sábado, 12 de setembro de 2015

Uma perspectiva histórica da Máscara

Festa dos Rapazes 26-28 de dezembro
Constantim-Miranda do Douro
Descendo às suas origens, somos confrontados com a génese sagrada da máscara. Os Coreutas Gregos foram os primeiros a pintar a cara com borras de mosto e a cobrir o corpo com peles de bode, nas evoluções orquéstricas do ditirambo5.
A primeira máscara com características uniformes e pessoais foi a máscara de Sátiro. Com a criação da ficção e da tragédia, a máscara passou a caracterizar determinada personagem – Deus, titã, rei, entre outros. Foram estas e outras figuras, as grandes personagens das fábulas dramáticas do teatro grego.
No século de Aristóteles a máscara era apenas utilizada na comédia, uma vez que este considerava que a tragédia era um género destinado a louvar os deuses, os heróis, logo, onde a máscara não tinha lugar. “A comédia grega, anterior ao século IV a.C., que foi o século de Aristóteles, já fazia uso de um adereço denominado próssopou, derivado de próskê, significando falsa aparência ou transformação da aparência, que os gregos chamavam metaskêusa tisomai, quer dizer, o acto de alguém se disfarçar de outro, ou outra entidade. (…)
Aristóteles (Poética, 1449b) apresenta as duas principais finalidades da prossopa, uma delas a de servir de adereço para satirizar homens e personalidades inferiores, que era o objecto ou tema da comédia, pelo que no seu tempo, a máscara não teria uso na tragédia, género destinado a tecer o louvor dos deuses, dos heróis e das figuras míticas.” (Gomes: 2006, p. 9).
As máscaras que usavam eram esculpidas em vários materiais (barro, madeira, cortiça), deixando as órbitas e a boca abertas, sendo ainda coroadas e guarnecidas de abundantes cabeleiras, que o autor afivelava antes de entrar em cena e que, além de definir uma determinada pessoa da tragédia mantinha, imutável, uma certa característica. Quando os sentimentos da personagem mudavam do riso às lágrimas, ou à cólera, as máscaras eram substituídas e modificava-se a expressão conforme as necessidades da acção da cena.
Foi durante o século V que a máscara se aperfeiçoou, não só sob o ponto de vista estético – a sua confecção era entregue a escultores notáveis – como sob o ponto de vista mecânico. Com o avançar do tempo, as caraças, máscaras mais pequenas, trágicas ou cómicas convertem-se de simples ficção de tipos expressivos, em aparelhos de ressonância que avolumavam a voz humana e aumentavam a sua sonoridade. Gomes, afirma que: “A outra finalidade da máscara, que também já vinha, na Grécia, da mais arcaica antiguidade, era o que a própria palavra então significava – amplificador de som.” (2006: p. 10)
Mais tarde, também os romanos usavam nas suas representações teatrais esta espécie de aparelhos, embora os actores preferissem a voz natural.
Na Idade Média a máscara desapareceu quase completamente, sendo raramente encontrada, quer no teatro, quer nas cenas de vida. Os mistérios eram representados sem máscara, apresentando-se os actores com a sua própria fisionomia, modificada apenas por caracterizações rudimentares. Só em certas solenidades religiosas usavam máscaras, como nas procissões e, sobretudo, na célebre festa da Epifania, saturnal cristão em que se parodiava a liturgia e a hierarquia eclesiástica.
A máscara torna porém a reaparecer durante o Renascimento, não só como atributo inerente ao ritual da comédia e da tragédia, mas também como de uso corrente, sobretudo no traje civil do século XVI. É, no entanto, mais rudimentar e mais expressiva, não passando muitas vezes de uma ante-face de veludo, quase sempre negra, destinada a vedar os olhos, o nariz e parte do lábio superior.
Na Itália do Renascimento, o uso da máscara em certos meios foi tão corrente, como o uso das luvas. Mais tarde, até quase ao fim do século XVIII, em Veneza e em Florença, as damas da sociedade fizeram da máscara um objecto indispensável ao prestígio da vida elegante.
O Entrudo utilizou a máscara, não só para esconder a face, mas também para criar a ficção de certas personagens quase sempre caricaturais. O grande século da caraça carnavalesca foi o século XIX, com o seu entusiasmo pelas festas de Entrudo.

Mariana Especiosa do Rosário
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

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