segunda-feira, 28 de setembro de 2020

…a revisitar os sonhos

Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Já não sei como se chamam… as coisas verdadeiramente importantes, às vezes, já se me encostam ao canto da memória. E são importantes porque vêm da infância, onde as coisas eram mágicas e tinham um significado fantástico e cheio de símbolos no reino fabuloso do faz de conta.
Às vezes ainda consigo regressar ao passado e revisitar estas plantas verdes, ornamentando soberbamente, numa exuberância ímpar, as paredes mais sombrias do povoado. 
E lá está de novo a criançada da minha infância que ainda brincava na rua, a fazer magníficos chouriços enfiando as folhas desta abundante planta, umas nas outras… e logo o coração adivinhava apetitosos e abundantes chouriços que animavam a tarde e a brincadeira.
Já mais para o fim do Verão esta planta deita umas sementes granuladas… então que arroz fantástico se cozinhava na imaginação que criava e recriava a raridade do arroz que tardava a chegar às cozinhas mais humildes.
Por fim… no brincar que nunca esgota o sonho, espremiam-se as folhas nas mãos que eram verde e logo escorria um magnífico azeite… azeite dos pobres… luz da candeia… azeite do faz de conta.
Serão chapéus, estas plantas?!… mil nomes terão por esse mundo de Cristo, mas para mim, serão para sempre os sonhos da minha infância que se materializam no fulgor do verde.

Fernando Calado
nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança. 
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.


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