Autor: Carlos Ferreira;. Título: Alforgicas 2013 |
"São aqueles que trabalham as máscaras a partir da madeira, que lhe definem as suas feições e lhes dão o aspeto mais adequado ao ritual onde a máscara vai ser usada. Cada máscara é diferente da sua antecessora e seu significado poderá não ser alterado", disse à Lusa Carlos Ferreira.
De um simples pedaço de madeira colhido em terras nordestinas poderá sair uma máscara solsticial, uma máscara com traços asiáticos, ou uma máscara de feições demoníacas com o cunho pessoal do artesão.
Exemplificando, se o artesão esculpir a máscara do chocalheiro de Bemposta ou de Vale de Porco, Mogadouro, cada uma terá sempre um cunho diferente do elemento (máscara) anterior utilizado nos rituais, mas o significado " mantem-se".
No total, Carlos Ferreira, já esculpiu cerca de 60 máscaras utilizando para o efeito madeiras nobres da região nordestina como o amieiro, o zimbro, cerejeira, azinheira, amoreira, cornalheira ou cortiça que se transformam em trabalhos "únicos e dignos de uma herança ancestral".
Filho de gente que gostava de esculpir ou também "rendilhar" um pedaço madeira, o artesão sendinês começou, por volta do ano de 2000, a elaborar máscaras que agora estão pela primeira vez estão expostas ao público no Ecomuseu do Barroso, em Montalegre.
O título escolhido para esta primeira exposição de máscaras de Carlos Ferreira surge como MÁSCARAS DOS DIABOS (Terra de Miranda ao Barroso).
"Os rituais que envolvem mascarados em terras transmontanas e durienses estão envolvidos culturalmente nas sociedades agro-pastoris de alguns milhares de anos atrás e que ocuparam o território que hoje se confina à Península Ibérica", explicou.
Do ponto de vista ambiental, o artista também tem a noção de que preciso preservar as espécies de madeira autóctones como zimbro e, por esse motivo, "há sempre muito cuidado em fazer a seleção dos pedaços que vão ser trabalhados e transformados".
Carlos Ferreira garante que enquanto observa a madeira que vai dar origem às máscaras, estas já estão ser "idealizadas" na sua cabeça.
"Deixo-me envolver pelo trabalho de construção de máscaras, desde a colheita da madeiras e muitas vezes pela noite dentro acabando por perder a noção do tempo", acrescentou.
Todas as máscaras do artista sendinês ostentam nomes curiosos vernáculos como Cornudo, Chino, Serpenteiro, Berrão, Beche, Prouíta, Maronesa, ou Bísaro, entre outros.
"Estes nomes fazem parte integrante da ruralidade a transmontana, associada às suas lendas e rituais de passagem o iniciação", frisou.
Em Trás-os-Montes, os múltiplos rituais com máscara, perpetuam-se desde a aurora dos tempos: enraízam na velha sociedade agro-pastoril pré-romana, fazendo percurso que já atravessou três milénios, marcando a cultura local e contendo elementos diferenciadores.
A construção de uma máscara poderá levar cerca de 60 horas e o seu preço poderá variar entre os 70 e os 300 euros.
As máscaras deste artesão podem ser apreciadas através da internet em https://www.facebook.com/carlosferreiramascarastransmontanas e http://www.latenerie.com/
FYP // JGJ
Lusa/fim
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