segunda-feira, 28 de abril de 2014

PODENCE: UMA ALDEIA DO NORDESTE TRANSMONTANO

“Por isso a minha aldeia é tão grande como
outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura…”
(Alberto Caeiro)

Origem e Evolução Histórica
Alguns dados históricos e origem da população
Podence é uma pequena localidade, com uma área de 14,33 Km2, 357 habitantes e uma densidade populacional de 24,9 hab./Km2. Localizada na região de Trás-os-Montes, no Nordeste Transmontano, pertence ao concelho de Macedo de Cavaleiros e ao distrito de Bragança. O seu orago é Nossa Senhora da Purificação.
Segundo os dados que conseguimos recolher junto dos habitantes da aldeia, (uma vez que não existem registos escritos socorremos-nos da tradição oral) Podence terá nascido ainda antes da formação de Portugal, tendo sido fundada pelo povo mouro.
O que atrás se afirma é defendido com afinco pelos populares, dando como justificação dessa fundação os locais que dizem ser vestígio da passagem dessa antiga civilização pela aldeia.
Um dos lugares mouriscos é, segundo os mesmos, o “Curral Mouro”. Esta justificação baseia-se no facto de os Mouros terem sido sempre grandes criadores de cavalos, sendo que o local referido se caracteriza por ter os melhores pastos, em resultado da existência de um poço, o chamado poço dos Mouros. O poço está inserido em plena rocha, o que comprova, dada a complexidade exigida na sua perfuração, a estadia dos mouros em Podence.
Há ainda outros factos que servem para provar a passagem moura pela povoação como, por exemplo, os nomes de família. Existe na aldeia a família dos Mouratos, caracterizando-se as mulheres por terem um rosto alongado à maneira das Andaluzas Espanholas. As Andaluzas utilizavam, à semelhança dos naturais de Podence, o provérbio: “ali quem desce da capela de cima, para Lamadona”.
Realça-se o facto de ainda hoje existir a família dos Mouratos que, segundo os naturais da terra, são descendentes da já referida família dos Mouratos.
Por fim, e para terminarmos este breve resumo histórico, vamos revelar outro facto, que remonta à génese da aldeia, socorrendo-nos das palavras de um habitante local: “Mais ainda …, vai a gente pela aldeia acima e depois da igreja, dizem:

- O que é aqui?
- É o castelo!
- E onde é que está o castelo!?
- Acabou, existiu mas foi há muitos anos, agora só resta o nome.”

