sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Hirondino Fernandes e Pires Cabral: dois autores para a História da Cultura Portuguesa

Hirondino Fernandes
1. São ambos Transmontanos, já trabalharam em co-autoria em diversas selectas Escolares, pertencem, um e outro, à Academia de Letras de Trás-os-Montes e os dois já são escritores de proa em prol da Região que lhes serviu de Berço.
Os renomados universitários: Telmo Verdelho e Ernesto Rodrigues (igualmente transmontanos) explicitam nos respectivos prefácios, por que os conteúdos lhes são familiares), assinam, respectivamente, os prefácios de «BdB -Bibliografia do Distrito de Bragança», com 10 volumes, com a média de 800 páginas cada um. A saída dos oito tomos foi sucessiva, quase sintonizada com os meses do ano. Restam os dois últimos. E bem pode dizer-se que Hirondino Fernandes gastou todos os momentos livres da sua carreira profissional e a sua aposentação, para legar aos vindouros, um arquivo em que todos os criativos sobre o Distrito de Bragança, escusam de recorrer à Biblioteca Nacional. Pelo menos para as questões mais primárias. Temos dito e repetimos, convictamente, que Hirondino Fernandes é o novo – e por isso mais actualializado - «Abade de Baçal» (1865-1947) que viveu 82 anos e que escreveu 11 grossos volumes que abordaram tudo o que era preciso para conhecer a sua época: história, arqueologia, sociologia, religiosidade, etnografia. Não é hoje possível elaborar uma dissertação académica de licenciatura, mestrado, doutoramento ou pós-doutoramento, sobre o Nordeste Transmontano, sem citar o Abade de Baçal que tem em Bragança um Museu com o seu nome. Dezasseis anos antes daquele célebre Abade nascia (1931) no mesmo concelho, um seu - como que - discípulo não menos laborioso investigador que ainda não abrandou o seu ritmo de trabalho intelectual.
A Câmara de Bragança, graças à sensibilidade do seu executivo presidido pelo Engº António Jorge Nunes que assina em duas páginas uma nota breve, desde 1998, assumiu a publicação de três dezenas de outras obras de interesse público, incluindo a reedição, em 2000, da obra completa do referido Abade. Assim fossem todos os autarcas e políticos de proa.
Telmo Verdelho afirma no prefácio «Hirondino da Paixão de Bragança soube ser «o melhor de nós todos: pela dedicação indefectível a Bragança e aos seus conterrâneos, pela heroicidade laboriosa, pelo saber e rigor científico e, sobretudo, pela superlativa generosidade, consubstanciada nesta famosa oferta».

A. M. Pires Cabral
 2. Pretendi exemplificar com duas obras e com dois autores a capacidade produtiva dos criativos Transmontanos, durante o ano que findou. Nenhum outro que não A. M. Pires Cabral poderia ser chamado para dar o braço direito a Hirondino Fernandes. Também pela forma proficiente, cuidada e perspicaz como dirigiu o Grémio Literário, cuja programação também lhe pertence. Mas dessa sabem aqueles que vêem ali divulgadas e apresentadas as suas obras. Por agora e em síntese cumpre-me dar eco dos dois volumes da Língua Charra – regionalismos de Trás-os-Montes e Alto Douro, em dois volumes que totalizam 1174 páginas. O I volume dicionariza os vocábulos que por ordem alfabética, vão de A a E; o II aqueles que vão de F a Z. Entre as páginas 9 e 21, numa «nota introdutória», Pires Cabral abre com «palavras necessárias, fala do «âmbito geográfico» das «fontes», da «informação contida nos verbetes», «das particularidades fonológicas e metaplasmáticas e abreviaturas», como exemplos para uma leitura frutuosa. Das páginas 23 à 37 sistematiza a bibliografia, citando centenas de autores e de títulos, demonstrando o recurso a uma vasta e diversificada gama de obras que implicou anos de leituras, anotações e consultas meticulosas, tanto mais que as palavras e expressões escolhidas aparecem todas, morfologicamente caracterizadas, alfabeticamente dispostas e semanticamente definidas. É, por outro lado, obra pioneira, proveitosa e de recurso permanente, com contributos utilíssimos para docentes e discentes, numa altura em que as incertezas do acordo ortográfico, trazem as mentes baralhadas, confusas e indecisas. Mais um precioso serviço presta à Língua Portuguesa, este estudioso Bragançano que se radicou em Vila Real, fazendo uma ligação saudável entre os dois distritos que teimam em dar exemplos de bem trabalhar, por causas que não rendem votos mas permitem a realização de muitas vocações. É evidente que os autores transmontanos e criativos em geral não vislumbram ensejo para que ascendam aos palcos da fama televisiva. E sabemos todos que em Portugal, cada vez mais, só se conhece aquilo que passa nas televisões. 
Quando é que elas, públicas ou privadas, abrem os ecrãs a autores como estes que aqui proclamo? E a vários outros que são superiores àqueles que todos os dias nos entram em casa, só porque vivem perto e têm amigos em cada programador?

Por Barroso da Fonte, Dr.
in:dodouro.com

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