Por: Fernando Calado
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Hoje é domingo. Não há Missa. Os velhos padres desdobram-se em mil trabalhos no desespero de juntar um rebanho cada vez mais disperso e que falece na solidão e abandono da aldeia.
Por isso, neste dia do Senhor, neste dia do grande Arquitecto do Universo, vou falar de milagres, da construção que não sabemos quando começou, nem quando terminará.
Vivo numa modesta casa a Nordeste, pela terceira vez reconstruida. Nunca me lembro, desde garoto, conhecedor de todos os recantos e novidades da aldeia que nesta casa tivesse existido um ninho de andorinha. Noutras casas sim… e às centenas…
Mas acontece que nas longas noites de Invernia eu tenho o hábito de falar, no mais sentido monólogo, com aqueles que já são intemporais e já partilham o infinito do universo e pergunto muitas coisas importantes, outras banais, como por exemplo, porque nesta casa nunca tinha havido um ninho… e ficava tão bonito!...
. As respostas nascem sempre dentro do meu coração criador de sonhos e de miragens.
... e recordo-me de tu teres dito, antes de partires: - Ali ficava bem um ninho!
Mas este ano, quando menos esperava, um casal de andorinhas labutou durante uma semana e meia para me oferecer o ninho tão desejado. E o ninho lá está, tal e qual como eu o tinha sonhado, no beiral da minha casa.
As lágrimas foram muitas e recatadamente assisti à Missa mais solene em tempo de milagres.
Milagre?! Não, talvez a natureza no seu melhor cumprindo o seu desígnio criador.
Contudo, fecho os olhos e serenamente ouço todos aqueles que já partiram comentarem meigamente uns com os outros:
- Vá lá… vamos dar um ninho ao garoto!
... mais uma singela prenda das tantas que me têm dado... não me queixo da vida!
E todo o Universo sorriu de contentamento!
… e foi assim!
Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança.
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.
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