Isabel Mateus acaba de lançar «Farrusco - Cão de Gado Transmontano», uma novela que alerta, através das memórias de infância da autora, para a importância de preservar uma raça que corre riscos de extinção. A autora sublinha a «função indispensável» que o animal representa na economia transmontana» e lembra que «manteve, durante séculos, o equilíbrio da agropastorícia no meio rural».
«O Farrusco nasceu durante a primavera, em Trás-os-Montes. Cresceu como filho varão numa época em que eram mais abundantes os rebanhos do que os pastos. Os seus pergaminhos remontam ao mastim medievo, cruzamento de cão com lobo, e o sangue que lhe corre nas veias e a pelagem lobeira, entre outros requisitos que assistem a sua raça, talharam o seu destino desde que brincava no terreiro ainda cachorrinho. Aliás, ficou tudo estabelecido há tempos imemoriais: o Farrusco seria um cão de gado transmontano, pois então!».
Assim começa a novela de Isabel Mateus, naquele que é o seu sétimo livro, e que através do Farrusco nos conduz à sua infância e a ruralidade transmontana que impera preservar.
Isabel Mateus, que nasceu nas Quintas do Corisco (Torre de Moncorvo), vive e reside em Inglaterra, começa por explicar ao Café Portugal que «Farrusco - Um Cão de Gado Transmontano» é o regresso à temática da ruralidade e «em que se acompanham as aventuras e dissabores da personagem central Farrusco desde o seu nascimento em “A ninhada”, passando por peripécias relacionadas com a sua função de guardador de rebanhos como em “Os ladrões de gado” ou “Quando os cordeirinhos gemelgos nasceram" até à sua morte “No bardo”».
Tanto o aspecto familiar do nome “Farrusco”, «como a presença deste animal ao lado do gado nas nossas aldeias, remetem-nos para as memórias da infância», afirma a autora.
Na verdade, o Cão de Gado Transmontano, é conhecido por ser um cachorro felpudo, que sai da mãe aos 50 dias, de ar inofensivo e meigo, e que se transforma num protector do seu território e dos bens à sua guarda. E esse caminho revela-se fundamental não só para as populações transmontanas, mas também para a sustentabilidade local.
Importância na economia transmontana:
Isabel Mateus explica que o Cão de Gado Transmontano «tem sido desde há tempos imemoriais “um dos caibros responsáveis pela sustentação da trave do lar” em Trás-os-Montes, significando isto que tem tido uma função indispensável na economia transmontana».
E adianta que esta raça de cães (mastim português transmontano) é reconhecida pelo Clube Português de Canicultura e manteve, durante séculos, o equilíbrio da agropastorícia no meio rural.
À medida que a narrativa avança cronologicamente «constatamos que os rebanhos vão diminuindo e, consequentemente, também o número de cães necessários para desempenharem as funções de guardadores de rebanhos, defendendo ovelhas ou cabras contra ataques de lobos ou de ladrões de gado».
Quer com isto Isabel Mateus salientar nesta novela que «a grande causa da quase extinção deste animal nas nossas aldeias transmontanas se prende com o despovoamento humano do interior», assunto que a autora abordou numa outra obra, “Outros Contos da Montanha (2009)”.
O problema da extinção do Cão de Gado Transmontano é, de facto, uma evidência. «O grande surto migratório das décadas de 60/70 (do século XX) representou, no caso de Farrusco e dos da sua raça, uma mudança drástica da sua presença nas comunidades rurais», como é retratado na obra: «Doravante, nem mátria, nem dono, nem companheiros. Afinal (o pastor Augusto), tinha-se escapulido para terras de França à semelhança dos demais em anos anteriores. Nem o reino animal escapava ileso àquela tirania...».
Isabel Mateus refere que «recentemente penso que têm sido tomadas medidas quanto à preservação das características desta raça. Sei da existência de alguns estudos que têm a preocupação de aferir e reunir as provas que possam ir ao encontro dos requisitos necessários para que à raça de cão de gado transmontana também lhe seja reconhecido o estalão».
No Parque Natural do Montesinho, Gimonde, Bragança, os cães e as ninhadas são controlados e os criadores ajudados a colocar os seus cachorros, salienta a autora, acrescentando que «existe, inclusive, a Associação de Criadores do Cão de Gado Transmontano (ACCGT), sediada em Vinhais e dependente do referido Parque Natural do Montesinho».
Cão de guarda, livre e independente:
E acrescenta que «é muito importante que esta raça continue a desempenhar a sua função primordial de cão de guarda e que seja tratada como tal no seu meio ambiente e a gozar da liberdade e independência de que precisa para dar o seu melhor».
Com a novela Farrusco Isabel Mateus reitera que pretende «dar a conhecer o cão de gado transmontano ao público em geral e, ao mesmo tempo, sensibilizá-lo para o respeito que este e outros animais merecem da nossa parte».
A obra, com 118 páginas, conta com as ilustrações de Cristina Borges Rocha, que também executou a capa e encontra-se ao dispor do público na Gráfica de Coimbra, nas plataformas online Wook e Bertrand, Amazon (Europa) e em outras livrarias seleccionadas.
Isabel Mateus nasceu em 1969 em Torre de Moncorvo, no distrito de Bragança. Licenciada na variante Português-Francês pela Universidade de Évora, leccionou durante dez anos em várias escolas secundárias em Portugal.
A literatura levou Isabel Mateus a Birmingham onde tirou o Doutoramento de Literatura Portuguesa na Universidade daquela cidade britânica, tendo neste estabelecimento leccionado língua e literatura.
«O Trigo dos Pardais», «A Terra do Chiculate - Relatos da Emigração Portuguesa», «A Terra da Rainha» e «Outros Contos da Montanha» são outras obras publicadas pela autora.
Ana Clara; Fotos - ACCGT
in:cafeportugal.net
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