Tratarem-me pelo primeiro nome soa-me a amizade e quando me chamam só por Jorge dificilmente esqueço essa pessoa.
Vem isto a propósito de eu ter uma grande admiração e apreço pelo Arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga. Tal como os dois padres da minha paróquia é de uma grande simplicidade e modéstia.
As traseiras do meu andar dão para a quinta arquiepiscopal onde pastam umas cabritas com cabritinhos que fazem mil e uma cabriolas.
A minha mulher segue-os nas suas correrias e tropelias, estabelecendo com eles uma empatia à distância. Um dia, ao fim da tarde, estávamos para ir para Lisboa e atrasamos a ida mais de uma hora para convencer as freiras do Paço a recolherem um cabrito que tinha nascido há uns minutos e o frio da noite era de rachar.
As irmãs já me conhecem pelo telefone e sabem das minhas preocupações com os cabritos. Uma vez ou outra até os vou visitar, mas não gosto do bode, que amedronta as cabras e amobe uma ou outra por ser violento. Até a comer as ataca e as expulsa da erva mais mimosa.
Hoje, ao anoitecer, a minha mulher viu que três cabritinhos novos tinham ido para a horta e não conseguiam ultrapassar a vedação para voltar para junto das mães.
Telefonei às freiras e elas agradeceram, mas já quase escuro não mexeram uma palha. Vou lá eu e com a ajuda dum paquete da quinta apanhámos os cabritinhos e pusemo-los do lado da vedação, onde estavam as cabras agitadas e a paz regressou ao redil. Os berros das cabras e cabritos durante a noite não nos iam deixar dormir.
Quem sente uma grande dor que já me começa a contagiar é a minha mulher ao pressentir que na Páscoa vão matar os cabritos. Se, ao menos, deixassem um ou dois… Ela fala nos cabritos do Jorge aos meus filhos lá longe e a cumplicidade é de toda a família.
A minha mulher já não quer que eu compre carne de cordeiro ou cabrito para casa. Por isso, deixei de visitar o Toninho Feliz nas Gandariças.
Eu já em criança via os animais domésticas mais próximos da socialização do que da mesa.
Hoje sonho com uma grande quinta em que pudesse ter animais domésticos em liberdade e penso que o que nos separa dos animais e plantas não é tanto como muitas vezes pensamos.
Jorge Lage
in:diario.netbila.net
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