Resumindo e parafraseando, uma vez mais, um habitante da terra:
“Podence é a aldeia mais antiga de Portugal fundada pelos Mouros e tem um poço que o povo ainda hoje diz, que é o poço dos Mouros”. Este tipo de afirmação, que podemos ouvir talvez em todas as aldeias do nosso país, funciona, não só como uma procura de identidade própria, mas ainda como uma tentativa de remontar às origens, as quais permitam estabelecer a ligação com o nosso quotidiano. Estamos perante uma procura de raízes, de referências, um modo de não ficar perdido no tempo.
Situação Geográfica
Limites de Zona
A aldeia de Podence situa-se a oito quilómetros da sua sede de concelho, Macedo de Cavaleiros, que por sua vez pertence ao distrito de Bragança, em pleno Nordeste Transmontano. Cruzam esta povoação vias rodoviárias importantíssimas, que estabelecem ligação com o litoral do país. São elas a antiga EN-15 que liga Bragança ao Porto, e o IP4, que à semelhança da EN-15, liga também Bragança com a Cidade Invicta, a capital do Norte de Portugal.
Como limites de zona, Podence tem as aldeias de Santa Combinha, Vale de Prados, Lamas de Podence, Quintela de Lampaças, Corujas, Edroso e a sua anexa Azibeiro, todas pertencentes ao concelho de Macedo de Cavaleiros, se bem que a cerca de três quilómetros, em direcção a Bragança, fique a fronteira entre o concelho macedense e o bragançano, sendo Podence considerada uma zona limítrofe de concelho.
Tipologia da População: Ocupação Sócio-económica
O sector primário – como, aliás, não poderia deixar de ser –, é o que reúne maior grau de importância na aldeia de Podence, embora resumindo-se praticamente aos ramos da agricultura e pecuária. O sector secundário tem também alguma predominância nesta aldeia, devido ao facto de uma das maiores empresas de construção civil do concelho estar aí sedeada dando, por conseguinte, trabalho a várias pessoas da terra. O sector terciário é o que integra menor número de trabalhadores locais, resumindo-se apenas a cinco comércios, quatro do mesmo ramo, o hoteleiro, e um supermercado.
No campo da agricultura, que dentro do sector primário é o que reúne maior número de trabalhadores, temos como principais culturas:
- a castanha, o morango, o centeio, batata, uva e fruta em geral. Saliente-se o facto de a actividade começar a estar mecanizada tendo, nos últimos anos a esta parte, o número de máquinas agrícolas aumentado substancialmente.
No tocante à pecuária, esta resume-se apenas à criação, em pequena escala, de bois que têm por finalidade o meio de tracção e vacas para a extracção de leite.
Características Predominantes
Como características predominantes pode destacar-se o facto de estarmos perante uma aldeia simples, onde a emigração “rouba” à terra um grande número de residentes, facto que tem como consequência, uma baixa significativa no índice de mão-de-obra. O sector primário é o que predomina na aldeia e, dentro deste, a agricultura.
Locais Onde se Exerce a Actividade Profissional
Como atrás já referimos, o sector primário é o que reúne maior número de trabalhadores que exercem a sua actividade na agricultura. O sector secundário reúne um número pouco expressivo de trabalhadores, salientando-se o facto de estes serem, na sua totalidade, pessoas com idades que variam entre os vinte e os quarenta anos, portanto, dentro de uma faixa etária jovem. Por fim, temos o sector terciário que tem pouco significado, pertencendo uma parte ao ramo hoteleiro e, outra, ao comércio de bens de primeira necessidade.
Nível de Escolaridade: Sucesso/Insucesso Escolar
A população de Podence apresenta um nível de escolaridade bastante baixo, a maior parte da população apenas tem a quarta classe. Existem casos de completo analfabetismo em pessoas ainda relativamente novas, para não falar nas mais idosas em que o índice é altíssimo, atingindo números assustadores.
Na população mais jovem o nível de escolaridade sobe um pouco, embora ainda seja bastante baixo. Esta situação deve-se a questões que podemos considerar de luta pela sobrevivência, dado se tratar de jovens oriundos de famílias de fracos recursos económico-financeiros. Os pais, depois de concluírem a quarta classe iam trabalhar, uns na agricultura e outros emigravam situação que, de certa forma, é transmitida à geração mais nova.
Salvo raras excepções, estas pessoas para concluírem um ano de escolaridade precisavam de, pelo menos, dois anos e por vezes, mais. Chegavam a sair da escola crianças com catorze anos, mantendo-se alguns até essa idade, porque a lei a isso obrigava.
Ultimamente as novas gerações atingiram já, como meta, o nono ano (3ºciclo). Contudo, a média geral do nível de escolaridade, é a quarta classe.
Pode concluir-se, pelo atrás referido, que estamos perante um caso de alto nível de insucesso escolar.
Para futuro prevê-se, e ainda bem, uma subida do nível de sucesso, pelo facto, não só de começar a verificar-se uma melhoria das condições de vida em geral, como ainda, pelo regresso de alguns emigrantes à sua terra de origem.
Hábitos Culturais em Podence
Características Sócio-Culturais
A aldeia de Podence tem como característica sócio-cultural o facto de ser uma terra com vários usos, costumes e tradições juntando-se, praticamente todos os habitantes, para os festejar.
Uma outra característica reside no facto de a população apresentar uma grande homogeneidade na maneira de pensar, não só em termos políticos como também em termos religiosos
Rituais de Grupo
Podence é uma aldeia que se pode considerar rica em rituais de grupo, não só na parte religiosa como na profana.
Em termos religiosos destacam-se:
- A missa dominical, o mês de Maria, em que o terço é rezado colectivamente na igreja, a novena em honra da Nossa Senhora das Dores, a Via Sacra pelas ruas da aldeia por altura da Quaresma, a festa em honra de São Sebastião, a festa do Senhor, data em que realizam as primeiras comunhões, a festa em honra da Nossa Senhora da Purificação e a grande festa em honra de Santa Eufémia.
No tocante aos rituais profanos, temos:
- O aguerrido Carnaval, a fogueira de Natal, e o grandioso arraial realizado no Verão, na noite da festa de Santa Eufémia.
Podemos também considerar um ritual de grupo, toda a actividade agrícola, onde geralmente se juntam várias pessoas, como por exemplo na apanha da azeitona, da castanha, da batata e vindima.

Mariana Especiosa do Rosário
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

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