bem mais do que morrer neste estado. Nojo, de mim, de ti, de nós.
Foto captada hoje (17.10.2013) numa Vila Portuguesa, Mesão Frio, em pleno Douro Vinhateiro, a tal região que acaba de apoiar uma empresa fluvial em sete milhões de euros para a construção de mais um navio de luxo.
Texto: Paulo Costa
Foto: Rui Manuel Ferreira
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